Por Russell McLendon na ScienceAlert | 18/01/2025
As bebidas açucaradas, como refrigerantes e energéticos, são projetadas para serem hiperpalatáveis, carregadas com quantidades exorbitantes de adoçantes para estimular os centros de prazer no cérebro.
No entanto, esse prazer inicial esconde um perigo oculto. As bebidas adoçadas com açúcar geralmente oferecem pouco valor nutricional, e pesquisas mostram que o consumo habitual pode aumentar o risco de problemas de saúde, como cárie dentária, obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
De fato, segundo um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Tufts, nos EUA, cerca de 1,2 milhão de novos casos de doenças cardiovasculares e 2,2 milhões de novos casos de diabetes tipo 2 se desenvolvem em todo o mundo a cada ano devido ao consumo de bebidas açucaradas, carregadas de açúcar em excesso.
Embora o consumo geral de bebidas açucaradas tenha diminuído recentemente em alguns países desenvolvidos, os autores do estudo destacam que os refrigerantes e bebidas similares continuam sendo uma ameaça significativa à saúde pública em grande parte do mundo, principalmente em países em desenvolvimento.
“As bebidas adoçadas com açúcar são amplamente comercializadas e vendidas em países de baixa e média renda”, afirma o autor sênior Dariush Mozaffarian, cardiologista e cientista de saúde pública da Universidade de Tufts. “Essas comunidades não apenas consomem produtos nocivos, mas também estão menos preparadas para lidar com as consequências de longo prazo para a saúde.”
O problema é especialmente grave em alguns países. O estudo relaciona quase um terço de todos os novos casos de diabetes no México ao consumo de bebidas açucaradas. Na Colômbia, a proporção chega a quase metade.
Na África do Sul, aproximadamente 28% dos novos casos de diabetes e 15% dos novos casos de doenças cardíacas são atribuídos às bebidas açucaradas, conforme apontam os pesquisadores.
O estudo se concentra em bebidas adoçadas com açúcar (em inglês, sugar-sweetened beverages – SSBs), que os autores definem como qualquer bebida com adição de açúcares e pelo menos 50 quilocalorias por porção de 240 ml. Isso inclui refrigerantes comerciais ou caseiros, bebidas energéticas, bebidas de frutas, ponche, limonada e agua fresca.
Essa definição exclui bebidas como leite adoçado, sucos 100% naturais de frutas e vegetais, e bebidas não calóricas adoçadas artificialmente, embora muitas delas ainda possam representar riscos à saúde se consumidas em excesso, observam os pesquisadores.
Os dados do consumo de bebidas foram coletados do Global Dietary Database, incluindo 450 levantamentos com informações sobre o consumo de bebidas açucaradas, abrangendo 2,9 milhões de pessoas de 118 países.
Para esclarecer as ligações entre bebidas açucaradas e doenças, os pesquisadores incorporaram esses dados às taxas de doenças cardiometabólicas em uma análise comparativa de risco, com base em estudos anteriores sobre os efeitos fisiológicos dessas bebidas.
Globalmente, a análise indica que bebidas açucaradas contribuíram para 1,2 milhão de novos casos de doenças cardiovasculares e 2,2 milhões de novos casos de diabetes tipo 2 por ano.
O estudo também sugere que as SSBs são responsáveis por cerca de 80.000 mortes por diabetes tipo 2 e 258.000 mortes por doenças cardiovasculares anualmente.
Esse é um número devastador, mas destacar o impacto das bebidas açucaradas pode ajudar a reverter esse quadro, explica Laura Lara-Castor, cientista nutricional e primeira autora do estudo, atualmente na Universidade de Washington.
“Precisamos de intervenções urgentes e baseadas em evidências para reduzir o consumo de bebidas adoçadas com açúcar no mundo todo, antes que mais vidas sejam encurtadas por seus efeitos sobre o diabetes e as doenças cardíacas”, declara Lara-Castor.
Nossos corpos digerem rapidamente as bebidas açucaradas, aumentando os níveis de açúcar no sangue e, na melhor das hipóteses, fornecendo apenas um valor nutricional escasso, explicam os pesquisadores.
O consumo excessivo dessas bebidas com muita frequência pode levar ao ganho de peso e à resistência à insulina, bem como a uma série de problemas metabólicos relacionados ao diabetes tipo 2 e às doenças cardiovasculares.
Embora a conscientização do público sobre esses riscos esteja crescendo, ainda não acontece de forma rápida e universal o suficiente, afirmam os cientistas.
“É preciso fazer muito mais, especialmente nos países da América Latina e da África, onde o consumo é elevado e as consequências para a saúde são severas”, diz Mozaffarian. “Como espécie, precisamos enfrentar o problema do consumo de bebidas adoçadas com açúcar.”
Baixe aqui o estudo “Burdens of type 2 diabetes and cardiovascular disease attributable to sugar-sweetened beverages in 184 countries“
Lara-Castor, L., O’Hearn, M., Cudhea, F. et al. Burdens of type 2 diabetes and cardiovascular disease attributable to sugar-sweetened beverages in 184 countries. Nat Med (2025). https://doi.org/10.1038/s41591-024-03345-4
Publicado originalmente na ScienceAlert
https://www.sciencealert.com/scientists-quantified-the-harm-of-sugary-drinks-and-its-devastating