Blog do IFZ | 20/04/2025
Publicado em fevereiro de 2025 pela Agência de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), o relatório As Mudanças Climáticas nas Paisagens Rurais — Soluções Sistêmicas para um Futuro Sustentável apresenta uma análise abrangente sobre os impactos da crise climática nas áreas rurais e propõe soluções interligadas para construir um futuro sustentável, resiliente e justo. O documento é fruto da colaboração entre especialistas da GIZ e da consultoria FAKT, e estrutura suas propostas em quatro áreas estratégicas de intervenção, com base em princípios de justiça climática, inclusão e sustentabilidade.
A publicação parte da constatação de que as populações rurais estão entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas. Eventos extremos, como secas, tempestades e chuvas irregulares, combinam-se com fatores estruturais — como desigualdade no acesso à terra e aos recursos, marginalização política e econômica e degradação ambiental — para tornar a vida no campo cada vez mais difícil, especialmente para pequenos produtores, mulheres, povos indígenas e jovens. Nesse contexto, o relatório destaca que não é mais possível separar a questão ambiental da social: qualquer estratégia de adaptação ou mitigação climática deve, obrigatoriamente, considerar a equidade e a participação.
A força do relatório está na defesa de soluções sistêmicas, intersetoriais e contextualizadas. Em vez de ações pontuais, ele propõe uma transformação profunda das paisagens rurais, partindo de quatro eixos integrados: governança rural, manejo sustentável da terra e dos recursos naturais, promoção econômica e do emprego rural, e melhorias em serviços e infraestrutura. Cada um desses pilares é ilustrado com exemplos concretos de projetos implementados em diferentes países, oferecendo evidências de que a transformação é possível e viável.
No campo da governança rural, o texto enfatiza a importância de processos participativos na gestão da terra, envolvendo desde governos locais até organizações da sociedade civil e o setor privado. O exemplo da Ásia Central, onde cinco países cooperam em estratégias integradas de uso do solo adaptadas ao clima, mostra o potencial da cooperação regional e da inclusão de saberes tradicionais para lidar com desafios comuns.
O segundo pilar — manejo sustentável da terra e dos recursos — explora soluções baseadas na natureza, como a restauração de manguezais e a proteção de ecossistemas ricos em carbono. Essas ações geram benefícios múltiplos: conservam a biodiversidade, aumentam a resiliência das comunidades e contribuem para a mitigação climática. A integração de conhecimento indígena com inovações técnicas é apresentada como uma condição essencial para o sucesso dessas abordagens.
No eixo da promoção econômica e do emprego rural, o relatório propõe a diversificação de fontes de renda e o fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis. A iniciativa Water-Energy-Food Nexus, por exemplo, combina irrigação solar, dessalinização e bioenergia para promover segurança alimentar, gerar empregos e conservar recursos naturais. Esses sistemas integrados não apenas aumentam a produtividade, como fortalecem as economias locais e reduzem as desigualdades.
Já na área de serviços e infraestrutura, destaca-se o papel da digitalização e do acesso à informação climática como ferramentas de adaptação. O projeto E-PICSA, em Zâmbia e Malawi, oferece aconselhamento digital para agricultores, permitindo decisões mais informadas sobre cultivo em meio a riscos crescentes. Além disso, investimentos em infraestrutura adaptada ao clima — como sistemas de refrigeração eficientes e rotas logísticas curtas — são apontados como estratégias para fortalecer a economia circular rural e reduzir perdas pós-colheita.
Como proposta transversal, o relatório apresenta a agroecologia como um paradigma que sintetiza os quatro eixos de intervenção. Ao fortalecer organizações sociais, valorizar a biodiversidade local, promover economias circulares e sistemas alimentares locais, a agroecologia é colocada como o caminho mais promissor para uma transformação rural justa e sustentável. O exemplo da Índia, onde práticas agroecológicas estão sendo integradas a políticas públicas estaduais e nacionais, reforça a viabilidade dessa abordagem em larga escala.
No plano internacional, o relatório destaca como as soluções propostas se alinham com os compromissos dos três principais tratados ambientais da ONU: a Convenção do Clima (UNFCCC), a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e a Convenção de Combate à Desertificação (UNCCD). A atualização de Planos Nacionais de Adaptação, Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e estratégias de biodiversidade são vistas como oportunidades para ampliar a ambição climática a partir da perspectiva rural.
Em termos de recomendações, o relatório é claro: a resposta à crise climática nas áreas rurais exige uma mudança de paradigma. Os governos devem investir em abordagens integradas, que combinem adaptação e mitigação com justiça social. É necessário garantir direitos à terra, ampliar a participação social, promover a inclusão de grupos marginalizados e integrar conhecimento tradicional com inovação técnica.
Finalmente, a principal mensagem do relatório é que o futuro das paisagens rurais dependerá de decisões tomadas hoje. Com planejamento participativo, financiamento adequado, compromisso político e ação coordenada, é possível transformar as áreas rurais em espaços resilientes, produtivos e justos — essenciais para enfrentar a crise climática global e garantir a segurança alimentar da humanidade.
Fonte: As Mudanças Climáticas nas Paisagens Rurais — Soluções Sistêmicas para um Futuro Sustentável, Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), fevereiro de 2025. Disponível em: “Climate Change in Rural Landscapes: Systemic Solutions for a Sustainable Future“
