A Internacionalização da Agricultura Brasileira e os Efeitos nos Preços, Disponibilidade e Consumo de Alimentos no Brasil

Chamada MS-SCTIE-Decit / CNPq Nº 26/2019
Pesquisas em Alimentação e Nutrição
Eixo 1 – Economia da Saúde com Foco nas Ações de Alimentação e Nutrição
Linha 6 – Evolução do Preço e Consumo dos Alimentos no Brasil

Inflação de Alimentos no Brasil de 2007 a 2022 | Componentes do IPAB, Papel das Cadeias Agroalimentares e Influência do Grau de Processamento dos Produtos

O objeto deste texto é a manifestação e as características da inflação de alimentos no Brasil, a partir de 2007. Isto se explicita quando os alimentos encarecem relativamente aos demais produtos de consumo, por período longo de tempo. Entre 2007 e 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o oficial de inflação ao consumidor no País, elevou-se em 126,0%. Por sua vez, o Índice de Preços de Alimentos e Bebidas (IPAB), um dos nove grupos componentes do IPCA, cresceu 214,2%, 88,1 pontos porcentuais a mais. Dos 16 anos considerados, apenas em três o IPAB foi menor que o IPCA (IBGE, 2023).

Com base no conceito de cadeia agroalimentar, pode-se dizer que os preços ao consumidor de alimentos sofrem influências, especialmente, das condições prevalecentes na agricultura, na indústria alimentícia e na distribuição do atacado e varejo. Farina e Nunes (2002) calcularam queda real de 20% no preço da alimentação no Brasil, de agosto de 1994 a fevereiro de 2002. Entenderam que ganhos de produtividade e redução de margens na indústria de alimentação e distribuição de alimentos (particularmente, nos supermercados) tiveram maior importância do que o ocorrido na agricultura como causa daquela redução.

Exportações Agícolas e Preços de Alimentos ao Consumidor do Brasil

Inflação de Alimentos no Brasil de 2007 a 2022
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Vídeo de introdução ao estudo

Breve resumo dos principais resultados obtidos no desenvolvimento do Projeto de Pesquisa “A Internacionalização da Agricultura Brasileira e os Efeitos nos Preços, Disponibilidade e Consumo de Alimentos no Brasil”

Estudos de outros autores, como Mendonça de Barros et al (2001), Castro e Magalhães (2006) e Baccarin e Oliveira (2021), permitem inferir que a queda real dos preços de alimentos no Brasil se estendeu por prazo mais amplo, de 1975 e 2006, ainda que ocorressem elevações em determinados subperíodos. Particularmente, o estudo de Mendonça de Barros et al (2001), englobando o período 1975 a 2000, aponta os ganhos da produtividade agrícola como principal motivo para redução do preço real dos alimentos. A divergência deste resultado com o do trabalho de Farina e Nunes (2002) talvez se deva aos períodos diversos dos dois estudos.

A mudança de tendência, a partir de 2007, quando passa a se verificar aumento real dos preços dos alimentos no Brasil, é relacionada por Baccarin e Oliveira (2021) não à indústria ou aos serviços, mas a acontecimentos na agricultura nacional, sob influências de condições internacionais. Ocorreu elevação do nível de abertura comercial agrícola, coincidente com a tendência de elevação de cotações internacionais dos alimentos, acirrada ou amenizada pelas variações da taxa de câmbio do País. De 2006 a 2019, houve elevação real de 31,0% no ÍPC-FAO (Índice de Preços de Alimentos da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), fortemente até 2011 e com recuo posterior, sem que se voltasse ao patamar inicial. Sob os efeitos da pandemia da Covid 19, as cotações internacionais cresceram 51,1%, em termos reais, de 2019 a 2022, com o ápice sendo atingido em março de 2022 (FAO, 2023).

Os impactos inflacionários da Covid 19 têm sido discutidos em trabalhos da CEPAL/ FAO (2020); Schneider et al (2020); Zago (2021) e OXFAM (2022). No início, levantou-se a hipótese de que os efeitos negativos da pandemia, com redução do crescimento econômico, aumento do desemprego e queda do poder aquisitivo, ao diminuírem a demanda, pudessem conter os preços dos alimentos. De fato, contatou-se redução no consumo das famílias e agravamento dos índices de insegurança alimentar (FAO et al, 2022). Mas a redução dos preços não se verificou, em decorrências de problemas nas cadeias de valores, na produção e no comércio mundial. Um fator adicional foi a ocorrência de fortes movimentos especulativos com os preços dos alimentos, em 2020 e 2021, que resultaram em elevação da lucratividade de empresas transnacionais que controlam grande parte do comércio mundial desses produtos.

Inflação dos Alimentos [Foto: EBC]

Existe uma continuidade ou persistência na inflação de alimentos no mundo e no Brasil, que já dura mais de 15 anos, com efeitos sociais negativos, em especial entre os mais pobres, que usam parcela mais significativa de suas rendas para se alimentarem. Há também um agravamento após a Covid 19, acompanhando seus efeitos sociais e econômicos desfavoráveis, o que justifica tratar especificamente o período 2020-2022, em comparação ao 2007-2019.

O objetivo do texto é identificar, a partir de diferentes classificações dos componentes do IPAB, as origens de pressões inflacionárias dos alimentos no Brasil, para o período 2007 a 2022, ressaltando os anos sob os efeitos da Covid 19, de 2020 a 2022. Especificamente, pretende-se: a) determinar o peso dos diversos componentes na inflação de alimentos, de acordo com a sistemática de classificação obtida diretamente de dados do IPCA; b) verificar a importância de diversas cadeias agroalimentares no aumento de preços, de acordo com o grau de abertura externa; c) analisar a variação de preços de grupos de produtos com diferentes graus de processamento.

As análises são feitas com base nos dados de inflação ao consumidor, mensalmente levantados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em capitais/regiões metropolitanas e nacionalmente. Como se verá adiante, o IBGE adota sistemática própria de classificação de bens e serviços adquiridos pelos consumidores, cuja análise permite uma série de inferências. Além disto, no artigo foram reclassificados os subitens, último nível de classificação considerados pelo IBGE, para que se verificasse a contribuição de várias cadeias agroalimentares e de produtos com diferentes níveis de processamento para a inflação ao consumidor no Brasil. Na análise das cadeias agroalimentares, elas foram classificadas em três grupos, de acordo com o nível de comércio exterior. Quanto ao nível de processamento, o estudo considerou a situação nacional e a de nove locais em que o IBGE faz pesquisa de preço ao consumidor.

A segunda seção apresenta informações metodológicas. Nas três seções seguintes apresentam-se os resultados encontrados, dos componentes do IPAB, das cadeias agroalimentares e dos produtos de acordo com o grau de processamento. Por fim, a sétima seção é dedicada às conclusões do trabalho.

Baixe/Leia aqui o estudo “A Internacionalização da Agricultura Brasileira e os Efeitos nos Preços, Disponibilidade e Consumo de Alimentos no Brasil

Outras análises, acesso à base de dados e relatórios de apoio podem ser lidos na página do Prof. José Giacomo Baccarin no site da UNESP
https://www.fcav.unesp.br/#!/departamentos/economia-rural/docentes/jose-giacomo-baccarin/internacionalizacao-da-agricultura-e-precos-de-alimentos-no-brasil/ipca-e-inflacao-de-alimentos-no-brasil/

Internacionalização da Agricultura e Efeitos na Disponibilidade, Preços e Consumo de Alimentos no Brasil

IFZ | 19/09/2023

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Baixe aqui a apresentação usada usada pelo Prof. José Baccarin

Seminário realizado em parceria com o Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza | IEA-USP
Apoio: Instituto Ibirapitanga e Instituto Clima e Sociedade (iCS)