Proteção Social Adaptativa e ação antecipatória: a visão da FAO e suas conexões globais

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Blog do IFZ | 15/09/2025

A emergência climática transformou a forma como entendemos a proteção social. Se antes ela era vista principalmente como um colchão de segurança contra a pobreza e a fome, hoje está cada vez mais evidente a necessidade de integrá-la às políticas de adaptação climática, gestão de riscos e fortalecimento da resiliência comunitária. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) tem desempenhado um papel central, promovendo a ideia de proteção social adaptativa e de ação antecipatória como pilares para enfrentar choques cada vez mais frequentes e severos.

A lógica da proteção social adaptativa

Para a FAO, proteção social adaptativa é muito mais do que garantir transferências de renda ou acesso a alimentos. Trata-se de construir sistemas capazes de absorver choques, prevenir perdas e transformar realidades vulneráveis. Isso significa que os programas de proteção social precisam ter flexibilidade para responder a diferentes riscos — de secas prolongadas a enchentes repentinas — e, ao mesmo tempo, criar condições para que famílias e comunidades consigam se adaptar às mudanças estruturais impostas pelo clima.

Essa visão contempla:

  • expansão adaptativa de programas já existentes em momentos de crise, seja pelo aumento do valor dos benefícios, seja pela inclusão temporária de novos grupos;
  • integração de políticas sociais e agrícolas, fortalecendo a agricultura familiar, as cadeias curtas de abastecimento e a alimentação escolar;
  • uso de sistemas de alerta precoce e dados climáticos para orientar decisões de proteção social, permitindo agir antes que os impactos se materializem.

A importância da ação antecipatória

A ação antecipatória é talvez o aspecto mais inovador da abordagem da FAO. Ela consiste em agir antes da crise, quando os sistemas de monitoramento climático indicam que o risco ultrapassou certos gatilhos. Em vez de esperar que a seca arruíne plantações ou que a enchente desabrigue comunidades, os recursos podem ser liberados com antecedência, por meio de transferências em dinheiro, fornecimento de ração animal, distribuição de sementes resistentes ou entrega de kits de proteção.

Pesquisas apoiadas pela FAO mostram que cada dólar investido antecipadamente pode economizar vários dólares em ajuda humanitária posterior. Além disso, famílias conseguem manter seus meios de subsistência, evitar estratégias prejudiciais — como a venda de bens produtivos ou a retirada de crianças da escola — e se recuperar mais rapidamente após a crise.

Exemplos práticos

No Chifre da África, a FAO implementa projetos em que dados meteorológicos acionam automaticamente mecanismos de apoio a agricultores e pastores. Na Ásia, programas de transferência de renda baseados em previsões de ciclones ajudam comunidades costeiras a se preparar para evacuações e proteger seus bens. Já na América Latina, experiências de integração entre proteção social e agricultura familiar mostram como a compra de alimentos locais para a merenda escolar pode ser ajustada em períodos de crise climática, beneficiando tanto produtores quanto estudantes.

Essas experiências demonstram que a proteção social, quando combinada à gestão de riscos e a uma lógica antecipatória, deixa de ser apenas uma resposta emergencial e se transforma em estratégia de desenvolvimento resiliente.

Conexões com o ASPIRE/IIED

Nesse debate, ferramentas como o ASPIRE (Anticipatory Social Protection Index for Resilience), desenvolvido pelo IIED, oferecem uma contribuição complementar. O índice avalia até que ponto programas sociais estão preparados para enfrentar choques climáticos, levando em conta dimensões como cobertura, adequação dos benefícios, custo-benefício e alcance.

Enquanto a FAO se concentra na implementação prática da proteção social adaptativa, o ASPIRE propõe indicadores para medir prontidão e eficácia. Ambas as iniciativas caminham em sintonia e reforçam a necessidade de que programas sociais sejam inclusivos, flexíveis e capazes de agir com antecedência diante dos riscos climáticos.

A FAO defende que a proteção social adaptativa seja reconhecida cada vez mais como parte essencial das estratégias nacionais de adaptação climática e segurança alimentar. Ao mesmo tempo, ferramentas como o ASPIRE podem apoiar governos na identificação de lacunas e no aprimoramento de políticas públicas.

Fontes: FAO e International Institute for Environment and Development