Blog do IFZ | 10/11/2025
A 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudança do Clima (COP30) abriu suas portas em Belém do Pará, marcando uma inflexão simbólica e política: pela primeira vez, o maior encontro climático do planeta ocorre na Amazônia — o bioma mais estratégico e vulnerável da Terra.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou a conferência com um discurso direto, que chamou de “a COP da Verdade”, afirmando que este é o momento em que os países precisarão demonstrar, com fatos e não apenas palavras, o compromisso com o futuro comum.
“Sem cumprir as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), caminharemos de olhos vendados para o abismo”, declarou. E completou: “É mais barato investir US$ 1,3 trilhão para conter a crise climática do que gastar US$ 2,7 trilhões em guerras. A escolha é civilizatória: vida ou destruição.”
Ao relacionar os eventos climáticos extremos que vêm afetando o Brasil — como o tornado no Paraná e as enchentes no Rio Grande do Sul — à necessidade de ações urgentes, Lula deu tom moral e político à conferência.
A presença de lideranças indígenas, quilombolas, cientistas e chefes de Estado na cerimônia reforçou a ideia de que a Amazônia não é cenário, mas protagonista do debate. “Quem vive aqui é guardião da vida do planeta. E é por isso que Belém é o lugar certo para o mundo se reencontrar com a verdade climática”, disse o presidente, sob aplausos.
O papel do Brasil e o chamado à ação
A COP30 representa o coroamento de uma estratégia que o governo brasileiro vem articulando desde 2023: recuperar o prestígio internacional do país como referência em sustentabilidade e diplomacia ambiental. Nos últimos dois anos, o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em mais de 50%, relançou o Fundo Amazônia, ampliou áreas de conservação e reposicionou sua política externa com base no conceito de transição justa e inclusão social.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 e um dos mais respeitados negociadores da diplomacia climática, sintetizou o desafio: “Não basta anunciar metas — precisamos ajudar a colocá-las em prática. Esta conferência deve ser um marco de implementação.” Segundo ele, a COP30 é o ponto em que a ação climática deixa de ser promessa e passa a ser política pública. O Brasil, ao sediar o evento, não apenas hospeda, mas propõe e lidera. Sua diplomacia busca costurar pontes entre o Norte e o Sul globais, entre desenvolvimento e preservação, entre urgência e justiça.
A escolha de Belém tem um simbolismo ainda mais profundo. Ao trazer a COP para a Amazônia, o governo quis afirmar que a resposta à crise climática não pode vir de fora, mas deve nascer de onde a floresta respira — e de quem nela vive. É um gesto político e ético, que reafirma a centralidade do bioma amazônico na sobrevivência do planeta.
As prioridades da conferência
Mais de 190 países e a União Europeia registraram presença oficial na COP30, que deve reunir cerca de 50 mil participantes, entre autoridades, cientistas, organizações sociais e empresas.
As expectativas concentram-se em três objetivos fundamentais:
- Reforçar o financiamento climático, garantindo recursos previsíveis para países vulneráveis;
- Acelerar a transição energética, com prazos e instrumentos concretos;
- Fortalecer a adaptação, para proteger populações já impactadas pelos eventos extremos.
O Brasil trabalha para que o espírito de Belém seja o da cooperação e confiança, evitando a polarização que marcou algumas edições anteriores. A palavra de ordem é convergência: unir governos, povos e setores produtivos em torno de metas comuns. Nas palavras do chanceler Mauro Vieira, “o sucesso da COP30 dependerá menos da retórica e mais da capacidade de criar soluções compartilhadas”. O governo brasileiro aposta em diplomacia de resultados e em liderança pelo exemplo.
Cinco eixos decisivos para o futuro climático
1. Transição justa e desenvolvimento inclusivo
A “transição justa” é hoje um dos pilares do debate climático, e o Brasil tem sido um dos principais defensores do conceito.
O governo sustenta que a redução das emissões deve ser acompanhada de políticas de geração de emprego, requalificação profissional e incentivo à bioeconomia. No contexto amazônico, isso significa transformar a floresta em motor de desenvolvimento sustentável, com valor agregado à biodiversidade e inclusão das comunidades locais. Se a COP30 conseguir aprovar diretrizes práticas de financiamento e cooperação tecnológica, o evento poderá ser lembrado como o início de uma nova economia verde global.
2. Cronograma para o fim dos combustíveis fósseis
Depois de a COP28 ter reconhecido pela primeira vez a necessidade de “transição dos combustíveis fósseis”, a expectativa em Belém é que surja um calendário equilibrado e exequível.
O Brasil, cuja matriz energética já é uma das mais limpas do mundo — com mais de 80% de fontes renováveis — propõe uma abordagem pragmática: cada país deve reduzir conforme suas condições e capacidades, evitando injustiças econômicas. Trata-se de avançar com responsabilidade e solidariedade, respeitando diferentes trajetórias de desenvolvimento.
3. Reforço das metas de redução de emissões (NDCs)
O Acordo de Paris completou quase uma década, e a revisão das NDCs é o teste de credibilidade do sistema multilateral.
O Brasil assumiu compromissos ambiciosos — redução de 53% das emissões até 2030 e neutralidade de carbono até 2050 — e tem trabalhado para inspirar outras nações a fazer o mesmo. A COP30 deve funcionar como fórum de acompanhamento e estímulo à transparência, estabelecendo mecanismos de verificação real dos resultados.
4. Adaptação climática e proteção das populações vulneráveis
Os efeitos da crise climática já estão em curso. Por isso, o governo brasileiro insiste que a adaptação precisa ter o mesmo peso que a mitigação.
O país defende a adoção de métricas globais para a Meta de Adaptação (GGA) e a criação de fundos específicos para infraestrutura resiliente, agricultura familiar e prevenção de desastres. Essa é uma pauta de justiça ambiental e social: trata-se de proteger quem menos emite e mais sofre.
5. Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)
Idealizado pelo presidente Lula, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre pretende remunerar países que mantêm suas florestas preservadas, reconhecendo o valor econômico da conservação.
Com promessas iniciais de US$ 5,5 bilhões e meta de US$ 25 bilhões, o fundo poderá beneficiar cerca de 70 países tropicais. A proposta reafirma a visão brasileira de que a natureza é parte da solução econômica, e não obstáculo ao crescimento. Se o fundo for consolidado na COP30, poderá se tornar um instrumento histórico de cooperação internacional.
Belém e a mensagem ao mundo
Para além dos acordos formais, a COP30 traz uma mensagem simbólica poderosa: a de que o futuro do clima se decide nas florestas, nas águas e nas cidades do Sul global. Belém, com sua história de resistência e diversidade cultural, tornou-se o centro de um debate planetário sobre o destino da humanidade. O evento já é considerado um marco logístico e diplomático para o Brasil, que conseguiu realizar, com estrutura e segurança, a conferência mais complexa de sua história.
A atmosfera na capital paraense mistura preocupação e esperança. Jovens de dezenas de países, povos indígenas, cientistas e líderes políticos compartilham um sentimento comum: a COP30 precisa ser o ponto de virada entre promessas e realizações.
Liderança pelo exemplo
Ao sediar a COP30, o Brasil reafirma sua disposição de liderar pela responsabilidade. A diplomacia climática brasileira, ancorada no diálogo, na ciência e na justiça social, busca unir o mundo em torno de soluções compartilhadas. O discurso do presidente Lula — firme, mas conciliador — e as propostas do governo federal traduzem um país que quer ser parte da solução global, não do problema. Se a conferência alcançar avanços concretos nos cinco eixos centrais, Belém será lembrada como o lugar onde a humanidade decidiu agir com coragem.
E o Brasil, como o país que mostrou que é possível combinar desenvolvimento, democracia e compromisso ambiental — três pilares inseparáveis de um futuro possível.
