Avanços, limites e persistências da desigualdade no Brasil

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Blog do IFZ | 28/08/2025

Baixe aqui o relatório “Observatório Brasileiro das Desigualdades 2025

O Brasil de 2024 revelou sinais de um país em movimento, buscando reduzir a distância histórica entre seus extremos sociais. Os dados do Observatório Brasileiro das Desigualdades 2025 apontam que a distância entre ricos e pobres, embora ainda imensa, encolheu: o rendimento médio do 1% mais rico foi 30,5 vezes superior ao dos 50% mais pobres, contra 32,9 vezes no ano anterior. Pequeno avanço, mas avanço, enfim. A desigualdade mostrou seu rosto menos severo, sobretudo no Sul, onde a razão caiu para 23,3 vezes, ainda que o Nordeste continue a carregar o fardo mais pesado, com 32 vezes.

Outro indicador de fôlego para a sociedade foi o mercado de trabalho. A taxa de desocupação recuou para 6,6% da força de trabalho, o menor nível em uma década recente, depois de cair 1,2 ponto percentual em relação a 2023. Mulheres e negros, historicamente os mais penalizados, viram as maiores reduções: a desocupação feminina caiu de 9,5% para 8,1%, e a da população negra, de 9,1% para 7,6%. O dado sugere que o crescimento econômico recente distribuiu oportunidades de forma um pouco mais equânime, ainda que os desequilíbrios persistam.

Esses avanços se somam a outros: o rendimento médio real de todas as fontes subiu 2,9%, chegando a R$ 3.066. Mulheres negras foram o grupo com maior crescimento proporcional — 5,2% em apenas um ano, superando a média nacional. Mas os números também denunciam a dureza das comparações: mesmo assim, elas seguem recebendo apenas 43% da renda de um homem branco não negro.

O relatório mostra que, apesar das melhoras, a desigualdade permanece como a espinha dorsal da vida social brasileira. Os tributos, por exemplo, continuam a pesar mais sobre os pobres. As famílias dos 10% mais pobres destinam 26,4% de sua renda aos impostos, contra 19,2% entre os 10% mais ricos. O sistema, regressivo em sua essência, aprofunda as diferenças que o mercado de trabalho e a estrutura social já impõem.

No campo da educação, o retrato é ambíguo. A taxa de escolarização líquida do ensino médio cresceu de 71,3% para 74% entre 2022 e 2024, e o acesso às creches aumentou de 30,7% para 34,6% no mesmo período. Mas as disparidades raciais permanecem gritantes: crianças negras ainda têm menos acesso à educação infantil do que as não negras, salvo em algumas regiões específicas. No ensino superior, mulheres não negras lideram as matrículas, mas homens negros seguem como a minoria mais marginalizada.

Na saúde, os avanços perdem força. Entre 2021 e 2023, a taxa de óbitos por causas evitáveis aumentou de 30,6% para 39,2%. Os homens negros concentram as piores taxas de mortalidade precoce, enquanto mulheres brancas vivem mais e morrem mais tardiamente. Também preocupa a piora nos índices de saúde infantil: em 2023, 7,7% das crianças indígenas tinham baixo peso para a idade, contra 6,7% no ano anterior.

Se há razões para alívio, elas vêm sobretudo do campo ambiental: entre 2022 e 2024, o Brasil reduziu em 41,3% sua área desmatada, com queda também nas emissões de CO₂. Um raro dado em que o país se aproxima da vanguarda das boas notícias globais.

A violência continua a ser um divisor regional. O número de homicídios de jovens de 15 a 29 anos caiu de 49,7 para 45,8 por 100 mil habitantes entre 2021 e 2023. Mas enquanto o Sudeste e o Sul apresentam taxas próximas de 26 e 29 por 100 mil, o Nordeste chega a alarmantes 78,1, e o Norte, a 60,7. Além disso, a violência de gênero não cede: os feminicídios aumentaram, alcançando 1.492 casos em 2024 contra 1.350 em 2020.

No balanço geral, o Observatório mostra que dos 43 indicadores analisados, 25 apresentaram avanços, 8 ficaram estáveis e apenas 3 registraram retrocessos. Trata-se, portanto, de um quadro que inspira otimismo cauteloso: os ganhos existem, mas são lentos, concentrados e insuficientes para desatar os nós profundos da desigualdade estrutural.

O Brasil, mais uma vez, se vê no espelho da sua própria complexidade. O relatório sugere que estamos diante de uma encruzilhada: se de um lado as estatísticas registram sinais de progresso, de outro, a desigualdade resiste como uma muralha, marcada pela cor da pele, pelo gênero, pela região onde se nasce. A leitura que se impõe é clara: os avanços, embora reais, não são lineares nem definitivos. Eles precisam ser nutridos por políticas públicas consistentes, capazes de transformar não apenas os números, mas as vidas que eles representam.

Baixe aqui o relatório “Observatório Brasileiro das Desigualdades 2025