A dieta que superou a Mediterrânea para a saúde e perda peso, em novo estudo

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Seguir uma alimentação vegana com baixo teor de gordura foi associado à redução de compostos inflamatórios prejudiciais da dieta e de cerca de 6 kg na balança

Por O GLOBO | 12/08/2024

SÃO PAULO | Comer uma dieta vegana com baixo teor de gordura reduz em 73% os compostos inflamatórios prejudiciais da dieta, chamados produtos finais de glicação avançada (AGEs), e proporciona uma perda média de peso de 5,8 kg, em comparação com nenhuma alteração no peso ou nesses compostos para quem segue uma dieta mediterrânea. A conclusão é de um estudo publicado recentemente na revista científica Frontiers in Nutrition.

“O estudo ajuda a acabar com o mito de que uma dieta mediterrânea é melhor para perda de peso”, diz a principal autora do estudo, a médica Hana Kahleova, diretora de pesquisa clínica do Comitê de Médicos para Medicina Responsável, em comunicado.

“Escolher uma dieta vegana com baixo teor de gordura, que evite laticínios e óleos tão comuns na dieta mediterrânea, ajuda a reduzir a ingestão de produtos finais prejudiciais de glicação avançada, levando a uma perda significativa de peso”, completa.

A médica nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN, que não participou do estudo, explica que a dieta mediterrânea não tem como objetivo a perda de peso e sim proporcionar uma longevidade saudável.

— Com base nas evidências que existem hoje, não há dúvida nenhuma que o padrão mediterrâneo de alimentação é aquele que oferece um envelhecimento mais saudável no longo prazo — pontua a médica.

A nova pesquisa é uma análise secundária de um estudo anterior do Comitê de Médicos que comparou uma dieta vegana com baixo teor de gordura a uma dieta mediterrânea. O estudo distribuiu aleatoriamente os participantes para uma dieta vegana com baixo teor de gordura, que consistia em frutas, vegetais, grãos e feijões, ou uma dieta mediterrânea, que se concentrava em frutas, vegetais, legumes, peixe, laticínios com baixo teor de gordura e azeite extra virgem, durante 16 semanas. Nenhum dos grupos tinha limite de calorias.

Os participantes então voltaram às suas dietas iniciais por um período de quatro semanas, antes de mudarem para o grupo oposto de alimentação por mais 16 semanas. Ou seja, quem havia feito uma dieta vegana no primeiro ciclo de 16 semanas, seguiria uma dieta mediterrânea pelo mesmo período e vice-versa. Os AGEs dietéticos foram calculados com base em registros de ingestão alimentar relatados pelos participantes. As pontuações AGE foram atribuídas a cada item alimentar, utilizando um banco de dados.

Segundo Garcez, a formação desses de produtos finais de glicação avançada (AGEs) está associada ao consumo de açúcar (encontrado em carboidratos) e gordura, principalmente as saturadas (encontradas em produtos de origem animal) e nas modificadas, como gorduras trans. Esses compostos estão associados à prejuízos para a saúde como resistência à insulina, o que pode levar ao ganho de peso, inflamação e estresse oxidativo, que contribuem para doenças crônicas como doenças cardíacas e diabetes tipo 2.

— Esses produtos avançados de glicação impactam no funcionamento metabólico do fígado e do cérebro — diz Garcez.

No estudo, a redução dos produtos finais de glicação avançada na dieta vegana com baixo teor de gordura resultou principalmente da exclusão do consumo de carne (41%), da minimização do consumo de gorduras adicionadas (27%) e de evitar o consumo de produtos lácteos (14%).

“Nossa pesquisa mostra que você pode usar o poder do seu prato para perder peso com uma dieta vegana com baixo teor de gordura, rica em frutas, vegetais, grãos e feijões e com baixo teor de AGEs”, acrescenta a médica. “É uma maneira simples e deliciosa de manter um peso saudável e combater doenças crônicas”.

Apesar dos resultados serem válidos, segundo Garcez, o estudo tem limitações como o fato de os pesquisadores não terem estipulado uma quantidade de calorias diárias padrão para as duas dietas (vegana e mediterrânea) e o fato de os AGEs só terem sido avaliados por meio de pontuações atribuídas utilizando um banco de dados. Segundo ela, o ideal seria realizar exames que avaliam a inflamação no organismo, que é o que esses compostos causam.

— Inicialmente, todo mundo que experimenta uma dieta essencialmente vegetariana tende a baixar o peso porque as proteínas de origem animal têm gordura saturada e são mais calóricas do que as de origem vegetal. Além disso, essas pessoas terão mais saciedade por conta do maior consumo de fibras e melhor funcionamento do intestino e a tendência é que ela emagreça — avalia Garcez.

— O grande problema é o longo prazo. O estilo de vida vegano demanda um cuidado e acompanhamento com a alimentação porque a pessoa precisa aumentar muito o consumo de proteína vegetal para evitar problemas no longo prazo, que incluem o risco de deficiência de nutrientes como vitamina B12 e ômega 3, envelhecimento precoce, pior arcabouço muscular e óssea e pior qualidade de pele — alerta a médica.

Baixe aqui o estudo “Dietary advanced glycation end-products and their associations with body weight on a Mediterranean diet and low-fat vegan diet a randomized, cross-over trial” ctado na matéria

Publicado originalmente no O Globo
https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/08/12/a-dieta-que-superou-a-mediterranea-para-a-saude-e-perda-peso-em-novo-estudo.ghtml