Blog do IFZ | 29/06/2025
Baixe aqui o livro “Educação do Campo e Resistência contra-hegemônica na América Latina“
A incumbência de escrever o prefácio de um livro nos impõe, como exigência mínima, a análise da conjuntura e da luta de classes no momento de seu lançamento. Mas exige também reconhecer as organizadoras, os/as autores/as dos capítulos e seus conteúdos, os destinatários — professores/as da Educação do Campo — e as batalhas concretas que enfrentam no dia a dia.
Da conjuntura internacional, podemos destacar a ruína dos países capitalistas imperialistas, com evidentes indícios de degeneração dos Estados Unidos e da Europa. A ruína dos países capitalistas pode ser descrita pelas consequências da adoção das políticas de reajustes estruturais fundamentalistas, que atacam a soberania dos povos, a democracia, os direitos e conquistas da classe trabalhadora, e destroem o meio ambiente. Onde os Estados Unidos da América do Norte e a Europa impõem suas medidas econômicas, na lógica perversa do capital, predominam a exploração e a opressão dos povos, a exploração da natureza e as guerras inter-imperialistas.
Enquanto esses impérios dão sinais de ruína na geopolítica internacional, outros países se levantam e enfrentam os imperialistas, indicando a unidade. Isso vai desde a resistência do povo palestino, na Faixa de Gaza, que luta por sua terra, até a resistência de países africanos que lutam por suas riquezas, contra o roubo e a violência infringida há séculos, e contra a presença de forças militares europeias na África. Essas forças atentam contra a soberania dos povos. Este brado pode ser escutado desde a Costa do Marfim, Níger, Burkina Faso e Chade.
A América Latina ainda continua com suas “veias abertas”, conforme denunciou Eduardo Galeano. Estamos sendo atacados diuturnamente pelos aparelhos ideológicos capitalistas e imperialistas — algo constatável desde o âmbito da agricultura, com os latifúndios e o agro-hidro-minério-negócio, até o campo da cultura em geral, especialmente no que diz respeito à cultura política e às religiões. A luta internacional de resistência está sendo indicada pela presidenta do México, Claudia Sheinbaum, que convoca à unidade dos países americanos, e por Cuba, que resiste há mais de cinquenta anos ao embargo assassino dos Estados Unidos e seus aliados.
No Brasil, o confronto de interesses e a violência na luta de classes se expressam na criação de milícias, como a “Invasão Zero”, que está aterrorizando — principalmente no extremo sul da Bahia —, assassinando trabalhadores Sem Terra, indígenas e quilombolas. Soma-se a isso o confronto no parlamento brasileiro, onde a extrema-direita pretende, para 2026, além de eleger um nazifascista para governar o Brasil, conquistar 50% das cadeiras no Senado e na Câmara dos Deputados.
É neste contexto extremamente complexo que as professoras Arlete Ramos dos Santos (UESB), Ana Elisa Antunes de Oliveira (UNIUBE), Euza Souza Sampaio Silva (UESB) e Valéria Prazeres dos Santos (UFSC) organizaram o presente livro, com conteúdos relacionados à Educação do Campo e à resistência, à contra-hegemonia em construção no campo.
Não é tarefa fácil, pois exige coragem e capacidade de engajamento intelectual e político com os movimentos de luta social no campo, que reivindicam a reforma agrária popular e defendem a agroecologia. Isso contraria os interesses dos que, há mais de quinhentos anos, são hegemônicos — não somente no campo brasileiro, mas em todas as instâncias de poder econômico, político e intelectual, no Executivo, no Judiciário e no Legislativo de nosso país.
As/os autoras/es chamadas/os para compor o coletivo da obra também estão, inclusive, colocando suas próprias vidas em risco, ao confrontar de maneira organizada, no campo de batalha das ideias, o fruto de seus trabalhos acadêmicos — que, ou servem para a revolução, ou não servem para a humanização.
Este livro apresenta 21 textos. A seguir, menciono os títulos, autores e enfoques, destacando que a leitura desta obra precisa estar inserida no contexto concreto da luta de classes no campo brasileiro e latino-americano.
Sumário dos Capítulos
1. Educação rural e Educação do Campo: práticas contra-hegemônicas na América Latina
Ana Elisa Antunes de Oliveira, Arlete Ramos dos Santos e Gustavo Araújo Batista
2. Educação do Campo na América Latina
Gilvan dos Santos Sousa, Geysa Novais Viana Matias e Arlete Ramos dos Santos
3. Contextualização da Educação do Campo x Educação Rural: breve cenário no Brasil e Bolívia
Niltânia Brito Oliveira, Antonio Clébio Cavalcante Eça e Arlete Ramos dos Santos
4. Legados de educación popular a una generación: aprendizajes que perduran en la vida
María Isabel González Terreros e Marysol Rojas Pabón
5. Educação rural/do campo na América Latina: perspectivas para as políticas públicas curriculares
Vilma Áurea Rodrigues, Tatyanne Gomes Marques e Amanda Áurea Rodrigues
6. Concepções políticas da Educação Rural e da Educação do Campo: práticas pedagógicas na América Latina
Moíra da Silva Quadros Darian, Geysa Novais Viana Matias e Arlete Ramos dos Santos
7. Educação do campo na luta por terra e trabalho
Vandique Martiniano Campos Meira, Liliane Soares Santana e Arlete Ramos dos Santos
8. A educação do/no campo frente aos marcos legais: da luta camponesa à conquista de direitos
Rebeca Bispo Oliveira, Liliane Soares Santana, Arlete Ramos dos Santos e Tatyanne Gomes Marques
9. Uma viagem em busca do estado do conhecimento sobre fechamento de escolas do campo
Jaqueline Braga Morais Cajaíba e Arlete Ramos dos Santos
10. A educação do campo como espaço de resistência: análise das práticas pedagógicas na Bahia
Juliana Chervinski, Bruna Rafaela dos Santos, Valentina Paz Tobar Tobar e Diana Ferreira Campos Schroeder
11. A formação de educadores do campo: um caminho a ser percorrido pelo fazer docente, passos e descompassos
Gleydson Santos Freitas e Poliana Muritiba Boccanera Ferreira
12. Diálogo sobre a (re)elaboração coletiva do projeto político-pedagógico das escolas localizadas no campo no Território de Identidade Litoral Sul da Bahia
Edjaldo Vieira dos Santos, Arlete Ramos dos Santos e Gilvan dos Santos Sousa
13. As diretrizes municipais da Educação do Campo da rede municipal de ensino de Ituberá, Bahia
Ilisete da Hora de Jesus
14. A infraestrutura física e dos recursos pedagógicos na Educação do Campo do município de Paramirim/BA
Maísa Dias Brandão Souza e Arlete Ramos dos Santos
15. Semeando a leitura e escrita nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em uma escola de Educação do Campo no município de Taperoá-BA
Lizandra Pimentel Guimarães
16. Angústia: reflexões sobre a saúde mental das/os professoras/es da Educação do Campo
Davi Amâncio de Souza, Arlete Ramos dos Santos e Priscila da Silva Rodrigues
17. Educação para as relações étnico-raciais: análise de projetos políticos-pedagógicos de escolas estaduais do município de São Gotardo-MG
Daniel Antônio Coelho Silva
18. Quilombo Mocambo — educação e resistência: um estudo de caso
Juliana Chervinski, Diana Ferreira Campos Schroeder, Valentina Paz Tobar Tobar e Bruna Rafaela dos Santos
19. A crise ecológica brasileira e a agroecologia como alternativa: uma reflexão sobre a liberação dos agrotóxicos e os eventos climáticos extremos
Ronaldo Pereira Souza
20. Agronegócio e hidronegócio em Correntina-BA: disputa entre o capital e o campesinato
Euza Souza Sampaio Silva e Tatyanne Gomes Marques
21. Neoliberalismo, reformas curriculares e trabalho docente no Brasil
Valéria Prazeres dos Santos
Podem parecer “pequenas coisas”, mas, como afirma Trotski, em história não se fazem nunca grandes coisas sem pequenas coisas. São pequenas coisas aqui expostas, mas, em uma grande época. Época de transição. Portanto, deixam de ser pequenas coisas quando somadas às demais armas em construção para as batalhas decisivas pela superação do modo de produção capitalista, rumo ao socialismo.
Boa leitura! Avante! SEM ANISTIA! Haveremos de vencer!
Celi Nelza Zulke Taffarel
Baixe aqui o livro “Educação do Campo e Resistência contra-hegemônica na América Latina“
