Na COP30 de Belém, financiamento e indicadores serão decisivos para enfrentar a crise climática

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Na COP de Belém estão em jogo a forma de aplicação dos recursos e os indicadores necessários para avaliar as medidas de enfrentamento à emergência climática

Blog do IFZ | 02/09/2025

Em COP30: avançar numa transição justa e na implementação de uma agenda climática, artigo de opinião assinado por Pedro Roberto Jacobi, José Irivaldo Alves Oliveira Silva e Gabriela Marques Di Giulio, publicado no Nexo Jornal, os autores afirmam que a COP30 se anuncia sob o peso de três grandes dilemas: financiamento climático, combustíveis fósseis e metas globais de redução de emissões. Embora não sejam temas inéditos, chegam ao Brasil com uma densidade política singular e impacto decisivo sobre o futuro da governança climática mundial.

A COP é o espaço central onde as nações tentam costurar consensos frágeis, alinhar estratégias nacionais e articular políticas capazes de enfrentar a maior ameaça do nosso tempo: a emergência climática. A distância entre a urgência da crise e os tímidos avanços das últimas conferências, contudo, continua a ser motivo de apreensão.

O financiamento permanece como o nó mais duro. Há anos discute-se não apenas o montante a ser mobilizado, mas também a origem desses recursos. Na COP29, em Baku, um estudo estimou que seriam necessários US$ 1,3 trilhão até 2035. O acordo, no entanto, mal chegou a US$ 300 bilhões. O Grupo Independente de Especialistas de Alto Nível em Financiamento Climático (IHLEG) calcula que os países em desenvolvimento, excluindo a China, precisariam investir US$ 2,7 trilhões anuais até 2030. Metade desse valor deveria vir de fontes externas, combinando recursos públicos internacionais e fluxos privados transfronteiriços.

Outro ponto crucial são as metas climáticas — as chamadas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Elas traduzem, no papel, o compromisso formal de cada país em cortar emissões e ampliar ações de adaptação. Até agosto, pouco mais de 20 nações haviam apresentado suas novas NDCs. O Brasil cumpriu o prazo inicial, mas a morosidade global compromete a transparência, fragiliza o monitoramento e envia sinais contraditórios tanto à sociedade quanto ao setor produtivo.

Em Belém, estará sobre a mesa também a definição de indicadores claros para medir o alcance das ações climáticas. Em Bonn, durante a conferência intermediária de 2025, houve progressos na discussão sobre métricas e sobre a Meta Global de Adaptação (GGA), fundamental para países do Sul Global, os mais expostos aos impactos. Mas persistem tensões: enquanto os países em desenvolvimento defendem a vinculação direta entre financiamento e implementação dos indicadores, o Norte Global resiste a essa associação.

A pauta não se restringe ao financiamento e às metas. Questões como transição justa, adaptação e mercados de carbono estarão igualmente em evidência. Movimentos sociais e organizações civis insistem que a transição para economias de baixo carbono não pode ser apenas tecnológica: deve ser também socialmente equitativa, garantindo empregos, direitos e recursos para os setores mais vulneráveis.

Nesse cenário, a diplomacia brasileira se projeta com a ambição de reconstruir o multilateralismo climático, reposicionar o debate global e exigir que as metas deixem de ser promessas vazias para se tornarem políticas concretas. Para Jacobi, Silva e Di Giulio, a COP30 será um ponto de inflexão: ou se traduz compromisso em prática, com centralidade para a justiça climática, ou a oportunidade se perderá no labirinto das negociações.

Se Belém avançar na definição de métricas e no fortalecimento do financiamento, poderá ser lembrada como a conferência que deixou de lado as hesitações e abriu uma nova etapa na luta contra a emergência climática global.

“A COP é fundamental para garantir o alinhamento entre as partes e estabelecer políticas que sejam referência para o desenvolvimento de estratégias nacionais e subnacionais voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas.”