“Estamos prontos para apoiar qualquer país que necessite de um aumento nas exportações brasileiras — mesmo por considerações geopolíticas”, afirmou Luis Rua, secretário de Comércio do Ministério da Agricultura do Brasil.
Sofia Sanchez Manzanaro na Euractiv | 01/04/2025
Enquanto o mundo se prepara para a imposição de tarifas generalizadas por parte de Washington em 2 de abril, Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura do Brasil, afirmou que o país — uma superpotência agrícola — está pronto para exportar alimentos para qualquer nação que deles necessite.
Rua falou ao Euractiv durante o Fórum para o Futuro da Agricultura, que está sendo realizado hoje em Bruxelas.
A seguir, uma transcrição editada da entrevista.
Euractiv: Olhando para amanhã, 2 de abril, quais são suas expectativas? E como o senhor acha que isso pode impactar o setor agrícola do Brasil?
Luis Rua: Não comentamos diretamente sobre as políticas de outros países, pois isso não nos diz respeito. O Brasil está preparado para esse cenário porque somos um parceiro confiável e estável — um parceiro que oferece produtos competitivos, os quais contribuem, por exemplo, para a estabilidade global dos preços dos alimentos. A inflação dos alimentos é uma questão importante em todo o mundo atualmente. Por isso, estamos prontos para apoiar qualquer país que necessite de um aumento nas exportações brasileiras, seja qual for o motivo — inclusive por razões geopolíticas.
E: Há algum produto ou setor agroalimentar específico no qual o senhor veja grandes oportunidades de expansão?
LR: Desde que o presidente Lula assumiu o cargo, no início de 2023, o Brasil abriu 344 novos mercados internacionais. Isso representa novas oportunidades para que produtores e exportadores brasileiros acessem regiões anteriormente inacessíveis, seja por barreiras sanitárias, fitossanitárias ou tarifárias.
Essa é uma prioridade para nós. Continuamos confiantes diante das mudanças geopolíticas, porque o Brasil está pronto para fazer negócios com qualquer país que deseje estabelecer parcerias.
O Brasil é uma das poucas regiões do mundo com a escala, a confiabilidade e a estabilidade necessárias para o comércio global. Mais importante ainda: mantemos altos padrões sanitários, que são cada vez mais críticos atualmente.
E: O acordo Mercosul–UE é visto por muitos atores, inclusive pela Comissão Europeia, como um passo importante, não apenas do ponto de vista econômico, mas também geopolítico. No entanto, países como França e Polônia ainda têm dúvidas quanto à ratificação do acordo. O senhor teve alguma conversa direta com esses países?
LR: Sim, de fato, o acordo alcançado em 6 de dezembro foi histórico. Costuma-se dizer que esse acordo prejudicará a agricultura europeia, mas, na verdade, o oposto é verdadeiro. Veja a Espanha, por exemplo — setores como azeite de oliva, vinho e laticínios serão significativamente beneficiados. Assim como os produtores do Mercosul ganharão novas oportunidades, os europeus também sairão ganhando.
Também é importante observar que, no caso de produtos sensíveis, há cotas e salvaguardas em vigor para evitar distorções no mercado. Às vezes, narrativas acabam ofuscando os fatos, mas esse é um acordo bem equilibrado. Esperamos que seja ratificado em breve. É claro que a decisão final cabe à União Europeia, mas, de nossa parte, estamos prontos.
E: O Brasil expressou diversas preocupações com o Regulamento Antidesmatamento da UE quando ele foi introduzido. Agora que sua implementação foi adiada, o senhor acredita que isso dará ao Brasil uma chance maior de se adaptar? E o acordo do Mercosul ajuda de alguma forma?
LR: Bem, o acordo Mercosul–UE inclui compromissos como a adesão ao Acordo de Paris. Há também um capítulo sobre desenvolvimento sustentável, que é um dos mais rigorosos em termos de integração do comércio com preocupações ambientais.
Dito isso, embora compartilhemos os mesmos objetivos finais — promover a produção sustentável —, discordamos dos métodos que a UE está utilizando para atingi-los. Nossa abordagem é mais cooperativa.
Por exemplo, a pedido do presidente Lula, convidaremos todos os ministros da Agricultura da África para virem ao Brasil. A ideia é entender suas necessidades e oferecer apoio, em vez de impor restrições. Em um mundo cada vez mais polarizado, acreditamos que a UE deveria adotar uma abordagem cooperativa semelhante, em vez de imposições unilaterais.
E: As discussões com a UE ainda estão em andamento sobre o benchmarking de países para o EUDR? Como o Brasil está abordando esse assunto?
LR: Sim, estamos em negociações com os setores brasileiros que podem ser afetados. De fato, o Brasil adotou recentemente uma “lei da reciprocidade” que nos permite responder caso produtores, industriais ou outras partes interessadas brasileiras sejam negativamente impactadas por medidas que extrapolem as regras do comércio internacional.
É claro que esperamos não ter que utilizá-la, pois apoiamos firmemente um sistema de comércio internacional baseado em regras, no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Mas, se necessário, temos instrumentos disponíveis.
Publicado originalmente na Euractiv
https://www.euractiv.com/section/agriculture-food/interview/brazil-ready-to-export-more-food-amid-trade-war-says-agriculture-ministry-official/