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Sou, basicamente, um profissional da terra, um engenheiro agrônomo, que viu na questão fundiária um eixo fundamental do desenvolvimento do país, e está convencido disso

Proteção Social Antecipatória
Sou, basicamente, um profissional da terra, um engenheiro agrônomo, que viu na questão fundiária um eixo fundamental do desenvolvimento do país, e está convencido disso
IFZ e IIED implementam primeiro projeto de avaliação da capacidade de proteção social climática no Brasil
Brasília/Londres, setembro de 2025 | A parceria entre o Instituto Fome Zero (IFZ) e o International Institute for Environment and Development (IIED), estabelecida em maio, já conduz no Brasil o primeiro projeto de aplicação do Índice de Proteção Social Antecipatória para Resiliência (ASPIRE) – uma ferramenta diagnóstica inovadora concebida pelo IIED. A iniciativa fortalece a capacidade nacional de antecipar riscos e de proteger populações vulneráveis antes que choques climáticos se materializem.
A experiência consolidada do Brasil em políticas de proteção social, aliada à crescente exposição a eventos extremos, como secas e enchentes, torna o país um candidato-chave para a aplicação da metodologia ASPIRE. A parceria se concentrará em análises de políticas públicas, diagnósticos territoriais, articulação de atores estratégicos e ações de capacitação para integrar o risco climático às redes de proteção social existentes.
“Estamos muito entusiasmados com esta parceria com o IIED”, afirmou José Graziano da Silva, Diretor-Geral do Instituto Fome Zero e ex-Diretor-Geral da FAO. “O Brasil é reconhecido globalmente por seus avanços em proteção social e segurança alimentar, mas a crise climática exige que repensemos esses sistemas. Com o ASPIRE, queremos mostrar que é possível — e necessário — agir antes que os desastres aconteçam. Trata-se de dignidade, prevenção e justiça.”
Testada inicialmente no Senegal, a ferramenta ASPIRE avalia tanto os aspectos políticos quanto operacionais dos sistemas nacionais de proteção social, identificando lacunas e propondo soluções concretas. No Brasil, ela será aplicada em territórios semiáridos historicamente afetados por vulnerabilidades climáticas e socioeconômicas.
“Nosso trabalho com o IFZ representa uma oportunidade única de valorizar o legado brasileiro em proteção social e, ao mesmo tempo, promover uma nova geração de estratégias resilientes ao clima”, declarou Ritu Bharadwaj, Diretora de Resiliência Climática, Finanças e Perdas e Danos do IIED. “À medida que os impactos da mudança climática se intensificam, torna-se urgente que os governos adotem modelos antecipatórios. O IFZ oferece a legitimidade, a expertise e as conexões necessárias para tornar essa transformação realidade no Brasil e em toda a América Latina.”
A iniciativa é apoiada pela organização britânica Comic Relief, uma organização filantrópica do Reino Unido, por meio de seu programa de Justiça Climática, e está alinhada com o papel de liderança do Brasil no G20 e na COP30, que será realizada em Belém, na Amazônia. Como parte da parceria, o IFZ organizará diálogos políticos de alto nível, atuará em articulação com ministérios, sociedade civil e setor de seguros, além de colaborar no desenho e implementação do primeiro piloto do ASPIRE no Brasil.
Ao unir conhecimento global e expertise local, essa parceria pretende transformar o Brasil em referência mundial em proteção social climática — inspirando outros países a seguirem pelo mesmo caminho.
Baixe aqui o manual do “Anticipatory Social Protection Index for Resilience — ASPIRE”
Baixe aqui o documento “ASPIRE Brasil: construindo uma proteção social antecipatória e resiliente“
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Proteção Social Adaptativa: entre a visão do Banco Mundial e a ação antecipatória da FAO
Sou, basicamente, um profissional da terra, um engenheiro agrônomo, que viu na questão fundiária um eixo fundamental do desenvolvimento do país, e está convencido disso
O mundo vive um tempo marcado por choques múltiplos e recorrentes: desastres naturais, crises econômicas, pandemias, conflitos armados e deslocamentos forçados. Esses choques, interconectados e cada vez mais frequentes, atingem de forma desproporcional os mais pobres e vulneráveis, que dispõem de menos recursos para se proteger, reagir e se recuperar. Nesse contexto, a proteção social deixa de ser apenas um colchão contra a pobreza e passa a ser compreendida como um pilar da resiliência climática e do desenvolvimento sustentável.
Entre as abordagens recentes, duas merecem destaque: o conceito de Adaptive Social Protection (ASP), do Banco Mundial, e a lógica de ação antecipatória promovida pela FAO. Embora partam de perspectivas distintas, ambas convergem em uma mensagem central: os sistemas de proteção social precisam ser flexíveis, inclusivos e capazes de responder de forma preventiva e transformadora aos riscos crescentes.
O conceito do Banco Mundial: preparar, enfrentar e adaptar
O Banco Mundial estruturou a proteção social adaptativa a partir da noção de resiliência, definida como a capacidade de uma família se preparar para um choque, lidar com seus efeitos imediatos e adaptar-se no longo prazo, reduzindo vulnerabilidades futuras. Essa visão se desdobra em três dimensões:
- Preparar: ampliar o acesso à informação sobre riscos, estimular a poupança, diversificar instrumentos de proteção (seguros e programas sociais) e criar reservas antes que a crise aconteça.
- Enfrentar (coping): garantir meios de suavizar perdas de renda e consumo logo após o impacto, evitando estratégias prejudiciais, como a venda de ativos ou a retirada de crianças da escola.
- Adaptar: apoiar mudanças estruturais que reduzam a exposição a riscos, como diversificação de meios de vida, fortalecimento de ativos produtivos e até mesmo migração planejada em contextos extremos.
Essa abordagem vai além da assistência emergencial: trata-se de impedir que as famílias caiam em armadilhas de pobreza crônica.
Quatro blocos estruturantes da ASP
Para transformar esse conceito em prática, o Banco Mundial propõe uma arquitetura baseada em quatro blocos principais:
- Programas: fortalecimento e expansão dos sistemas de proteção social, em especial as redes de segurança. Isso inclui adaptar critérios de elegibilidade a riscos climáticos, prever expansões verticais (aumento temporário de benefícios) e horizontais (inclusão de novos beneficiários em crises), além de integrar medidas de inclusão produtiva e de fortalecimento do capital humano.
- Dados e informação: integração de registros sociais a dados climáticos e socioeconômicos, garantindo atualização contínua, foco em áreas vulneráveis e conexão com sistemas de alerta precoce.
- Financiamento: estratégias de risco que assegurem recursos de forma antecipada, como fundos de contingência, linhas de crédito emergenciais e seguros paramétricos capazes de responder a diferentes intensidades de choques.
- Arranjos institucionais e parcerias: liderança governamental, coerência de políticas entre setores (proteção social, gestão de riscos e adaptação climática) e alianças estratégicas com atores não governamentais e humanitários.
Esse desenho permite que a proteção social deixe de ser apenas reativa e se torne também preventiva e transformadora.
Evidências práticas e lições
A experiência internacional mostra que a ASP gera resultados concretos:
- No Quênia, o Hunger Safety Net Programme possui mecanismos automáticos de expansão em períodos de seca, acionados por indicadores climáticos.
- Nas Filipinas, sessões comunitárias vinculadas a programas de transferência de renda também disseminam informação sobre preparação e resposta a desastres.
- No Sahel africano, programas de inclusão produtiva apoiados pelo Banco Mundial promovem diversificação de meios de vida, reduzindo vulnerabilidades estruturais ligadas à seca.
Esses exemplos reforçam que sistemas já existentes podem ser ajustados para responder melhor a choques, desde que apoiados em dados robustos, financiamento previsível e coordenação institucional.
A contribuição da FAO: proteção social adaptativa e ação antecipatória
Se o Banco Mundial oferece um marco conceitual sólido, a FAO avança na implementação prática, especialmente ao articular proteção social e adaptação climática. Para a organização, proteção social adaptativa significa não apenas transferir renda ou garantir acesso a alimentos, mas criar sistemas capazes de absorver choques, prevenir perdas e transformar realidades vulneráveis.
Três elementos se destacam:
- Expansão adaptativa de programas existentes em momentos de crise, seja pelo aumento dos benefícios, seja pela inclusão temporária de novos grupos.
- Integração de políticas sociais e agrícolas, fortalecendo a agricultura familiar, as cadeias curtas de abastecimento e programas como a alimentação escolar.
- Uso de sistemas de alerta precoce e dados climáticos para acionar respostas rápidas e eficazes.
O ponto mais inovador é a ação antecipatória: liberar recursos antes de a crise se consolidar, com base em gatilhos climáticos. Essa lógica permite que famílias preservem meios de vida, evitem estratégias prejudiciais e se recuperem mais rapidamente. Estudos da FAO mostram que cada dólar investido antecipadamente pode economizar múltiplos em ajuda humanitária posterior.
Convergências e o papel do ASPIRE/IIED
Nesse debate, o índice ASPIRE (Anticipatory Social Protection Index for Resilience), desenvolvido pelo IIED, agrega uma camada de avaliação. Ele mede o grau de prontidão dos programas sociais diante de choques climáticos, analisando dimensões como cobertura, adequação dos benefícios, custo-benefício e alcance.
Enquanto o Banco Mundial enfatiza a arquitetura conceitual e a FAO prioriza a ação prática, o ASPIRE contribui com uma ferramenta de mensuração objetiva, permitindo que governos identifiquem lacunas e fortaleçam políticas públicas.
Desafios e caminhos futuros
Apesar dos avanços, há grandes obstáculos para consolidar a proteção social adaptativa:
- Cobertura limitada em muitos países, especialmente em regiões de maior risco climático.
- Financiamento instável, que compromete respostas rápidas e eficazes.
- Coordenação insuficiente entre setores sociais, climáticos e de gestão de risco.
- Inclusão desigual, que pode deixar de fora mulheres, crianças, povos indígenas, migrantes e outros grupos marginalizados.
Garantir que a proteção social adaptativa seja justa, inclusiva e financeiramente sustentável é condição essencial para que ela cumpra seu papel de motor de transformação.
Baixe aqui o documento “Adaptive Social Protection: Building Resilience to Shocks” produzido pelo Banco Mundial.
O único número aceitável para a fome é ZERO | Somos uma organização apartidária, sem fins lucrativos | O combate à fome deve ser a mais alta prioridade nacional
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Transferências de Renda Condicionadas a Práticas Ambientais (ECCT – Environmentally Conditioned Cash Transfers)
As Transferências de Renda Condicionadas a Práticas Ambientais (ECCT – Environmentally Conditioned Cash Transfers) são hoje um dos instrumentos que compõem a cesta de políticas da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Esse mecanismo inovador busca unir a redução da pobreza à promoção de práticas agroecológicas e ambientais sustentáveis, fortalecendo a resiliência das comunidades e ampliando sua capacidade de adaptação diante da crise climática.
Mais do que um simples apoio financeiro, o ECCT representa uma evolução na proteção social: trata-se de garantir renda mínima para populações pobres e vulneráveis, ao mesmo tempo em que se cria um incentivo direto para que adotem práticas que regenerem ecossistemas e favoreçam transições produtivas de baixo carbono. Assim, o instrumento atua em duas frentes – social e ambiental – com benefícios que se retroalimentam.
Os ECCTs baseiam-se em transferências de renda regulares condicionadas à adoção de práticas como manejo climático-inteligente do solo, sistemas agroflorestais, gestão pesqueira sustentável e preservação da agrobiodiversidade local. A focalização dos beneficiários ocorre por meio de registros sociais e agrícolas ou, ainda, com base em índices de vulnerabilidade ambiental e climática, permitindo integrar o instrumento a programas já existentes de proteção social e ampliar seu alcance.
Ao combinar renda com incentivos ambientais, os ECCTs buscam superar barreiras comuns enfrentadas por agricultores familiares, pescadores artesanais, povos indígenas e comunidades dependentes de florestas, como a falta de crédito e o risco percebido em adotar práticas novas. A previsibilidade do apoio dá segurança para inovar e investir em alternativas sustentáveis.
O ECCT não se limita à transferência de renda. Ele prevê serviços complementares que asseguram a adoção bem-sucedida de práticas ambientais, como assistência técnica contínua, capacitação profissional, fornecimento de insumos produtivos e fortalecimento de cadeias de valor locais. Essa arquitetura também incorpora metas explícitas de inclusão social e de gênero. Mulheres, jovens, migrantes e povos indígenas são considerados grupos prioritários, tanto no acesso às transferências quanto nas atividades de capacitação e participação comunitária.
Por sua natureza integrada, os ECCTs contribuem para diversos ODS, como a expansão da proteção social (ODS 1.3), a ampliação do acesso a serviços básicos e a alimentos adequados (ODS 1.4, 2.1 e 2.2), o aumento da produtividade e da renda de pequenos agricultores e pescadores (ODS 2.3), a promoção de sistemas produtivos sustentáveis (ODS 2.4) e a redução das vulnerabilidades frente a choques climáticos e desastres (ODS 1.5 e 2.4).
Para que alcancem os resultados sociais esperados, é essencial que as transferências de renda sejam regulares e adequadas, que os beneficiários sejam bem identificados e que o instrumento esteja alinhado a sistemas de proteção social responsivos a choques. Do lado ambiental, os resultados só se consolidam quando há assistência técnica robusta, mecanismos de monitoramento confiáveis e integração às estratégias climáticas nacionais, como as NDCs e os planos de adaptação.
Quando bem implementados, os ECCTs podem aliviar a pobreza, reduzir desigualdades e fortalecer a resiliência comunitária, ao mesmo tempo em que contribuem para a mitigação de emissões, a regeneração de ecossistemas e a promoção de transições justas. Além disso, reforçam o protagonismo de mulheres e jovens em processos de inovação produtiva e de gestão ambiental, fortalecendo a coesão social e ampliando as oportunidades econômicas.
Paralelo com o ASPIRE/IIED
Embora diferentes em natureza, os ECCTs e o ASPIRE (Anticipatory Social Protection Index for Resilience), desenvolvido pelo IIED, se complementam. O ASPIRE é uma ferramenta diagnóstica, que mede a prontidão de políticas e sistemas de proteção social para enfrentar choques climáticos e socioeconômicos. Já os ECCTs são um instrumento de política em operação, que conecta a transferência de renda diretamente a objetivos ambientais.
Em síntese: o ASPIRE mede o grau de preparação; o ECCT implementa uma solução prática que integra proteção social e sustentabilidade. Ambos refletem a mesma ambição: transformar a proteção social em eixo estratégico de justiça climática e de combate à fome e à pobreza.
