Por Jamil Chade no UOL | 25/03/2025
O governo de Donald Trump foi o único no mundo a votar contra uma resolução na ONU, estabelecendo uma década de esforços para combater a desnutrição. A proposta havia sido apresentada pelo Brasil, ao lado da França.
A resolução foi aprovada com o apoio de 158 países e um voto contra, o dos EUA. Nenhum país se absteve. A recusa do governo Trump se explica pela rejeição da Casa Branca a aceitar qualquer plano que tenha uma vinculação à agenda de desenvolvimento da ONU, com um prazo de 2030.
Ao apresentar o projeto, o governo brasileiro explicou para os demais países da ONU que “todos nós deveríamos ficar alarmados com o fato de que um terço da população mundial é afetada pela desnutrição, enquanto o desperdício de alimentos atinge níveis impressionantes”.
“Mais do que isso, todos nós deveríamos nos envergonhar pelo fato de a desnutrição estar tão disseminada que muitas pessoas sofrem com a tripla carga de subnutrição, deficiências de micronutrientes e sobrepeso ou obesidade”, disse o Brasil.
“Esses fatos são um chamado à consciência, como reiterou o presidente Lula. Eles nos lembram que a erradicação da fome, a prevenção da desnutrição e a promoção da segurança alimentar não são – e não devem ser considerados – atos de caridade, mas atos de justiça”, insistiu a delegação brasileira.
“Esses são os alicerces da dignidade, da paz e do verdadeiro desenvolvimento, que só podem ser alcançados por meio de um multilateralismo eficaz, conforme declarou o Presidente Macron perante esta Assembleia em setembro passado”, afirmou.
A proposta estende a Década de Ação sobre Nutrição até 2030, alinhando-a com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. “Ele sustenta o impulso político em todos os níveis e fortalece um esforço unificado para erradicar todas as formas de desnutrição até 2030”, explicou o governo brasileiro.
“Essa resolução também é uma prova do poder e dos benefícios do multilateralismo. Como sabemos, a fome e a desnutrição não conhecem fronteiras. Além dos esforços nacionais e locais essenciais, nossa ação coletiva é indispensável para enfrentar esses desafios”, disse o Brasil.
“A resolução a ser adotada hoje é muito mais do que a mera extensão de um prazo. É um compromisso renovado de lutarmos juntos contra um flagelo global. É também o reconhecimento de que a desnutrição está profundamente ligada à proteção social, à educação, à saúde, à água e ao saneamento”, disse.
Ao concluir, o governo brasileiro insistiu que as “crianças não podem aprender se estiverem com fome”. “Uma comunidade não pode prosperar se seus membros estiverem desnutridos. Um mundo que ignora essas realidades permanecerá preso em ciclos de instabilidade, desigualdade, desespero”, completou.
Publicado originalmente no UOL
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/03/25/trump-e-o-unico-no-mundo-a-rejeitar-resolucao-do-brasil-na-onu-contra-fome.htm