Blog do IFZ | 28/11/2024
Veja o Mapa da Desigualdade da cidade de São Paulo
A expectativa de vida na cidade de São Paulo revela um contraste gritante entre bairros, destacando como o endereço pode determinar o tempo de vida dos moradores. No distrito de Anhanguera, na zona noroeste, a média de idade ao morrer é de apenas 58 anos, 24 anos a menos do que no Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste, onde a expectativa de vida chega a 82 anos. Este cenário, que se mantém inalterado desde 2006, reforça a urgência de políticas públicas mais eficazes voltadas para as áreas mais vulneráveis.
Os dados fazem parte do Mapa da Desigualdade de São Paulo 2024, lançado nesta quarta-feira (27) pela Rede Nossa São Paulo. O relatório utiliza 10 indicadores — como saúde, habitação, trabalho e renda, mobilidade, segurança pública e meio ambiente — para avaliar as desigualdades entre os 96 distritos do município. Todas as informações são baseadas em dados oficiais.
Expectativa de vida: um retrato das desigualdades
Para Clara Cabral, coordenadora de Gestão do Conhecimento do Instituto Cidades Sustentáveis, a expectativa de vida é um dos indicadores mais abrangentes, refletindo múltiplas dimensões da qualidade de vida. “Ele dá pistas sobre diversos outros índices. É semelhante ao que observamos em indicadores como gravidez na adolescência, que também evidenciam diferenças sociais profundas”, explica.
A gravidez precoce é um exemplo de como a desigualdade afeta diretamente as perspectivas de vida. No distrito de Parelheiros, na zona sul, o problema é recorrente, limitando oportunidades educacionais e profissionais para jovens mães. Já no Alto de Pinheiros, o cenário é oposto.
Favelas e habitação precária
A análise também revela disparidades no acesso à moradia. Vila Andrade, na zona sul, concentra 35% dos domicílios em favelas, enquanto dez distritos nobres, como Moema, Jardim Paulista e Alto de Pinheiros, não possuem nenhuma comunidade desse tipo.
Violência contra a mulher e homicídios
Outro dado alarmante é a violência contra a mulher. O distrito da Sé, no centro, registra 881,92 pontos no índice de violência contra a mulher, enquanto Vila Andrade soma 132,94 pontos. No entanto, Clara ressalta que a diferença na distribuição de delegacias especializadas impacta esses números, tornando mais difícil para as vítimas em áreas periféricas denunciarem e quebrarem o ciclo de violência.
Já os casos de homicídio variam drasticamente: na Barra Funda, a taxa é de 18,16 por 10 mil habitantes, enquanto no Campo Limpo, é de 0,36. Essa discrepância de 51 vezes reflete o abismo entre os distritos em termos de segurança.
O ciclo perverso da desigualdade
Para Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, os números refletem um “ciclo perverso de desigualdade”. Ele aponta que fatores como longas horas gastas em transporte, precariedade habitacional e falta de acesso a internet encurtam não apenas a vida das pessoas, mas também limitam sua interação social, criatividade e acesso a cultura e lazer.
“O Mapa da Desigualdade é um alerta para que políticas públicas sejam implementadas de forma mais equitativa, promovendo melhores condições de vida para todos os moradores da cidade”, conclui.
Moradores da periferia de São Paulo vivem 20 anos a menos e desigualdade é a mesma desde 2006
Base histórica do indicador ‘Idade Média ao Morrer’ mostra que, no geral, a população da capital vive mais, mas diferença entre bairros ricos e pobres continua alta e inalterada há quase duas décadas
Rede Nossa São Paulo | 27/11/2024
A Rede Nossa São Paulo lançou o Mapa da Desigualdade de São Paulo 2024 nesta quarta-feira, 27 de novembro, em evento presencial e gratuito no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. O estudo apresenta 10 indicadores dos 96 distritos da capital paulista, divididos em diferentes áreas temáticas: saúde, habitação, trabalho e renda, mobilidade, direitos humanos, cultura, esportes, infraestrutura digital, segurança pública e meio ambiente.
Produzido há mais de 10 anos, o Mapa da Desigualdade de São Paulo mostra a oferta de serviços e infraestrutura urbana em cada distrito da cidade, além de dados que refletem a qualidade de vida da população nessas localidades. Desse modo, é possível observar a desigualdade entre os territórios da capital em diferentes temas e indicadores, e apontar os desafios e prioridades de investimento do poder público.
O evento contou com o debate com a presença de Thiago Amparo, advogado, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP e doutor pela Central European University (Budapeste); Marina Helou, deputada estadual de São Paulo (Rede); Marília Roggero, coordenadora de Avaliação e Gestão da Informação – SEPEP/Secretaria de Governo – Prefeitura de São Paulo e Thiago de Oliveira Chaves, analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental. A mediação foi feita por Manoela Cruz, cientista social e ex-conselheira municipal de promoção da igualdade racial.
Série histórica do indicador ‘Idade Média ao Morrer’
Neste ano, a principal novidade é o levantamento da base histórica do indicador Idade Média ao Morrer, abrangendo o período de 2006 a 2023. O trabalho traz a evolução da média geral da cidade e os dados dos distritos que apresentam o melhor e o pior desempenho no mapa de 2024: Alto de Pinheiros (82 anos) e Anhanguera (58 anos). Na média geral, os moradores da capital vivem seis anos a mais do que há 17 anos. Quando se observa a diferença entre os dois distritos ao longo do tempo, porém, a desigualdade permanece inalterada no período, como mostra o gráfico abaixo:
A Nossa São Paulo elaborou também a projeção linear do indicador em ambos os distritos, com base nos dados coletados. O resultado mostra que Anhanguera atingirá uma idade média ao morrer de 82 anos por volta do ano 2065, ou seja, em 40 anos. Essa previsão é aproximada e considera a tendência atual sem intervenções significativas para acelerar a melhoria das condições de saúde e qualidade de vida no distrito. Já Alto de Pinheiros apresenta uma tendência de aumento anual médio neste indicador de aproximadamente quatro meses.
Veja abaixo alguns indicadores do Mapa da Desigualdade de São Paulo 2024:
1. Idade média ao morrer
Média de idade (em anos) das pessoas que morreram (de acordo com o local de residência)
Maior valor
Alto de Pinheiros – 82 anos
Menor valor
Anhanguera – 58 anos
2. Favelas
Proporção (%) estimada de domicílios em favelas em relação ao total de domicílios
Menor valor
10 distritos não têm nenhum domicílio em favela: Alto de Pinheiros, Perdizes, Jardim Paulista, Moema, Bela Vista, Sé, República, Consolação, Cambuci e Bom Retiro.
Maior valor
Vila Andrade – 35% dos domicílios
3. Gravidez na adolescência
Proporção (%) de nascidos vivos de parturientes com menos de 20 anos de idade em relação ao total de nascidos vivos do distrito
Menor valor
Alto de Pinheiros – 0%
Maior valor
Parelheiros – 11%
4. Tempo médio de deslocamento por transporte público
Em minutos, no pico da manhã. Média ponderada do tempo de viagem estimado das viagens realizadas pelos usuários de cada distrito
Menor valor
Pinheiros – 25 minutos
Maior valor
Marsilac – 71 minutos
5. Remuneração média do emprego formal
Massa salarial nominal (R$) ÷ Número absoluto de empregos formais
Maior valor
São Domingos – R$ 8.515,29
Menor valor
Artur Alvim – R$ 2.200,70
6. Equipamentos públicos de cultura
Proporção (%) de equipamentos públicos de cultura (municipais), para cada cem mil habitantes, por distrito
Maior valor
República – 25%
Menor valor
24 distritos – 0% (Jaguara, Belém, Jardim Paulista, Barra Funda, Campo Grande, Vila Leopoldina, Jaguaré, Saúde, Perdizes, Santa Cecília, Cambuci, Campo Belo, Ponte Rasa,
Vila Andrade, Vila Sônia, Aricanduva, Vila Medeiros, Cidade Dutra, Brás, Rio Pequeno, Marsilac, Iguatemi, Vila Matilde e Pedreira)
7. Equipamentos públicos de esporte
Número de equipamentos esportivos públicos (municipais e estaduais) de esporte para cada dez mil habitantes, por distrito
Maior valor
Pari – 1,55
Menor valor
12 distritos – 0 (Pinheiros, Jardim Paulista, Bela Vista, Morumbi, Consolação, Sé, Alto de Pinheiros, Vila Leopoldina, Saúde, República, Brás e Marsilac)
8. Violência racial
Coeficiente de pessoas vítimas de violência de racismo e injúria racial para cada dez mil habitantes, por distrito
Menor valor
Campo Limpo – 0,36
Maior valor
Barra Funda – 18,36
Publicado pela Rede Nossa São Paulo
https://www.nossasaopaulo.org.br/2024/11/27/moradores-da-periferia-de-sao-paulo-vivem-20-anos-a-menos-e-desigualdade-e-a-mesma-desde-2006/