Blog do IFZ | 16/07/2025
Diante da intensificação da fome, da desigualdade e das emergências climáticas em escala global, a comunidade internacional avança com uma resposta articulada e inovadora. Em 2024, sob a presidência brasileira do G20, foi lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza — uma coalizão inédita que reúne governos nacionais, bancos multilaterais, agências da ONU, fundações filantrópicas e organizações da sociedade civil. A meta é ambiciosa: até 2030, retirar pelo menos 100 milhões de pessoas da pobreza extrema, com foco na inclusão produtiva, na proteção social e no empoderamento das mulheres.
A Aliança opera por meio de três eixos integrados: mobilização de recursos financeiros, disseminação de conhecimento técnico e fortalecimento das capacidades nacionais. A estratégia central é o “Sprint 2030” de inclusão socioeconômica, que concentra esforços em programas de geração de renda, alimentação escolar, cuidado na primeira infância e inserção no mercado de trabalho.
Ao mesmo tempo, a Aliança expande-se para além das fronteiras do desenvolvimento social, incorporando também a dimensão ambiental. A recente adesão do Fundo Verde do Clima (GCF), o maior instrumento de financiamento climático do mundo, representa um ponto de inflexão: articula a luta contra a pobreza com os desafios da justiça climática, especialmente em territórios vulneráveis. Essa convergência amplia o alcance da iniciativa e reforça a ideia de que erradicar a fome exige também proteger ecossistemas, garantir acesso à água e apoiar modos de vida sustentáveis — conectando, em uma só agenda, inclusão socioeconômica e transição ecológica.
Aliança Global mobiliza governos, bancos e filantropos por inclusão socioeconômica até 2030
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza tem como um de seus eixos centrais a expansão de programas de inclusão socioeconômica em escala mundial. Lançada oficialmente durante a presidência brasileira do G20, a iniciativa estrutura-se em torno do “2030 Socioeconomic Inclusion Sprint”, uma estratégia de aceleração para reduzir drasticamente a pobreza nos próximos cinco anos.
A meta de beneficiar pelo menos 100 milhões de pessoas por meio da inclusão produtiva — seja via emprego formal, agricultura familiar, qualificação profissional ou microcrédito — está ancorada em compromissos já assumidos por países e instituições multilaterais. O foco sobre as mulheres é estratégico: diversos estudos demonstram que programas orientados para a inclusão econômica feminina geram impactos sociais intergeracionais, elevam o PIB e reduzem desigualdades estruturais.
Entre as metas estabelecidas pela Aliança até 2030, destacam-se:
- 500 milhões de pessoas atendidas por programas de transferência de renda;
- 150 milhões de crianças beneficiadas com alimentação escolar regular;
- 200 milhões de mulheres e crianças pequenas cobertas por políticas de cuidados e nutrição;
- 100 milhões de pessoas integradas a programas de inclusão produtiva com base territorial.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já anunciou um pacote de US$ 25 bilhões para apoiar países da América Latina e do Caribe na implementação de políticas sociais integradas. O Banco Mundial, por sua vez, oferecerá financiamento misto — com juros subsidiados e doações — para apoiar medidas em regiões de alta vulnerabilidade.
Organismos internacionais como FAO, PNUD, UNICEF, OPAS, WFP e ONU Mulheres somam-se à iniciativa, oferecendo assistência técnica, cooperação Sul-Sul e monitoramento de políticas. Fundações como BRAC, Bill & Melinda Gates Foundation, Fundação Rockefeller e parceiros acadêmicos como a Universidade de Cornell e o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI) entram com expertise, escala e inovação social.
O ministro brasileiro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, destacou que a Aliança se organiza em três plataformas articuladas: um eixo nacional, para desenho e execução de políticas públicas; um eixo financeiro, com oferta de crédito e subsídios multilaterais; e um eixo de conhecimento, dedicado à avaliação de impacto, disseminação de boas práticas e formação de lideranças locais.
Com escritórios previstos em Brasília, Roma, Washington, Adis Abeba e Bangcoc, a Aliança será coordenada pela FAO e supervisionada por um Conselho de Alto Nível, reunindo representantes de governos, bancos multilaterais e sociedade civil. Segundo o ministro, “a Aliança não é um fórum de discursos, mas de resultados. Cada real ou dólar investido precisa ter retorno social comprovado, com métricas, metas e transparência”.
O engajamento dos países tem crescido rapidamente. Noruega, México, Cabo Verde, Espanha, Argentina e Moçambique já formalizaram apoio. No caso norueguês, um projeto-piloto de desenvolvimento sustentável em áreas de pesca artesanal no Nordeste brasileiro será financiado com recursos da cooperação nórdica. Estão em curso dezenas de projetos em preparação na África, Ásia e América Latina, envolvendo agricultura familiar, capacitação de mulheres, infraestrutura social e proteção alimentar.
Fundo Verde do Clima adere à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
A Aliança ganhou, recentemente, o reforço de um ator estratégico: o Fundo Verde do Clima (GCF), maior mecanismo multilateral de financiamento climático do mundo. A formalização da adesão ocorreu por meio do governo brasileiro e representa um avanço na integração entre as agendas ambiental e social. O GCF, que já movimenta mais de US$ 13,5 bilhões em projetos globais, passa a colaborar com a Aliança tanto no financiamento direto quanto na formulação de políticas que combinem justiça climática e inclusão socioeconômica.
Essa adesão fortalece o princípio de que a luta contra a fome e a pobreza precisa estar articulada à agenda climática. Em regiões já impactadas por desertificação, enchentes ou degradação ambiental, políticas de renda e acesso à alimentação são inseparáveis de medidas de resiliência, agricultura sustentável, manejo hídrico e mitigação de riscos.
Com a parceria, abre-se a possibilidade de financiamento climático para projetos voltados a mulheres agricultoras, povos indígenas, comunidades quilombolas e populações costeiras, aliando proteção social, transição energética e sustentabilidade territorial. O GCF já manifestou interesse em apoiar modelos locais de agroecologia, reflorestamento comunitário, gestão de bacias hidrográficas e infraestrutura verde, sempre sob a lógica da “transversalidade do combate à pobreza”.
Representantes do Fundo afirmaram que a adesão à Aliança reflete uma prioridade institucional: apoiar estratégias que combinem redução das emissões com aumento da equidade social. “É um passo natural. A segurança alimentar e a adaptação às mudanças climáticas não podem mais caminhar separadas”, declarou um porta-voz do GCF durante evento recente.
O Ministério do Desenvolvimento Social destacou que, com a chegada do Fundo Verde, a Aliança se fortalece tanto no volume de recursos quanto na sofisticação das soluções. Projetos que antes dependiam exclusivamente de orçamento público nacional agora poderão acessar linhas internacionais voltadas à resiliência climática e à justiça social. A expectativa é que a sinergia com o GCF permita que dezenas de iniciativas socioambientais saiam do papel já nos próximos dois anos.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza consolida, assim, uma plataforma de ação internacional que articula recursos, conhecimento e vontade política. Em um cenário global em que as metas de desenvolvimento sustentável estão sob ameaça, trata-se de um movimento que busca reverter a fragmentação das respostas tradicionais e criar uma coalizão capaz de enfrentar as múltiplas dimensões da pobreza. Ao integrar inclusão produtiva com políticas de gênero e ação climática, a Aliança pretende não apenas aliviar a fome — mas transformar estruturas de exclusão, com foco na dignidade, na autonomia e na justiça global.
Com informações da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), e do Fundo Verde do Clima (GCF).
