Economia brasileira alcança crescimento sólido em 2023, mas desafios persistem para 2024
Blog do IFZ | 01/03/2024
O Brasil testemunhou um ano de avanços econômicos em 2023, marcado por um crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) e uma série de desafios em diferentes setores da economia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do país registrou um aumento significativo de 2,9%, totalizando R$ 10,9 trilhões.
O setor agropecuário foi o grande destaque, apresentando um crescimento recorde de 15,1% impulsionado pela excepcional produção de grãos, como soja e milho. Esse crescimento não apenas beneficiou diretamente a agropecuária, mas também teve impactos positivos em outros setores, incluindo exportações e parte da indústria de alimentos e serviços relacionados.
Por outro lado, a indústria enfrentou desafios diversos. Enquanto a indústria extrativa registrou um crescimento notável de 8,7%, impulsionada pela demanda global por commodities, a indústria de transformação teve uma queda de 1,3%. Essa disparidade reflete os desafios estruturais enfrentados pelo setor industrial, como falta de investimentos em tecnologia e infraestrutura.
O setor de serviços, por sua vez, apresentou um crescimento sólido de 2,4%, com destaque para atividades financeiras e de seguros, que cresceram 6,6%. Esse desempenho ressaltou a resiliência do setor em meio a um ambiente econômico global instável.
O consumo das famílias foi um dos motores do crescimento econômico, impulsionado pelo aumento da renda disponível e pela redução da inflação. Programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, contribuíram significativamente para o aumento do poder de compra dos brasileiros.
Apesar desses avanços, o investimento registrou uma queda significativa de 3% ao longo do ano, evidenciando desafios na formação bruta de capital fixo e na capacidade de crescimento sustentado a longo prazo.
No âmbito internacional, a recuperação econômica de países parceiros e a estabilidade geopolítica proporcionaram um ambiente favorável para as exportações brasileiras, impulsionando o desempenho do setor externo.
Entretanto, os desafios estruturais persistem, e as projeções para 2024 indicam um crescimento mais modesto, com expectativas em torno de 1,7%. Reformas estruturais, a volatilidade dos mercados internacionais e a evolução da pandemia de COVID-19 continuam a influenciar o cenário econômico do país, demandando políticas públicas e estratégias empresariais voltadas para a promoção da competitividade, investimento e inovação.
Embora 2023 tenha refletido a resiliência da economia brasileira diante de desafios, a estagnação no segundo semestre indica a necessidade de enfrentar questões estruturais para garantir um crescimento inclusivo e sustentado no longo prazo.
Em relação às projeções para 2024, analistas indicam uma desaceleração da atividade econômica, influenciada por fenômenos climáticos adversos e ajustes na política monetária. O ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic, pode oferecer estímulo ao consumo e à atividade econômica, mas o cenário continua sujeito a uma série de incertezas, tanto domésticas quanto globais.
Destaques das taxas de crescimento da economia brasileira em 2023:
Agropecuária: 15,1%
Consumo das famílias: 3,1%
Serviços: 2,4%
Consumo do governo: 1,7%
Indústria: 1,6%
Exportações: 9,1%
Importação: -1,2%
Investimentos: -3%
O que esperar do crescimento da economia brasileira em 2024?
As expectativas de crescimento da economia brasileira em 2024 são de crescimento, mas em ritmo inferior ao de 2023.
Os analistas do mercado financeiro projetam um PIB de 1,75% em 2024, segundo o mais recente Boletim Focus do Banco Central. Foi a segunda alta consecutiva do levantamento, que é semanal.
Vilma Pinto, da IFI, explica que um dos fatores para uma projeção de um crescimento menor em 2024 é que este ano começou com um “impulso” ou “herança” menor do que 2023 – o chamado carregamento estatístico.
“Tem uma conta que a gente chama de carregamento estatístico, que é: se a economia ficar estagnada em 2024, quanto vai crescer o PIB só pelo ‘ponto de partida’? Para este ano, esse carregamento estatístico está muito menor do que no ano passado”, diz a economista.
A economista Vivian Almeida diz: “Em 2024, ainda que a gente não repita o agro, temos outros condicionantes que potencialmente manterão a previsão do PIB em 1,7%, como consumo das famílias e uma participação do investimento.”
Almeida acrescenta que uma trajetória de queda da taxa de juros “incentiva investimento, consumo e manutenção do desemprego em níveis mais baixos.”
Trece, da FGV, também diz que a perspectiva de redução de juros neste ano como “grande destaque para 2024 porque vai ajudar a fazer com que a economia continue crescendo”.
A taxa Selic está em 11,25% ao ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter aprovado uma redução em relação ao patamar anterior, de 11,75% ao ano.
A expectativa do mercado é que a taxa continue caindo até encerrar o ano em 9% ao ano, segundo o Boletim Focus.
Fatores externos – como eleição nos Estados Unidos – também podem afetar as decisões sobre juros no Brasil, como lembra Trece.
Na política interna, uma questão que os economistas estão de olho é a discussão fiscal. O déficit fiscal zero em 2024 está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas uma eventual mudança vem sendo discutida.
O que esperar do crescimento econômico na América Latina em 2024?
A projeção de crescimento da economia brasileira feita pelos analistas do mercado e divulgada pelo Banco Central no Boletim Focus é muito próxima do que prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil em 2024: um PIB de 1,7%, segundo previsão divulgada em janeiro (0,2 ponto percentual acima da previsão anterior).
A mudança, segundo a instituição, ocorreu principalmente devido aos efeitos de um aquecimento da demanda interna e de um crescimento acima do esperado das grandes economias parceiras comerciais do Brasil.
Para a América Latina e o Caribe, em geral, a projeção do FMI também é de um crescimento menos intenso em 2024 (1,9%) do que em 2023 (2,5%).
A projeção para a região foi reduzida em janeiro (de 2,3% para 1,9%) como reflexo do “crescimento negativo na Argentina no contexto de um ajuste de política significativo para restaurar a estabilidade macroeconômica”, segundo o FMI.
Para a economia global, o FMI projeta um crescimento de 3,1% – mesmo nível previsto para 2023.
No debate sobre dificuldades dos economistas nas projeções para o PIB, Trece aponta que um fator que desafia as previsões – especialmente em países onde a agropecuária é muito forte – é o efeito de mudanças climáticas.
“Isso vai ficar cada vez mais evidente”, diz. “Quanto mais a economia depende do agronegócio, nesse contexto que a gente vê cada vez mais as questões climáticas tomando conta, fica cada vez mais incerto fazer projeção de PIB, porque você pode ter uma expectativa muito grande de safra, mas um risco muito elevado também, porque se tiver qualquer impacto pode perder toda uma produção. É diferente, por exemplo, do que você consegue prever em uma expectativa de investimento na indústria de transformação.”
Com informações do IBGE, FMI, BBC, Reuters, G1 e Valor Econômico