BNDES fará estudo sobre condições de armazenamento da Conab
Por Estela Benetti no NSC Total | 07/05/2023
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai voltar a fazer estoques de alimentos visando atender ao mercado quando há redução de produtos, para equilibrar preços e evitar inflação. A informação é do novo presidente da companhia, Edegar Pretto, que assumiu há pouco mais de um mês e meio o cargo e esteve na Grande Florianópolis sexta-feira (5) para empossar o superintendente estadual da empresa, Marcos Yoshio Saito.
Segundo ele, o BNDES fará um estudo sobre a atual condição de armazenamento de grãos da Conab no Brasil para avaliar o que está bem, o que precisa de reformas e o que deve ser vendido. Também serão estimados os investimentos necessários.
De acordo com o presidente, a prioridade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva será para a agricultura familiar. O Plano Safra 2023-2024 será lançado dia 30 deste mês e virá com uma linha especial para apoio financeiro às pequenas propriedades produtoras de alimentos.
João Edegar Pretto é ex-deputado do PT no Rio Grande do Sul e na última eleição (2022), foi o candidato a governador do partido, tendo ficado em terceiro lugar. Na sexta-feira, em SC, ele foi recebido pelo coordenador do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em SC, ex-ministro José Fritsch, o coordenador do Incra no Estado, Dirceu Dresch e a deputada federal Ana Paula Lima (PT), entre outras lideranças. Leia a íntegra da entrevista de Edegar Pretto, para a coluna:
A falta de estoque regulador de grãos no Brasil tem preocupado agroindústrias. A China, por exemplo, faz estoque gigante, comprando boa parte do Brasil. O novo governo pensa em voltar a fazer estoques reguladores de grãos?
– O presidente Lula decidiu que a Conab, além de continuar prestando todas as políticas que prestou até aqui para o agronegócio, para agricultura brasileira, vai ter um olhar muito atencioso, concentrar suas energias na agricultura familiar. Por isso então a decisão do presidente de deixar a Conab ancorada agora no novo ministério que é do Desenvolvimento Agrário.
A Conab é uma grande empresa. É a maior companhia de abastecimento da América Latina, tem 3.500 servidores e superintendências em todos os estados. Aqui em Santa Catarina, o novo superintendente é Marcos Saito.
A Conab vai voltar a cumprir o seu papel, entre eles é a formação de estoques públicos. É a Conab que tem essa possibilidade pela capacidade também de armazenamento. Nós temos 64 unidades armazenadoras espalhados pelo país.
Algumas delas deterioradas, que precisam de investimentos para a gente recuperá-las. Nós vamos recuperar a capacidade de armazenamento da Conab para, justamente, cumprir com um dos principais papéis, que é fazer essa regulação entre o produtor e o consumidor.
A Conab, pela capacidade estrutural de armazenamento, quando tem uma supersafra de determinados produtos, ela pode e deve fazer estoques públicos. E no momento que faltar esse produto e subiu o preço nas prateleiras dos supermercados e ficar muito caro determinados produtos para consumidor, a Conab esvazia seus estoques e coloca o seu produto no mercado.
A Conab deixou de cumprir esse papel nos últimos anos. Especialmente nos últimos seis anos e o resultado é o que nós estamos vendo: a inflação geral nos últimos quatro anos foi de 30% e a inflação dos alimentos foi de 57%. A inflação dos alimentos foi quase o dobro da inflação média geral, por isso que hoje quase a metade da população brasileira está inadimplente, gastando o seu salário no supermercado e tendo que financiar o rancho todos os meses.
Então, nós vamos enfrentar dois temas que estão entre os principais compromissos do presidente Lula: a inflação dos alimentos e, principalmente, colocar na mesa, de quem está faltando, o pão de cada dia, que não são poucos: são 33 milhões de brasileiros que dormem e acordam com fome todo santo dia.
E o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar, que é um dos principais programas que a Conab vai operacionalizar, volta com muita força. É justamente a gente dar viabilidade econômica para o agricultor produzir comida, garantir preço mínimo porque a Conab também estabelece preço mínimo, garantir a compra ou para estoque ou para fazer entrega simultânea.
E também a gente alcançar esse básico para que logo a gente possa ver o presidente Lula anunciando para o mundo que o Brasil erradicou a fome outra vez. Então estoques públicos estão no nosso radar.
Obviamente, tem toda uma construção de uma caminhada que precisa ser feita que é a gente tem uma potente política de reestruturar os nossos armazéns, viabilizar economicamente para a gente aumentar oferta na produção de alimentos. Isso, vai na política pública.
Nós vamos começar agora na elaboração do Plano Safra, que possivelmente será lançado agora no dia 30 desse mês. O Fritsch vai estar lá no encontro conosco dia 29, com todos os superintendentes do Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil.
No dia seguinte, a gente lança o Plano Safra e vamos ter uma política específica para o agricultor familiar, que produz comida com juro diferenciado. Não temos ainda percentual. Eu não posso adiantar, obviamente, mas teremos um juro compensador para quem produz comida, a gente dá viabilidade.
A Conab faz previsão de safra. Na semana retrasada, eu anunciei a previsão de safra para esse ano. O Brasil vai aumentar 15% a nossa a nossa colheita de grãos.
O país terá uma supersafra em 2022-2023?
Será uma supersafra. A previsão é que a gente colha 312 milhões de toneladas de grãos, a maior safra que tivemos até aqui. Por outro lado, nós estamos com problema que a menor safra de arroz dos últimos 23 anos. É a menor lavoura de feijão plantada desde 1988. E assim é na mandioca, assim é nas hortaliças. Então, o que é o produto básico dos brasileiros, nós precisamos incentivar porque que está caindo a produção.
Quais produtos vocês vão tentar fazer estoque regulador? Há poucos anos, houve falta de arroz e de milho e os preços ficaram altos…
– Uma notícia boa que eu trago para Santa Catarina é que a previsão de safra de milho também vai ser recorde. Dos 312 milhões de toneladas de grãos, 124 milhões de toneladas serão de milho, o que, para Santa Catarina, é muito importante.
Santa Catarina é o maior produtor de suíno, o segundo maior produtor de aves para o mercado interno e para exportação e o principal produto da ração animal é o milho.
Isso, na minha opinião, vai ter um impacto diretamente no preço da carne. Gravei hoje (sexta-feira) um áudio para a Voz do Brasil, do governo federal, fazendo o anúncio da segunda queda consecutiva do preço da carne. Isso tem um impacto muito positivo para os consumidores. Nós estamos de olho também nessa cadeia produtiva da carne.
Agora, no Plano Safra, a gente tem que ter uma política também atenciosa para a questão da proteína animal porque é um setor que, economicamente, é muito importante para nós. Então o estoque do milho é muito importante para subsistência, para a agricultura familiar, para a criação, especialmente para a produção da proteína animal.
Estamos melhorando também a parte da informação da Conab. A Conab faz uma previsão de safra fruto de um estudo muito apurado, com uma equipe técnica altamente qualificada. Mas a gente prevê, por exemplo, a safra de milho em Santa Catarina. Estipula qual é o montante da nossa safra.
O problema é que, muitas vezes a gente prevê a safra, mas parte dela já tá vendida. Aí a gente não sabe mensurar quanto não vai ficar aqui (no mercado nacional).
Então, nós temos que ter e vamos ter, pela Conab, além da previsão da safra, quanto desse produto vai permanecer aqui no mercado interno para gente poder fazer previsão também.
Se vai faltar milho em Santa Catarina, a gente já fica olhando no Paraná no Rio Grande do Sul para otimizar o tempo e o recurso também quando a gente tiver que trazer um produto para cá.
Esse foi outro problema em anos recentes. O Brasil produziu mais milho e, daqui a pouco, estava tudo exportado. Aí as agroindústrias tiveram que começar a importar. A Conab poderá fazer estoques? O setor privado também?
– Todos podem fazer estoques, mas a Conab é que responde pelo governo, pelo poder público. Ela tem que ter essa responsabilidade de garantir essa tranquilidade, especialmente para os criadores.
Falei do milho, mas também é a mesma coisa para a soja e o arroz. O arroz está concentrado em torno de 70% no estado vizinho aqui, o Rio Grande do Sul. Tem diminuído a área plantada de arroz. Cada ano a gente perde muitos hectares de arroz, muitos hectares de feijão justamente por isso. Os governos abandonaram política agrícola, política pública para a agricultura familiar.
Então, mesmo o agricultor familiar que tem aptidão, que tem característica de produzir de uma forma diversificada, ele vai migrando para a monocultura de exportação porque ele precisa se viabilizar economicamente. Então, no nosso Brasil, na nossa Região Sul, a gente olha para o campo agrícola parece lavoura de uma cultura só. Vai aumentando a nossa produção, mas diminui a diversidade, que é importante para a nossa soberania alimentar e nutricional.
Vocês acreditam que com crédito e preço o produtor pode voltar a produzir mais arroz e feijão, por exemplo?
– Essa é a ideia. Nós queremos garantir para todos os agricultores familiares que optarem por produzir comida, eles vão ter viabilidade econômica. Nós vamos garantir isso com políticas de crédito com juros subsidiados, garantir a compra. E a compra a gente garante para programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para fazer estoques públicos. A gente da viabilidade econômica para produção de comida, para aumentar a oferta e impactar no preço do supermercado.
A Conab fez algum estudo sobre qual é a necessidade de investimentos para reforma de armazéns?
– Eu estive no BNDS semana retrasada. Estamos contratando com o BNDES um estudo de viabilidade das nossas unidades armazenadoras. Parte delas, porque não tiveram uso nos últimos anos, estão precisando de investimentos.
Então faremos esse estudo com o BNDES. Quais as unidades que estão em viabilidade? Quais que precisam de investimento? Quais não são mais viáveis a receber investimentos porque estão em centros de cidade onde antigamente era perímetro rural e, agora, é perímetro urbano e nem é mais possível fazer uso para armazenamento.
A gente vai fazer uma organização para ver o que é mais vantajoso se desfazer para fazer investimentos em outros locais. Nós vamos investir em armazéns públicos. O que não tiver de armazém público, a Conab pode contratar.
A Conab pode vender uma área em cidade para investir em outro local?
– É exatamente esse estudo que o BNDES vai nos assessorar. O certo é que teremos uma
política ofensiva positivamente para o nosso campo agrícola brasileiro de uma forma geral. Ninguém vai ficar para trás, mas a Conab vai também centrar suas energias no aumento da produção de alimentos.
A Região Sul tem boa capacidade de armazenagem de grãos?
– Nós temos grandes áreas de armazenamento na Região Centro-Oeste. Goiás é onde mais temos área de armazenamento. Então, essa também é a forma do desenho que nós precisamos ter. Onde está faltando onde temos de sobra, onde dá para a gente se desfazer de algumas que não têm mais viabilidade para, justamente oferecer a essas regiões que são produtoras, como a Região Sul, uma maior capacidade.
Publicado originalmente no NSC Total
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/estela-benetti/conab-vai-voltar-a-fazer-estoques-publicos-de-alimentos-diz-presidente-da-estatal