Arroz, feijão e ovos pressionam preço de alimentos no Brasil

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Com apetite chinês, preço de carne bovina e suína podem subir também
Por Mauro Zafalon no UOL | 27/03/2023

Os preços internacionais dos alimentos estão nos menores patamares em 17 meses, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). As commodities brasileiras com bom trânsito no mercado externo mantêm essa mesma tendência, acompanhando os preços externos.

Mesmo assim, o custo dos alimentos básicos não dá trégua ao bolso dos consumidores no mercado interno. Voltaram a subir no acumulado dos últimos 30 dias, conforme pesquisa divulgada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Na terceira quadrissemana de março, que aponta a variação dos preços dos últimos 30 dias terminados no dia 23 em relação aos 30 imediatamente anteriores, os alimentos subiram 0,51%. É a quinta alta semanal seguida.

Mesmo com essa sequência de alta, os alimentos poderão terminar os últimos 12 meses com patamar acumulado inferior a 10%. Isso não ocorria desde janeiro do ano passado. A Fipe divulgará os dados referentes a março no início de abril.

Após ter atingido um patamar muito elevado, os alimentos pararam de subir, mas ainda estão distantes dos valores normais de há quatro anos.

Atualmente, o aumento tem sido provocado basicamente por alimentos cuja produção fica no mercado interno, como arroz, feijão, verduras, frutas e legumes.

A pressão dos alimentos poderá voltar com maior intensidade nas próximas semanas, principalmente por causa das proteínas. Com a reabertura do mercado da China para a carne bovina (anunciada na semana seguinte à suspensão automática das exportações em razão de caso de vaca louca no Brasil, que acabou se confirmando atípico) e devido a novos problemas sanitários no setor de carne suína no país asiático, o apetite chinês deverá dar novos preços ao mercado interno brasileiro.

Responsável pelo consumo de 21% da produção de carne bovina brasileira e por 62% do que o Brasil exporta, a China deverá dar maior sustentação aos preços do boi gordo no campo. Nos últimos 30 dias, com presença menor dos chineses no mercado interno, a carne bovina cai 1,94%.

A carne suína, que já vinha acumulando alta, deverá ter uma abertura maior no mercado chinês caso a peste suína africana se intensifique, como vêm alertando as autoridades do país.

Grandes consumidores dessa proteína, os chineses ficaram mais dependentes do mercado externo a partir de 2018, quando a peste suína africana se alastrou pelas granjas de suínos.

Criação de porcos na granja Suínos, em Carambeí (PR) – Mauro Zafalon – 8.jul.15/Folhapress

O óleo de soja, após subir 164% de 2019 a 2022, voltou a ter redução no preço. A demanda interna por esse produto, no entanto, deverá crescer a partir do próximo mês, quando a mistura de biodiesel ao óleo diesel vai subir de 10% para 12%. Pelo menos 70% do biodiesel tem como matéria-prima a soja.

Isso ocorre, no entanto, em um momento em que o Brasil tem uma safra recorde de 155 milhões de toneladas e os preços externos e internos da soja recuam.

Café e açúcar, dois produtos que dispararam de preço nos últimos anos, começam a fazer o caminho de volta, embora ainda estejam com valores bastante elevados.

O leite, após a retomada das altas no fim do ano passado, começa a cair. Com pastagens renovadas, devido às chuvas, e custos menores para a alimentação do gado, a oferta deverá ser maior, e a alta, perder força.

Os produtos “in natura”, que também foram afetados pelo excesso de chuvas, devem reverter a tendência de alta nas próximas semanas com a melhora do clima e o retorno do plantio e da produção.

Um dos principais problemas para o consumidor, principalmente para o de menor renda, continua sendo a aquisição de produtos básicos, devido aos preços elevados.

O ovo acumula alta de 10,2% na quadrissemana.

O arroz, apesar do período de colheita, mantém os preços em alta. Nos últimos 30 dias, o cereal ficou 0,7% mais caro nos supermercados de São Paulo, segundo a Fipe. Nos quatro anos anteriores já tinha subido 67%.

O feijão, após alta de 110% de 2019 a 2022, acumula 5,4% neste ano. As principais variantes do aumento de preços do arroz e do feijão não vêm do mercado externo, mas de uma recomposição de área interna de produção. Eles perdem espaço para outras culturas.

O cenário internacional para os produtores está mais desafiador neste ano devido à desaceleração dos preços, mas pode se apresentar melhor para os consumidores. Os estoques mundiais ainda estão em queda, à exceção dos da soja, mas a produção deste ano supera a do período anterior.

Brasil e Estados Unidos, dois dos principais fornecedores de alimentos ao mundo, elevaram as áreas de produção e esperam safras maiores. A safra brasileira, se o clima ajudar, poderá atingir 310 milhões de toneladas, e os EUA terão aumento de 9% nas produções de soja, trigo e milho.

Publicado originalmente no UOL
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vaivem/2023/03/arroz-feijao-e-ovos-pressionam-preco-de-alimentos-no-brasil.shtml