Blog do IFZ | 13/06/2025
De 16 a 26 de junho de 2025, mais de duas mil pessoas — entre negociadores, especialistas e representantes da sociedade civil — reúnem-se em Bonn, na Alemanha, para as sessões intermediárias da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), conhecidas como SB62. Neste ano, os sistemas alimentares despontam como uma das agendas estratégicas em discussão — tanto no espaço oficial das negociações quanto nos eventos paralelos e nas iniciativas de articulação.
Um dos principais marcos dessas sessões será o primeiro workshop obrigatório do Sharm el-Sheikh Joint Work on Implementation of Climate Action on Agriculture and Food Security (SJWA), previsto para o dia 17 de junho. O evento terá como tema central as abordagens sistêmicas e holísticas para a implementação da ação climática em agricultura, segurança alimentar e sistemas alimentares. Estarão presentes organismos constitutivos da UNFCCC, instituições financeiras como o GEF e o GCF, além de representantes de países, organizações observadoras e agências da ONU.
A agenda do workshop inclui apresentações de países, contribuições da sociedade civil (como a Compassion in World Farming) e sessões dedicadas à articulação institucional e ao financiamento climático. A FAO, que vem desempenhando papel central no apoio técnico aos países para a elaboração de seus Planos de Ação Nacional (NAPs), também contribuirá com experiências relevantes nessa área.
Outro ponto de destaque será a análise do relatório de síntese sobre os avanços do SJWA, que reúne uma década de experiências acumuladas desde a plataforma Koronivia, incluindo aportes substanciais do Adaptation Fund, Climate Technology Centre, GEF, GCF e outros. Entre os dados relevantes estão os mais de 2,1 bilhões de dólares aprovados pelo GCF para projetos relacionados à agricultura e segurança alimentar com abordagens sistêmicas.
Além do SJWA, outro eixo importante em Bonn será o avanço das negociações em torno da Meta Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation – GGA), conforme o Artigo 7 do Acordo de Paris. Após a COP28, foram definidos 11 objetivos globais de adaptação — dois deles diretamente ligados à produção e ao acesso a alimentos de forma resiliente, sustentável e equitativa. Um grupo técnico de especialistas apresentou, em maio, uma lista inicial de 490 indicadores, incluindo vários com implicações diretas para os sistemas alimentares. A meta é chegar a um conjunto final de 100 indicadores a ser adotado até a COP30.
Nesse cenário, a presidência brasileira da COP30 já sinalizou seu interesse em posicionar a transformação dos sistemas alimentares como um dos pilares centrais da conferência. O governo brasileiro lançou recentemente o documento “Marco de Referência sobre Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas”, articulando segurança alimentar, combate à fome e ação climática de forma integrada. Essa abordagem deverá influenciar tanto as propostas do Brasil para os novos NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) quanto a articulação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada no âmbito da presidência brasileira do G20.
Entre as propostas em discussão para Belém está a adoção de uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Ação Climática — conectando a agenda da segurança alimentar diretamente aos compromissos climáticos. Além disso, há a expectativa de que a alimentação servida durante a COP seja pautada por princípios agroecológicos e sustentáveis, como parte de uma iniciativa coordenada por atores não estatais.
A poucos meses da COP30, as intersessionais de Bonn oferecem uma prévia concreta dos rumos da diplomacia climática e das janelas de oportunidade para que os sistemas alimentares deixem de ser apenas consequência da crise climática e passem a ser reconhecidos como parte da solução.
Destaques das Intersessionais de Bonn (SB62):
- Primeiro workshop obrigatório do SJWA (17 de junho), com foco em abordagens sistêmicas para agricultura, segurança alimentar e clima.
- Análise do relatório de síntese 2013–2025 sobre a evolução das políticas agrícolas sob a UNFCCC, incluindo dados financeiros e programas técnicos.
- Avanço no processo de definição de indicadores da Meta Global de Adaptação, com uma lista preliminar de 490 indicadores (incluindo segurança alimentar e nutrição).
- Participação ativa de órgãos como FAO, GEF, GCF, Adaptation Fund e outros na estruturação de políticas e no apoio técnico aos países.
- Iniciativas paralelas apontam para uma “mesa agroecológica” na COP30 como símbolo político da transformação dos sistemas alimentares.
- Integração crescente entre as agendas de clima, fome e pobreza, impulsionada pela Aliança Global liderada pelo Brasil no G20.
Baixe aqui o “Marco de Referência de Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas“
