Blog do IFZ | 09/02/2024
Em 2021, as cadeias de produção e distribuição de alimentos no Brasil foram responsáveis por uma expressiva emissão de 1,8 bilhão de toneladas de gases do efeito estufa, representando 73,7% do total de emissões do país naquele ano. Essa significativa contribuição não derivou principalmente da produção de alimentos em si, mas sim do desmatamento para a conversão de vegetação nativa em lavouras e pastos.
Os dados, provenientes de um estudo inédito patrocinado pelo Observatório do Clima, abrangem o desmatamento, a mudança no uso da terra, as emissões da agropecuária (incluindo o metano proveniente do “arroto do boi”), o consumo de energia e a produção de resíduos nos processos agrícolas e industriais.
Destaca-se que a produção de carne no Brasil é a principal vilã, não tanto pela emissão de metano pelos animais, mas devido ao fato de a pecuária ser responsável pela maior parcela do desmatamento para a conversão em pastagens. Do total de 1,8 bilhão de toneladas de gases emitidas em 2021 pelo sistema de produção de alimentos, impressionantes 77,6% são atribuídos à produção de carne. Dessas emissões, 70,6% estão relacionadas à mudança no uso da terra, principalmente o desmatamento, enquanto 29,2% provêm da produção em si. Os restantes 0,2% originam-se do consumo de energia e da produção de resíduos.
O estudo destaca uma constatação impactante: se a carne bovina brasileira fosse considerada um país, ocuparia a sétima posição como maior emissor de gases do mundo, superando até mesmo o Japão. Em 2019, o Brasil já era o terceiro maior emissor global de gases do efeito estufa na produção de alimentos, ficando atrás apenas da China e da Índia, e à frente dos Estados Unidos.
Entretanto, em contraste com esses quatro países, onde a maioria das emissões ocorre nas fases pré e pós-produção agropecuária, o Brasil destaca-se pelo peso significativo das emissões relacionadas ao desmatamento. Portanto, a recuperação e o uso de terras degradadas para plantação e criação podem potencialmente posicionar o Brasil como um produtor mais sustentável em comparação com seus principais concorrentes.
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, enfatiza que o relatório é um apelo à responsabilidade para os representantes do agronegócio e o governo. O estudo destaca que a atuação do agronegócio tem um papel crucial para determinar se o Brasil será considerado um herói ou vilão no que diz respeito às questões climáticas. Astrini observa que, até o momento, o setor parece inclinado a assumir o papel de vilão, buscando alterações na legislação sobre terras indígenas, legalizando a grilagem e eliminando o licenciamento ambiental, enquanto busca se isentar de obrigações no mercado de carbono por meio de manobras no Congresso.
O estudo também destaca o potencial positivo do Brasil no combate às emissões. Investimentos em recuperação e manejo de solo, com propostas para a captura de carbono, já proporcionam ao país uma captura anual significativa de 200 milhões de toneladas de CO2. Com 96 milhões de hectares de terras degradadas que emitem carbono, o Brasil possui um vasto potencial para expandir essa capacidade de captura.
Os pesquisadores ressaltam a necessidade de implementar políticas em larga escala que incentivem tecnologias de baixas emissões na agropecuária, como o plantio direto, a recuperação de pastagens com níveis de degradação e a implementação de sistemas integrados.
Em um movimento positivo, o governo brasileiro incorporou ao Plano Safra de 2021 medidas de benefícios para produtores que adotarem práticas de produção mais sustentáveis, proporcionando recursos com juros mais baixos à medida que implementam mais medidas ambientalmente corretas.
Com informações de
UOL | Cadeia de alimentos responde por 73,7% das emissões do país e desmatamento é principal fator, mostra estudo
FORBES/REUTERS | Cadeia de alimentos emite muito GEE, mas também é a solução para colocar o país como herói do clima