Blog do IFZ | 10/03/2025
A terceira edição da cartilha Tem Veneno Nesse Pacote traz novos e alarmantes dados sobre a presença de agrotóxicos em alimentos ultraprocessados consumidos diariamente pelos brasileiros. O estudo reafirma um problema já denunciado nos volumes anteriores: além de serem prejudiciais à saúde devido aos altos teores de açúcares, sódio, gorduras e aditivos, esses produtos também contêm resíduos de substâncias tóxicas que colocam em risco a população.
Nesta nova fase da pesquisa, foram analisadas 24 categorias de alimentos ultraprocessados, incluindo produtos voltados para o público infantil e, pela primeira vez, alternativas plant-based. Os resultados são preocupantes: em metade dos produtos testados foram encontrados resíduos de agrotóxicos. Entre os itens de origem vegetal, hambúrgueres sabor carne e empanados sabor frango, apenas um dos seis produtos testados estava livre de contaminação.
A presença de glifosato, um dos agrotóxicos mais utilizados no Brasil e associado a problemas de saúde como câncer e doenças neurológicas, foi novamente predominante entre as amostras analisadas. Produtos à base de trigo continuam sendo alguns dos mais contaminados, consolidando um padrão identificado desde as edições anteriores.
Indiferença das autoridades e a responsabilidade da indústria
Desde o lançamento do primeiro volume, em 2021, os pesquisadores têm alertado autoridades sanitárias e o público sobre a contaminação de ultraprocessados por agrotóxicos. Relatórios foram publicados, a imprensa repercutiu os dados, mobilizações em redes sociais foram intensas, e diversas tentativas de diálogo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foram realizadas. Ainda assim, o silêncio do Poder Público persiste.
Não se trata apenas de omissão da Anvisa, mas também de negligência de outros órgãos governamentais, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Enquanto isso, a indústria de alimentos continua lucrando com a comercialização de produtos ultraprocessados que carregam resíduos tóxicos, sem que haja transparência ou regulação eficaz sobre esse problema.
O terceiro volume da cartilha muda o tom. Se nas duas primeiras edições a esperança era de que os dados pudessem subsidiar a formulação de políticas públicas para um sistema alimentar mais seguro, agora a mensagem é clara: as autoridades já estão cientes do problema e não podem mais se esquivar de suas responsabilidades.
A necessária transformação do sistema alimentar
O estudo também alerta para a crescente estratégia da indústria alimentícia em explorar novas fatias de mercado sob a bandeira da sustentabilidade. O crescimento da oferta de produtos plant-based é um exemplo disso. Embora sejam vendidos como opções mais saudáveis e ecológicas, muitos deles seguem o mesmo padrão de produção dos ultraprocessados convencionais, utilizando ingredientes cultivados com o uso intensivo de agrotóxicos. Assim, o consumidor é levado a acreditar que está fazendo uma escolha melhor para sua saúde e para o meio ambiente, quando, na realidade, está apenas substituindo um produto problemático por outro.
O lançamento da terceira edição do Tem Veneno Nesse Pacote reforça que o debate sobre o uso de agrotóxicos e os impactos dos ultraprocessados é mais urgente do que nunca. A sociedade precisa exigir ação das autoridades para fiscalizar e regular a presença dessas substâncias nos alimentos. Ao mesmo tempo, cabe também ao consumidor estar atento e buscar opções mais seguras e saudáveis. Sem pressão popular e medidas concretas, a tendência é que os riscos associados ao consumo desses produtos continuem a crescer, comprometendo a saúde da população e do planeta.
Volume 3
O duplo perigo dos ultraprocessados não é mais novidade, mas ainda pode assustar. Chegamos ao terceiro volume da pesquisa Tem Veneno Nesse Pacote e, novamente, constatamos a presença de agrotóxicos em produtos populares e direcionados às crianças, como bolo pronto e bebidas lácteas. E não para por aí.
Desta vez, também analisamos produtos plant-based (feitos à base de plantas). E, nesses produtos, vendidos como “saudáveis e sustentáveis”, também encontramos veneno. Duas das três marcas de hambúrgueres vegetais continham resíduos de agrotóxicos, e três de três empanados de frango vegetais apresentaram resíduos de agrotóxicos.
O terceiro volume da pesquisa foi realizado com o mesmo método científico dos volumes 1 e 2 e, mais uma vez, o glifosato foi o agrotóxico mais encontrado nas amostras analisadas. Produtos à base de trigo frequentemente apresentam resíduos de agrotóxicos. Essa substância é comprovadamente ligada ao desenvolvimento de câncer e é proibida em diversos países.
Volume 2
Neste segundo volume, analisamos ultraprocessados de origem animal, como carnes e leites, e descobrimos que 60% deles contêm resíduos de agrotóxicos. Essas descobertas reforçam a necessidade de mudanças em nosso sistema alimentar, no qual o modelo agrícola predominante é baseado na monocultura, que atende à demanda de commodities, como soja, milho, trigo e açúcar, e faz uso intensivo de agrotóxicos. Esse mesmo sistema proporciona maior disponibilidade e acessibilidade a esses produtos, enquanto impacta negativamente a saúde e o meio ambiente.
Volume 1
O primeiro volume da cartilha foi idealizado pelo Idec em uma tentativa de suprir uma lacuna de informação: os consumidores não sabem que os produtos ultraprocessados também podem estar contaminados com agrotóxicos. Nesta pesquisa, 27 produtos foram testados. As amostras continham bebidas, biscoitos, pães e salgados, e descobrimos que 59,3% desses produtos analisados tinham resíduos de pelo menos um tipo de agrotóxico.
Baixe aqui Tem veneno nesse pacote Volume 3
Baixe aqui Tem veneno nesse pacote Volume 2
Baixe aqui Tem veneno nesse pacote Volume 1
Publicado pelo IDEC (Instituto de Defesa de Consumidores)
https://idec.org.br/veneno-no-pacote