Princípios para uma Economia Global Inclusiva e Sustentável: Mazzucato propõe nova abordagem para enfrentar a fome e a insegurança alimentar

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Blog do IFZ | 29/04/2025

O novo documento Princípios para uma Economia Global Inclusiva e Sustentável: uma proposta de debate para o G20 foi lançado em abril de 2025 como contribuição estratégica à presidência sul-africana do G20. Com um chamado à ação conjunta e estruturada frente à fragmentação das agendas globais, o texto propõe um redesenho profundo das regras da economia internacional para enfrentar os desafios interligados da desigualdade, da crise climática e da insegurança alimentar — especialmente em países do Sul Global. A proposta se ancora em quatro eixos: moldar a economia, financiar com propósito, reconstruir Estados capazes e colaborar por equidade global.

A autora do documento é a economista italiana Mariana Mazzucato, professora de Economia da Inovação e Valor Público no University College London (UCL). Mazzucato foi nomeada Representante Especial da Presidência da África do Sul no G20, com papel de liderança na Força-Tarefa 1 sobre crescimento inclusivo, industrialização, emprego e redução das desigualdades, além de assessorar transversalmente outras frentes prioritárias da presidência sul-africana.

O documento alerta que a fome global retornou aos níveis de 2005 e que quase metade das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) está fora de curso. Mazzucato critica a fragmentação das políticas públicas e o foco excessivo em metas financeiras desvinculadas do bem-estar coletivo. A proposta é clara: a economia deve ser orientada por missões públicas — como erradicar a fome e garantir dietas saudáveis — e não apenas por índices de crescimento.

A segurança alimentar aparece no centro da crítica à atual arquitetura econômica. O texto denuncia o desvio de recursos públicos que poderiam ser usados para a agricultura resiliente e a proteção social: apenas em 2022, os subsídios aos combustíveis fósseis somaram US$ 7 trilhões. Para Mazzucato, esse montante revela uma contradição estrutural — enquanto milhões passam fome, o sistema internacional mantém incentivos perversos que agravam a pobreza e a degradação ambiental.

O documento também defende uma nova política industrial orientada por desafios, com ênfase em cadeias agroalimentares sustentáveis, fortalecimento da agricultura local e sistemas alimentares justos. A autora recomenda o uso estratégico de bancos públicos de desenvolvimento para financiar a transição agroecológica, fomentar a inclusão produtiva rural e estimular a inovação em nutrição, irrigação e produção de base familiar.

Mazzucato ainda propõe que os países tenham espaço fiscal e regulatório para investir na erradicação da pobreza e no direito humano à alimentação, o que exige reformas urgentes nas regras de comércio, dívida e propriedade intelectual. Ela argumenta que, sem isso, as metas de segurança alimentar seguirão subordinadas a lógicas de mercado que excluem os mais pobres e vulneráveis.

Durante a presidência brasileira do G20, em 2024, Mazzucato também teve papel de destaque como assessora técnica em temas como finanças públicas e economia do bem comum. Sua permanência nas discussões sob a liderança da África do Sul reafirma o protagonismo do Sul Global em propor uma nova economia orientada à justiça social, soberania alimentar e sustentabilidade.

Baixe aqui o estudo para discussão “Principles for an Inclusive and Sustainable Global Economy