Publicações do 61o. Congresso da SOBER | 2023
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Baixe aqui a apresentação da Aula Magna: Agronegócio: conceito, projeto, implementação e resultados socioeconômicos
Geraldo Sant’ana de Camargo Barros possui graduação em Agronomia pela Universidade de São Paulo (1970), mestrado em Economia Agrária pela Universidade de São Paulo (1973), doutorado em Economia – North Carolina State University (1976) e pós-doutorado em Macroeconomia- University of Minnesota (1989). É Professor Sênior da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Macroeconomia e suas relações com o agronegócio. É Líder e Coordenador Científico do Grupo de Pesquisa ” Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA)”. Tem atuado como consultor do Banco Mundial, FAO, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Federação da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG), Secretaria da Agricultura de Minas Gerais, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). (Fonte: Currículo Lattes)
Walter Belik é professor titular aposentado da Unicamp e diretor do Instituto Fome Zero
O II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Brasil (II Vigisan) divulgado em 2022 (www.olheparaafome.com.br), apontava que 33 milhões de brasileiras estavam sofrendo com a insegurança alimentar grave, isto é, passavam fome, e outros 32 milhões conviviam com insegurança alimentar moderada, ou seja, reduziram a quantidade ingerida de alimentos por falta de recursos.
Surpreendentemente, o mesmo relatório apontou que 21,8% das famílias de agricultores familiares viviam sob insegurança alimentar grave, inseridos num ciclo vicioso de fome e pobreza. Essa situação evidencia a importância da implementação de políticas públicas efetivas para apoiar estas famílias a saírem da condição de insegurança alimentar e contribuírem para a produção de alimentos para os mercados locais. Os desafios dos governantes para a superação da insegurança alimentar são gigantescos, tanto para os que iniciaram seus mandatos em 2023, como para as prefeituras municipais. Desta forma, esta seção propõe a discutir estes desafios e oportunidades para as políticas públicas nos próximos anos voltadas à agricultura familiar e à superação da insegurança alimentar e nutricional.
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Mauro Eduardo Delgrossi – Universidade de Brasília
Lauro Mattei – Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais e Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC
Joacir Rufino de Aquino – Professor Adjunto do Curso de Economia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Campus de Assú/UERN)
José Graziano da Silva – Diretor-Geral do Instituto Fome Zero
Baixe aqui o documento Insegurança Alimentar e Agricultura Familiar desafios atuais e oportunidades
Apresentação para introdução e contextuaização do estudo “Insegurança Alimentar e Agricultura Familiar: desafios atuais e oportunidades“
Mauro Eduardo Delgrossi – Universidade de Brasília
Baixe aqui a apresentação de introdução ao estudo “Insegurança Alimentar e Agricultura Familiar: desafios atuais e oportunidades“
Este artigo tem como objetivo identificar relações não causais entre o consumo calórico diário per capita estimado — utilizado como proxy para segurança alimentar e nutricional — e a renda domiciliar per capita, características populacionais e indicadores de desenvolvimento econômico.
A partir da literatura recente em economia nutricional, que estuda as relações entre rendimentos, preços, necessidades e preferências alimentares, o artigo destaca a multidimensionalidade das características alimentares e dos fatores que afetam o consumo calórico individual.
O principal resultado observado é o efeito da renda no consumo calórico da população brasileira.
relação entre renda e consumo calórico evidencia um problema estrutural que requer políticas públicas de dupla função para combater o duplo fardo da má nutrição.
A distribuição da elasticidade da renda no consumo calórico nos quantis indica que o aumento da renda tem um efeito maior na população com alto consumo calórico do que na população com baixo consumo. Esse problema é agravado nos domicílios rurais.Leia MAIS
Além disso, apenas as mulheres dos domicílios urbanos apresentaram alguma redução no consumo calórico em resposta às variáveis que compunham o modelo, à idade e ao acesso ao esgoto.
Esses resultados apontam para a necessidade de uma análise mais profunda das vias causais que abordem os problemas decorrentes do desenvolvimento econômico e seu impacto na alimentação e na ingestão calórica da população.
João Pedro Magro é Doutorando em Teoria Econômica no Insituto de Economia da UNICAMP
O debate clássico sobre a questão agrária brasileira e sobre os sistemas de produção agropecuária mostra a relação íntima com o processo histórico de desenvolvimento do país. Desde o período das capitanias hereditárias, passando pelos diversos ciclos econômicos (mineração, borracha, açúcar e café) até os dias atuais, esses dois aspectos sempre estiveram presentes no debate político nacional. Durante o ciclo do açúcar, ainda como colônia de Portugal, se instituiu no Brasil uma forma de produção monocultora e voltada para as exportações (açúcar) assentada na grande propriedade da terra que estava concentrada sob os domínios do reino de Portugal, mas que era distribuída para segmentos sociais privilegiados próximos à coroa. Este mesmo processo se repetiu posteriormente nos demais ciclos econômicos, particularmente no ciclo do algodão e da borracha na região Norte do país, que naquele momento era uma grande área em completo abandono; nas regiões Sudeste, com o ciclo cafeeiro, e no Sul, com a expansão da pecuária. Além da concentração da terra, esse processo ocorreu sob o manto da escravidão, que mesmo após seu fim oficial, reproduziu uma cultura que imputava às camadas pobres da população a exploração e a exclusão social. Portanto, é sempre na franja de um processo produtivo comandado pela grande agricultura assentada na concentração da propriedade da terra, ao estilo plantation norte-americano, que vai se firmar aquilo que hoje é conceituado como agricultura familiar, ou seja, uma estrutura produtiva que sempre foi relegada ao segundo plano no processo de desenvolvimento rural do país. Esse quadro foi fortemente alterado no período do Pós-Guerra, quando se adotou a política de “modernização” da agricultura brasileira, processo esse que causou transformações profundas na esfera da produção agropecuária, mas que também trouxe sérias consequências ambientais e sociais. Isso fez com que, historicamente, o segmento da produção familiar brasileira ficasse à margem das políticas públicas destinadas à modernização do “rural brasileiro”, especialmente durante a fase mais aguda desse processo conhecido como “modernização dolorosa”, expressão cunhada por GRAZIANO DA SILVA (1982). É neste contexto que a agricultura familiar insere-se no processo produtivo. Apesar de sofrer perdas de renda e ter dificuldades de acesso aos benefícios das políticas públicas, esta é uma forma de produção que procura estabelecer sistemas produtivos focados na biodiversidade, na valorização do trabalho familiar, na inclusão de jovens e de mulheres, na produção de alimentos destinados à segurança alimentar e nutricional da população brasileira e na promoção da democratização do acesso à terra e aos demais meios de produção, como estratégia de construção do desenvolvimento rural sustentável.
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Lauro Francisco Mattei é Professor Titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Coordenador Geral do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT)
O objetivo desta exposição é fazer um rápido balanço da situação da agricultura familiar no Brasil, destacando o seu perfil e a trajetória recente das políticas públicas para o segmento.
Além disso, pretende-se apresentar experiências de políticas municipais de apoio à produção e
distribuição de alimentos saudáveis (agroecológicos e orgânicos) pela agricultura familiar no Brasil e no semiárido nordestino.
Ao final, elencam-se alguns entraves e desafios para a promoção da SAN e da inclusão produtiva
em pequenos municípios a partir de políticas públicas (federais, estaduais e locais) de fortalecimento da agricultura familiar.
Joacir Rufino de Aquino é economista filiado ao CORECON-RN, professor e pesquisador da UERN (Economia/CAA), vice-presidente da SOBER no Nordeste e membro do Instituto Fome Zero (IFZ)
Apresentação de uma possível “agenda futura” no contexto da Insegurança Alimentar e Agricultura Familiar
José Graziano da Silva – Diretor-Geral do Instituto Fome Zero
Baixe aqui a apresentação “Agricultura Familiar: agendas futuras”
Entre 2007 e 2021, foi constatada no Brasil a inflação de alimentos, com seus preços subindo relativamente mais que outros conjuntos de preços ao consumidor. O objetivo do artigo é analisar como o nível de abertura comercial de 19 cadeias agroalimentares no Brasil influenciou na disponibilidade interna agrícola/agroindustrial e na variação de preço ao consumidor de seus respectivos produtos, entre 2007 e 2021.
A hipótese adotada é que o aumento das exportações líquidas de alimentos pelo Brasil no século XXI, em período marcado por preços internacionais altos, contribuiu para elevar, diretamente, os preços agrícolas dos comercializáveis e de alimentos derivados e, indiretamente, dos não comercializáveis. Usaram-se dados estatísticos de diferentes fontes oficiais, especialmente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), procurando conciliar informações de três bases de dados: fluxos comerciais, produção nacional e variação de preços dos alimentos no domicílio. Contudo, nos anos sob a pandemia da covid-19, em 2020 e 2021, os preços dos comercializáveis tiveram aumento médio maior. Confirmando parcialmente a hipótese levantada, os resultados obtidos no artigo apontam que a influência dos exportáveis sobre a inflação de alimentos no Brasil não dependeu tanto da elevação de seus preços, mas se deu de maneira indireta. O maior dinamismo externo de algumas cadeias dificultou a elevação da produção e o abastecimento do mercado interno no caso dos produtos com comércio exterior menos significativo.
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José Giacomo Baccarin – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Sergio Rangel Fernandes Figueira – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
João Pedro Simões Magro – Universidade de Campinas (UNICAMP)
Gustavo Jun Yakushiji – Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ/USP)
Baixe aqui o documento “Comércio internacional, disponibilidade interna e inflação de alimentos no Brasil, de 2007 a 2021”
Objetivou-se caracterizar a inflação de alimentos no Brasil, entre 2007 e junho de 2022, no geral e considerando-se os itens, as cadeias agroalimentares, de acordo com o nível de abertura externa, o grau de processamento e a manifestação em nove cidades brasileiras. Usaram-se basicamente dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com diferentes níveis de desagregação.
A partir da reorganização de seu nível mais desagregado, os subitens, pode-se analisar a contribuição das cadeias e do grau de processamento. Ficou plenamente caracterizada a inflação de alimentos no Brasil, entre 2007 e junho de 2022, agravada no período da pandemia da Covid 19. A inflação de alimentos no domicílio foi generalizada entre seus componentes. Entre as nove cidades estudadas, de todas as regiões do Brasil, não se constatou grandes diferenças nas variações de preços dos alimentos de todos os grupos considerados.
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José Giacomo Baccarin, Karina Rúbia Nunes, Jonatan Alexandre de Oliveira, Alan Rodrigo Panosso – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Baixe aqui o documento “Características da inflação de alimentos no Brasil, antes e durante a pandemia da Covid-19”
Este estudo analisa a relação entre distribuição de renda, pobreza e insegurança alimentar no Brasil, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004, 2009 e 2013 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018.
Nessas quatro edições, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) levantou, em nível nacional, informações sobre insegurança alimentar, por meio da aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA).
Dada a sua importância, uma seção inicial é dedicada a discutir o próprio conceito de segurança alimentar. Os resultados mostram que a dinâmica da distribuição da renda é o condicionante fundamental da dinâmica da insegurança alimentar no País.
As análises de regressão evidenciam que a insegurança alimentar medida pela EBIA, nos diferentes níveis, está fortemente relacionada com a pobreza.
Ademais, os resultados também sugerem que o forte crescimento da insegurança alimentar, particularmente da insegurança alimentar leve e, com menos intensidade, da moderada, de 2013 a 2017-2018, se deve, em parte, ao caráter parcialmente subjetivo da medida de insegurança alimentar construída a partir da EBIA, estando associado à desilusão com a piora das condições econômicas que se seguiu após um longo período (2003-2014) de melhoria das condições de vida da população brasileira.
Rodolfo Hoffmann é professor sênior da “Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP
Sílvia Helena Galvão de Miranda é professoa associada da Esalq/USP
Josimar Gonçalves de Jesus é pós-doutorando da Esalq/USP
Baixe aqui o estudo “Distribuição de renda, pobreza e insegurança alimentar no Brasil”
No cenário global, o Brasil ocupa papel relevante na economia, na política, na ciência, na cultura, no esporte e em outros tantos e variados campos de manifestação da atividade humana. Não obstante, nesse mesmo Brasil, enormes contingentes populacionais encontram-se na miséria e passam fome.
A persistência dessas privações a direitos humanos básicos se deve menos à escassez absoluta ou relativa de recursos e muito mais ao elevado grau de desigualdade da sua distribuição. O padrão distributivo brasileiro é ímpar no rol das sociedades com níveis semelhantes de desenvolvimento. Trata-se de um dos mais elevados graus de desigualdade de renda do mundo.
A questão da produção e autossuficiência alimentar é, ainda hoje, preocupação de muitos países. No entanto, desde a publicação da obra Poverty and Famines, de Amartya Sen, no início da década de 1980, está bem estabelecido que a fome pode existir mesmo se os suprimentos de alimentos forem adequados em nível nacional e internacional e os mercados estiverem funcionando bem.
Não pode haver dúvida de que há milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no Brasil e que isso não se deve à falta de alimentos no País, ou à inexistência de oferta de alimentos a preços razoáveis, ou a problemas de logística na sua distribuição, mas sim ao fato de essas pessoas não terem acesso a alimentos suficientes, e isso se relaciona, em geral, com o fato de elas não terem renda suficiente para comprar alimentos.Leia MAIS
Os yanomamis não estão morrendo de desnutrição porque falta comida no Brasil, mas sim porque eles não têm acesso aos alimentos produzidos no País – pois nem fazem parte da economia mercantil que condiciona a distribuição desses alimentos -, e os garimpeiros ilegais, invasores, destruíram suas fontes originais de alimentos e até mesmo de água potável.
Nas sociedades mercantis, o acesso a bens e serviços, isto é, o acesso a quase tudo considerado fonte de bem-estar, está intimamente associado ao poder aquisitivo do indivíduo. Em se tratando do Brasil, o Estado garante acesso, mesmo que seja, muitas vezes, de qualidade precária, a serviços básicos como saúde e educação, mas o acesso à alimentação depende, essencialmente, da capacidade de os indivíduos pagarem por ela.
O critério de avaliação de uma economia deve ser o bem-estar das pessoas. Embora a renda esteja longe de ser uma medida perfeita do bem-estar, há uma relação razoavelmente estreita entre bem-estar e renda per capita e a análise da distribuição da renda é uma maneira de avaliar uma economia. A pobreza e as restrições de acesso a alimentos desaparecem com renda elevada e bem distribuída.
O início dos anos 2010 era de otimismo com relação às tendências da desigualdade de renda no País. Afinal, o período 2003-2014 foi o melhor já vivido pelo País em termos distributivos e de redução da pobreza. Porém, ao invés de outra década dourada, o que o Brasil viveu foi a perda de controle sobre as contas públicas, a pior recessão desde a redemocratização, a destituição de uma presidente da República, as duas eleições mais polarizadas da nossa história, a recuperação econômica mais lenta que já experimentamos e a pandemia de covid-19, que, além das perdas incomensuráveis de vidas, afetou fortemente a já debilitada economia brasileira.
Deve ficar claro que a situação socioeconômica do País já era muito frágil antes dessa nova crise: um quarto de toda a redução da pobreza conquistada de 2003 a 2014 foi perdida de 2014 a 2017, permanecendo no novo patamar até 2019; a renda domiciliar per capita média encontrava-se, em 2019, praticamente no mesmo patamar observado em 2014; e a desigualdade da distribuição da renda domiciliar per capita aumentou sobremaneira no período 2014-2019. Mas, também, não pode haver dúvida de que a desestruturação de políticas públicas de combate à fome e à insegurança alimentar e a clara ausência de combate efetivo à pandemia, por parte do último governo, contribuíram sobremaneira para a preocupante e desalentadora situação que estamos vivendo.
Neste cenário de crises sanitária e econômica, de muita incerteza, com alta taxa de desemprego e pressão inflacionária, comer todos os dias passou a ser um desafio ainda maior para milhões de brasileiros e isso se reflete nos indicadores de insegurança alimentar para o País.
A avaliação do grau de insegurança alimentar no Brasil tem sido realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). O domicílio é classificado em uma de quatro categorias (segurança alimentar, insegurança leve, insegurança moderada e insegurança grave) conforme o número de respostas “sim” às 14 perguntas que compõem a escala e a presença ou não de morador com menos de 18 anos de idade no domicílio.
A primeira pergunta, por exemplo, é: “Nos últimos três meses, os moradores desse domicílio tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poderem comprar mais comida?”. A última é: “Nos últimos três meses, alguma vez, algum morador com menos de 18 anos de idade fez apenas uma refeição ao dia ou ficou sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar comida?”.
O exame do conjunto das 14 perguntas deixa claro que a Ebia avalia, essencialmente, a segurança alimentar no sentido de “acesso aos alimentos”. A menção, repetida, à falta de “dinheiro para comprar comida” se justifica porque no Brasil o acesso aos alimentos se dá, geralmente, por meio da compra.
De acordo com dados do IBGE, acompanhando a redução da pobreza, entre 2004 e 2013, a proporção da população brasileira em situação de insegurança alimentar grave, diretamente associada com a fome, caiu de 8,2% para 3,2%. De 2013 a 2018, com a piora das condições econômicas, a insegurança alimentar grave aumentou para 5%, mas existem evidências de que essa cifra já esteja muito maior, como mostra o II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, publicado em 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Da renda total dos domicílios a maior parcela (cerca de três quartos) é a proveniente do rendimento do trabalho, sendo essa a principal e, frequentemente, a única fonte de renda dos indivíduos e das famílias. Assim, é claro que o comportamento do rendimento do trabalho, à luz das transformações ocorridas no mercado de trabalho, seja o principal determinante da dinâmica da distribuição da renda e, por consequência, da dinâmica da pobreza e da insegurança alimentar no País. Neste contexto, uma economia que forneça empregos para a população economicamente ativa e um governo que promova o crescimento econômico com redução da desigualdade são, hoje, a principal política pública de combate à insegurança alimentar no Brasil. Obviamente, a curto prazo são indispensáveis as transferências de renda e a distribuição emergencial de alimentos.
Rodolfo Hoffmann é professor sênior da “Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP
Josimar Gonçalves de Jesus é pós-doutorando da Esalq/USP
Baixe aqui o estudo“A desigualdade da distribuição dos rendimentos agrícolas no Brasil, 2012-2021”
No Congresso da Sober de Ilhéus, no painel “Produção agropecuária: estrutura produtiva, empregos e mercados”, Balsadi (2019)1 chamou a atenção para aspectos importantes (tendências consolidadas e novos desafios) no tocante ao mercado de trabalho na agricultura brasileira.
Nas últimas décadas, o mercado de trabalho na agricultura apresentou um conjunto importante de transformações, oriundas tanto de alterações na composição da produção agropecuária nos Estados e nas grandes regiões, como de profundas transformações nas estruturas produtivas, em suas vertentes tecnológicas, de gestão e de introdução de novos sistemas produtivos.Leia MAIS A redução significativa do pessoal ocupado (PO) na agricultura brasileira foi o traço mais visível deste processo. Entre os Censos Agropecuários de 1996 e 2017, houve queda de 1,4 milhão de pessoas ocupadas na agricultura brasileira, consolidando, desta forma, uma permanente redução na demanda de força de trabalho agrícola desde 1985, quando 23,4 milhões de pessoas estavam ocupadas nos estabelecimentos agropecuários. Desde então, o número de pessoas ocupadas vem diminuindo sistematicamente até chegar aos 15,1 milhões de ocupados em 2017. Neste ano de 2023, o Congresso da Sober traz como tema central de grande relevância a “Agropecuária do Futuro: tecnologia, sustentabilidade e a segurança alimentar”. De forma complementar e, ao mesmo tempo, totalmente alinhada ao tema principal, mostra-se crucial também olhar para o futuro da agricultura brasileira e os principais aspectos e impactos no mercado de trabalho rural e agrícola. Afinal: i) o alargamento e o aprofundamento da modernização tecnológica têm impactos diretos sobre o mercado de trabalho do setor; ii) tecnologia, sustentabilidade e segurança alimentar e nutricional passam, necessariamente, por trabalho digno, por ocupações e empregos adequados, sem os quais a vertente social da sustentabilidade jamais será alcançada; iii) e, sem rendimentos adequados, torna-se difícil, ou impossível, superar o grave quadro de fome e insegurança alimentar que flagela milhões de famílias brasileiras, muitas delas rurais. Nesse sentido, essa SORG tem como objetivo principal olhar para o futuro da agricultura e abordar os principais aspectos, tendências e possíveis impactos de suas transformações (tecnológicas, produtivas, organizacionais) no mercado de trabalho rural. Suas constatações servem de subsídios para a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento rural, de geração de emprego e renda, bem como podem apoiar as ações coletivas de trabalhadores e empresas no sentido de melhores condições de trabalho.
Otavio Valentim Balsadi – Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Vanessa da Fonseca Pereira – Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Sandra Mara de Alencar Schiavi – Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Nicole Rennó Castro – Professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP
O objetivo geral da pesquisa foi analisar, numa abordagem sociotécnica, o protagonismo da Rede APOMS em Mato Grosso do Sul, como território de práticas orgânicas e agroecológicas, em possíveis mudanças para sistemas alimentares sustentáveis.
O sistema alimentar territorializado eleito como objeto da pesquisa foi a Rede de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS), que envolve agricultores de doze municípios. A pesquisa foi bibliográfica, exploratória, descritiva e qualitativa, realizada por meio de fontes secundárias e entrevistas semiestruturadas.
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(1) articulação dos atores locais;
(2) aprendizagem interativa;
(3) ampliação das bases de redes.
Um nicho sociotécnico foi sendo constituído, de onde foram emergindo novidades pensadas e praticadas num processo coevolucionário e multinível. Foi possível identificar cinco faces destas manifestações de novidades, agenciadas pelo protagonismo dos atores:
(1) novidades produtivas e ambientais;
(2) novidades mercadológicas;
(3) novidades organizacionais;
(4) novidades no acesso ao crédito;
(5) novidades na assistência técnica.
Verificou-se que os desafios não se encerraram e continuam avançando na agenda coletiva da Rede APOMS, na busca de novas soluções a seus problemas específicos, neste processo coevolutivo e multinível de transição sociotécnica para sistemas alimentares sustentáveis.
Este documento trata-se de um resumo ampliado da tese, defendida em 19/12/2022 e em processo de submissão de artigos.
Todos os direitos autorais são reservados à autora da mesma.
Para acessar a tese completa https://site.ucdb.br//public/md-dissertacoes/1043863-tese-christiane-pitaluga.pdf
Christiane Marques Pitaluga – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Profa. Orientadora: Cleonice Alexandre Le Bourlegat – Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
Baixe aqui o estudo “Sistemas alimentares sustentáveis, protagonismo da rede APOMS em Mato Grosso do Sul numa abordagem da transição sociotécnica” apresentado na SOBER.
Baixe aqui a tese de doutoramento integral