Em 2023, os trópicos perderam 10 campos de futebol por minuto, segundo o Global Forest Watch
Por Daniela Chiaretti no Valor Econômico | 04/04/2024
Em 2023, os trópicos perderam 3,7 milhões de hectares de floresta primária. Isso equivale a 10 campos de futebol por minuto. A redução das perdas no Brasil e na Colômbia estão entre as mais significativas, mas foram compensadas por aumentos na Bolívia, no Laos e na Nicarágua. Fora dos trópicos também aconteceram aumentos com o Canadá batendo recordes devido aos incêndios florestais.
Os trópicos perderam 9% de florestas primárias em 2023 do que em 2022, o que é uma boa notícia. O lado negativo, contudo, é que a taxa se mantém constante e o mundo perde, rapidamente, um mecanismo natural de combate à crise do clima, proteger a biodiversidade e apoiar a subsistência de milhões de pessoas.
Com este desempenho, o mundo está fora de curso para alcançar as metas florestais de 2030. O compromisso de deter o desmatamento em seis anos foi feito na Conferência do Clima de Nações Unidas de Glasgow, a COP 26, em 2021, na Declaração de Líderes.
O Brasil conseguiu reduzir 36% na perda de floresta primária em 2023, o nível mais baixo desde 2015. A Colômbia, por seu turno, reduziu sua perda florestal pela metade, com queda de 49%.
Os dados são da análise anual do Global Forest Watch (GFW), plataforma online que fornece dados de monitoramento de florestas. Lançada em 2014, permite acesso e informações quase em tempo real sobre a dinâmica nas florestas no mundo. Desde a criação, quatro milhões de pessoas visitaram o GFW de todos os países. A plataforma é do World Resources Institute, think tank com 2.000 funcionários no mundo.
O Global Forest Watch é alimentado por dados do Laboratório GLAD da Universidade de Maryland, que investiga métodos, causas e impactos da mudança global na superfície da terra.
No ano passado, a perda global de cobertura florestal aumentou 24% em relação a 2022, o que pode ser explicado pela perda massiva no Canadá, diz o texto.
“O mundo deu dois passos para a frente e dois passos para trás quando se trata da perda de florestas em 2023”, diz Mikaela Weiise, diretora do Global Forest Watch, do WRI, em nota à imprensa. “As quedas acentuadas na Amazônia brasileira e na Colômbia indicam que o progresso é possível, mas o aumento do desmatamento em outros lugares praticamente anulou o progresso”.
Para alcançar a meta de zero desmatamento em 2030, o mundo deveria reduzir as perdas em 10% todos os anos.
A República Democrática do Congo voltou a perder mais de meio milhão de hectares de floresta primária em 2023, um aumento de 3%. O país ocupa o segundo lugar entre os com maior perda de floresta tropical. A perda de floresta na Indonésia continua a ser historicamente baixa, apesar de um aumento de 27% no ano passado.
A Bolívia registrou o terceiro ano consecutivo de recorde de perda -27% mais do que em 2022. Laos e Nicarágua registraram perdas muito altas em relação às suas dimensões, segundo a análise do GFW.
“Estamos orgulhosos de ver um progresso marcante no Brasil, especialmente na Amazônia”, registra Mariana Oliveira, gerente do programa de florestas, uso da terra e agricultura do WRI Brasil. O relatório, contudo, registra as perdas no Cerrado e no Pantanal no período.
O Cerrado teve um aumento de 6% na perda de cobertura de 2022 a 2023, mantendo a tendência de crescimento dos últimos cinco anos. “O Cerrado é o epicentro da produção agrícola no país e a extensão de sua produção de soja mais do que dobrou nos últimos 20 anos”, diz o texto. O Pantanal, maior área úmida tropical do mundo, teve pico de perda florestal em 2023 causada por incêndios.
A análise do Global Forest Watch atribui o bom desempenho do Brasil na Amazônia, e da Colômbia, à mudança de liderança política. “O progresso no Brasil e na Colômbia destaca a importância da vontade política”, diz o texto.
Publicado originalmente no Valor Econômico
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