Política Alimentar IFPRI 2025: Lições e Prioridades para um Mundo em Mudança

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Relatório Global de 2025 do IFPRI revisita 50 anos de pesquisa e traça caminhos para enfrentar a fome, a má nutrição e os desafios ambientais até 2050

Blog do IFZ | 06/10/2025

Baixe aqui o relatório completo “Food Policy: Lessons and Priorities for a Changing World
Baixe aqui o resumo do relatório “Food Policy: Lessons and Priorities for a Changing World

Ao completar meio século de existência, o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI) lança um documento que condensa a trajetória de cinco décadas de reflexão e ação: o “2025 Global Food Policy Report – Food Policy: Lessons and Priorities for a Changing World”. Mais do que uma retrospectiva, trata-se de um guia para os próximos 25 anos, quando a humanidade terá de alimentar quase 10 bilhões de pessoas em um planeta sob pressão climática, geopolítica e social.

A mensagem central é clara: o progresso obtido desde a Revolução Verde e a queda expressiva da pobreza extrema não bastam mais. As conquistas se desaceleraram, algumas se inverteram, e hoje a fome volta a crescer em certas regiões. Ao mesmo tempo, aumentam o sobrepeso, a obesidade e as doenças associadas à má alimentação. Diante de um mundo em transformação acelerada, o IFPRI propõe renovar políticas, reorientar investimentos e repensar as prioridades da pesquisa em sistemas alimentares.

Da Revolução Verde às cadeias globais de valor

O relatório recorda que a fundação do IFPRI, em 1975, ocorreu em meio à crise alimentar de 1972–1975, quando ficou evidente que aumentar a oferta de grãos não resolvia, por si só, o problema da fome. O trabalho de Amartya Sen ajudou a consolidar a ideia de que o acesso à comida depende de renda, oportunidades e políticas públicas eficazes.

As décadas seguintes testemunharam mudanças profundas: nos anos 1980 e 1990, a liberalização econômica reduziu a presença direta do Estado nos mercados agrícolas e deu mais espaço ao setor privado. Reformas em países como China e Vietnã mostraram o potencial de políticas bem desenhadas para ampliar a produção e reduzir a pobreza. Nos anos 1990 e 2000, a globalização expandiu as cadeias de valor, criando novos mercados e oportunidades para milhões de pequenos produtores, mas também introduzindo vulnerabilidades a crises de preços e choques externos.

A trajetória recente, porém, revela um quadro inquietante: a queda nos investimentos públicos em pesquisa agrícola, a persistência da fome em regiões como a África Subsaariana, a crise alimentar de 2007/08, os impactos da pandemia de COVID-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia expuseram a fragilidade de sistemas cada vez mais interdependentes.

Prioridades até 2050: seis frentes essenciais

O Relatório Global de 2025 estrutura uma agenda ambiciosa em seis áreas que, segundo o IFPRI, devem guiar políticas e pesquisas nas próximas décadas:

  1. Resiliência e inclusão
    Populações afetadas por conflitos, mudanças climáticas e choques econômicos precisam estar no centro das estratégias. Soluções devem ser contextualizadas e incluir mulheres, jovens e grupos marginalizados.
  2. Dietas e ambientes alimentares saudáveis
    O desafio não é apenas combater a fome, mas também lidar com deficiências nutricionais, obesidade e doenças crônicas. É preciso transformar ambientes alimentares, regulando práticas comerciais e estimulando escolhas mais saudáveis.
  3. Novas tecnologias
    Inteligência Artificial, biotecnologia e digitalização oferecem oportunidades inéditas, mas também riscos de exclusão. A prioridade é assegurar que pequenos agricultores e comunidades vulneráveis não fiquem para trás.
  4. Engajamento do setor privado
    Investimentos privados em pesquisa, inovação e cadeias de valor são decisivos, desde proteínas alternativas até agricultura vertical. Cabe às políticas públicas criar marcos regulatórios que incentivem práticas sustentáveis.
  5. Redirecionamento dos investimentos públicos
    Subsídios agrícolas devem ser repensados para favorecer práticas sustentáveis. Parcerias público-privadas podem ampliar o alcance das inovações.
  6. Pesquisa interdisciplinar e fortalecimento de capacidades locais
    A complexidade dos sistemas alimentares exige colaboração entre agricultura, saúde, comércio e meio ambiente. Além disso, é fundamental investir na formação de capital humano e na autonomia científica de países em desenvolvimento.

Lições de cinco décadas

O relatório organiza seus 24 capítulos em seis seções que cobrem desde os caminhos do progresso até as prioridades regionais. Entre os temas explorados, destacam-se:

  • O impacto da pesquisa em políticas alimentares e da transformação agrícola como motor de desenvolvimento.
  • Os vínculos entre sistemas alimentares, mudanças climáticas e saúde dos ecossistemas.
  • Instrumentos de apoio aos agricultores, como extensão rural, melhoramento genético e seguros agrícolas.
  • A importância da proteção social, da igualdade de gênero e da ação em contextos de fragilidade e conflito.
  • Questões macroeconômicas como governança, comércio, inovação e financiamento.
  • Experiências específicas de África, Ásia, América Latina e Caribe, Oriente Médio e Norte da África, evidenciando que soluções globais precisam ser adaptadas a realidades locais.

Um chamado à ação

Ao revisitar 50 anos de pesquisa e políticas, o IFPRI reitera que a tarefa que o motivou em 1975 — acabar com a fome e a má nutrição — continua atual, embora mais complexa. O relatório defende que a ciência de políticas alimentares deve ser cada vez mais ousada, colaborativa e inovadora, capaz de enfrentar simultaneamente as desigualdades sociais, os impactos ambientais e as rápidas transformações tecnológicas.

“Assim como a Revolução Verde respondeu aos dilemas dos anos 1970, a nova geração de políticas alimentares deve enfrentar os dilemas do século XXI com inclusão, sustentabilidade e justiça”, afirmam os editores Johan Swinnen e Christopher B. Barrett.

Política Alimentar: Lições e Prioridades para um Mundo em Mudança é, portanto, mais do que um relatório. É um convite à reflexão e ao engajamento, um chamado para que governos, sociedade civil, setor privado e comunidade científica se mobilizem por sistemas alimentares que ofereçam a todos um futuro mais saudável, equitativo e sustentável até 2050.

Baixe aqui o relatório completo “Food Policy: Lessons and Priorities for a Changing World
Baixe aqui o resumo do relatório “Food Policy: Lessons and Priorities for a Changing World

O documento completo está disponível online no site do IFPRI