Blog do IFZ | 02/06/2025
Baixe aqui o livro “Água para colher Futuro: 20 anos do Programa Cisternas“
Sob o sol implacável do Semiárido, onde a paisagem muitas vezes parece desmentir a promessa de um amanhã, milhões de brasileiros aprenderam, gota a gota, a transformar a escassez em resistência. É sobre essas vidas, essas histórias e essa política pública que o livro “Água para colher futuro: 20 anos do Programa Cisternas“ se debruça com a sensibilidade de quem escuta as vozes que nascem da terra rachada.
Mais do que uma coletânea de dados e depoimentos, a obra é uma ode à dignidade humana, ao direito fundamental à água potável, e a um Brasil profundo que por muito tempo foi negligenciado. Ao longo de suas páginas, constrói-se um retrato vívido e comovente de um dos programas mais transformadores da história recente do país, responsável por devolver a esperança — e a autonomia — a mais de um milhão de lares.
A primeira gota
“Só não sabe o valor de uma cisterna quem nunca sofreu os flagelos da seca e da sede”, escreve o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na apresentação do livro. A lembrança da infância sertaneja, quando caminhava quilômetros sob o sol para buscar água barrenta, ecoa como símbolo do Brasil que o Programa Cisternas se propôs a transformar. A cisterna, aqui, não é apenas um reservatório — é a fronteira entre a sobrevivência e a dignidade.
O livro é, portanto, mais do que uma celebração das 1,3 milhão de cisternas instaladas até 2024. É a narração de um caminho trilhado com os pés descalços de quem precisou carregar a própria água na cabeça, mas também com a inteligência coletiva de um país que soube escutar suas comunidades e construir, em parceria com a sociedade civil, um novo modelo de política pública.
A água como direito, não como favor
No prefácio assinado pelo ministro Wellington Dias, o tom é de convocação ética e política. “Garantir água de qualidade na casa das pessoas é garantir cidadania”, afirma. Em um mundo em emergência climática e com desigualdades históricas acumuladas, o acesso à água torna-se mais do que necessidade — é o próprio alicerce da justiça social.
E o livro deixa isso claro: a água não serve apenas para matar a sede. Ela alimenta lavouras, fortalece a agricultura familiar, permite às mulheres abandonar a rotina exaustiva da coleta e se dedicar à produção e à renda. É o elo que conecta políticas públicas de segurança alimentar, combate à pobreza, saúde e educação. Cada cisterna, assim, representa uma engrenagem nesse ecossistema de emancipação.
A ciência das soluções simples
Apesar de sua aparente simplicidade, as cisternas são fruto de um profundo saber técnico e comunitário. O livro mostra como essas tecnologias sociais — cisternas de placas, calçadões, barragens subterrâneas, banheiros com fossas biodigestoras na Amazônia — foram pensadas a partir do território, com participação ativa da população beneficiada. Recusando soluções “de cima para baixo”, o Programa se enraizou porque soube aprender com quem já vivia ali.
Esse caráter participativo é um dos fios condutores da publicação. “As cisternas nos ensinam que para se construir resultados é preciso trabalhar coletivamente”, destaca o texto de apresentação. A obra reconhece o papel das organizações da sociedade civil, em especial da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e a sinergia com instâncias federais, estaduais e municipais, numa coprodução de política pública rara em sua robustez.
Água contra a fome e contra o colapso climático
Num país onde 3,9% da população ainda vive em subalimentação — e onde os efeitos das mudanças climáticas se intensificam com secas severas no Nordeste e estiagens históricas na Amazônia — o Programa Cisternas se revela não apenas necessário, mas urgente.
O livro escancara, com dados e imagens, a injustiça climática que recai sobre os que menos contribuíram para a crise ambiental. As cisternas, nesse contexto, emergem como uma das mais eficazes ferramentas de adaptação. Não apenas mitigam o sofrimento humano, como fortalecem as comunidades para enfrentar os eventos extremos que se tornam cada vez mais frequentes.
Histórias que correm como rios subterrâneos
Ao longo das páginas, o leitor encontra depoimentos de beneficiários, como o de Valdadino Leilis da Conceição, de Manicoré (AM), que narra a construção coletiva dos banheiros e sistemas pluviais na comunidade. Vozes como a sua são o pulso vivo do livro. Cada história registrada é uma pequena epifania do cotidiano, um lembrete de que políticas públicas bem desenhadas podem, sim, mudar o destino das pessoas.
Um convite à continuidade
Se o livro é uma celebração dos 20 anos do Programa, é também um chamado para o futuro. Com o retorno dos investimentos federais, o desafio agora é expandir a política para os territórios indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais ainda não alcançados. Como se lê nas entrelinhas, não há tempo a perder.
O caminho já está desenhado, a experiência acumulada e as tecnologias testadas. Falta apenas a decisão política de seguir adiante, com a mesma coragem que iniciou essa jornada. Como diz o título do livro, é hora de colher o futuro — e ele começa com cada gota que chega à casa de quem, antes, só conhecia a sede.
📘 “Água para colher futuro: 20 anos do Programa Cisternas” é uma publicação do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, em parceria com a Fiocruz e a Zabelê Comunicação. A obra está disponível gratuitamente em formato digital.
