Por que transformar os sistemas alimentares exige mais e melhor financiamento

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Blog do IFZ | 09/05/2024

Desde a última Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento, em 2015, a fome no mundo voltou a crescer de forma preocupante. Em paralelo, os sistemas agroalimentares continuam subfinanciados, fragmentados e pouco acessíveis aos países e populações que mais dependem deles. Essa é uma das mensagens centrais do novo relatório da FAO Financiando a Comida por um Futuro Melhor (Financing Food for a Better Future: Financing agrifood systems transformation to increase resilience, and prevent and mitigate food crises).

O documento alerta que os fluxos financeiros atuais, além de insuficientes, não estão chegando onde são mais necessários. Países de baixa e média renda, altamente dependentes da agricultura, enfrentam crescentes limitações fiscais e endividamento, o que compromete sua capacidade de investir em segurança alimentar e nutrição. Dentro desses países, os recursos raramente alcançam os pequenos agricultores, as mulheres e os jovens das zonas rurais — grupos que estão na linha de frente da insegurança alimentar.

O relatório também destaca a falta de coordenação entre o financiamento emergencial e o investimento de longo prazo. A maior parte dos recursos ainda é destinada a respostas humanitárias, em vez de atuar sobre as causas estruturais das crises alimentares. Isso perpetua a vulnerabilidade e dificulta a construção de sistemas alimentares mais resilientes.

Há, no entanto, oportunidades de mudança. A FAO estima que um pacote integrado de intervenções poderia transformar os sistemas agroalimentares e reduzir seus custos ocultos — sociais, ambientais e de saúde. Isso inclui investimentos diretos na produção sustentável e na ampliação da proteção social. Os autores também ressaltam o potencial de instrumentos como financiamentos mistos, títulos sustentáveis, garantias e swaps de dívida, especialmente quando combinados com assistência técnica.

Outro ponto-chave do relatório é o chamado à expansão do financiamento climático voltado aos sistemas alimentares. Apesar de sua importância para adaptação e mitigação, apenas uma pequena parcela do financiamento climático global tem sido direcionada para esse setor, com uma dependência excessiva de doadores públicos e pouca participação do setor privado.

Por fim, o relatório recomenda que o financiamento da segurança alimentar e da nutrição seja mais bem definido, rastreado e integrado aos esforços de transformação dos sistemas alimentares. Isso inclui reconhecer que a superação da fome e da má nutrição passa não apenas por aumentar a produção, mas por reformar o conjunto do sistema — da produção ao consumo, passando pela governança, pela inclusão social e pela sustentabilidade ambiental.

A Quarta Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento, marcada para julho de 2025, é apontada como uma oportunidade decisiva para reposicionar a transformação dos sistemas agroalimentares no centro da agenda global. O desafio está posto — e o caminho, claramente mapeado.

Baixe aqui o documento “Financing Food for a Better Future: Financing agrifood systems transformation to increase resilience, and prevent and mitigate food crises