Consumo de ultraprocessados é maior que 20% em municípios da região Sul e do estado de São Paulo
NUPENS/USP | 27/06/2025
Dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2017-2018, evidenciaram que os alimentos ultraprocessados já representam cerca de 20% do total de calorias ingeridas pela população brasileira. Agora, um novo estudo do Nupens/USP traz uma análise detalhada sobre o consumo em cada um dos 5570 municípios brasileiros, demonstrando que há uma heterogeneidade entre os municípios do Brasil: pessoas que vivem na região Sul e no estado de São Paulo, por exemplo, têm consumo ainda mais elevado que a média nacional.
A pesquisa “Estimativa da participação calórica de alimentos ultraprocessados nos municípios brasileiros”, publicada em 27 de junho pela Revista de Saúde Pública, utilizou um modelo estatístico para estimar a participação calórica de alimentos ultraprocessados nos municípios brasileiros – ou seja, quanto do total de calorias que os indivíduos ingerem provém desse tipo de alimento. A variação foi de 5,7% ( em Aroeiras do Itaim, Piauí) a 30,5% (em Florianópolis, Santa Catarina).
“A POF é uma pesquisa de abrangência nacional que fornece dados confiáveis de consumo alimentar da população brasileira, mas que não permite uma avaliação local, ou seja, a nível municipal. Um olhar para cada município permite a identificação de necessidades locais e acompanhamento de políticas públicas que possam ser mais efetivas e direcionadas às necessidades de cada um. O nosso trabalho visou justamente preencher essa lacuna, fornecendo as estimativas de consumo de alimentos ultraprocessados em todos os municípios do país, o que complementa estudos já realizados sobre o perfil de consumo alimentar da população brasileira.”, explicou Leandro Cacau, autor principal do estudo e pesquisador de pós-doutorado no Nupens/USP.
O jornal O Globo produziu um mapa interativo a partir do estudo, confira.
Resultados
Na região Sul, que concentra o maior consumo de ultraprocessados, o estado de Santa Catarina teve as maiores estimativas, acima de 20%. O Paraná apresentou variação entre 16% e 26,3%, e o Rio Grande do Sul entre 17,6% e 26,6%. No Sudeste, os municípios do estado de São Paulo tiveram as maiores estimativas, com a capital chegando a 25,5%, enquanto Vitória, no Espírito Santo, teve a menor (16,7%). Minas Gerais apresentou grande heterogeneidade, com Frei Lagonegro a 13,8% e Belo Horizonte a 22,8%. No Rio de Janeiro, as estimativas variaram de 15,2% a 22,4%.
Já no Centro-Oeste, Goiás teve as menores estimativas, com Goiânia atingindo 19,4%, enquanto Brasília registrou 22,6%, a maior da região. Mato Grosso se destacou pela grande variação, de 13% a 18%, entre seus municípios. No Nordeste, Piauí, Maranhão e Paraíba apresentaram as menores estimativas, enquanto a Bahia teve as maiores, com Salvador alcançando 25,7%. No Norte, Tocantins teve as menores estimativas, com Palmas chegando a 12,2%, e os estados de Roraima e Rondônia apresentaram estimativas intermediárias. Os estados do Pará e Amapá registraram as maiores estimativas da região.
>É pesquisador e quer conferir o consumo de ultraprocessados em municípios específicos? Os dados do estudo estão disponíveis aqui.
Dados refletem diferenças sociodemográficas e desigualdade
Segundo os autores, os resultados refletem as diferenças sociodemográficas – entre as regiões do país, e também entre os municípios de um mesmo estado. São considerados fatores determinantes, por exemplo, a proporção de moradores em áreas urbanas ou rurais, e também a renda per capita de cada município.
Enquanto Maranhão, Piauí e Tocantins, estados com maior proporção de população rural, apresentaram as estimativas mais baixas de consumo de ultraprocessados, São Paulo, com grande concentração urbana, apresentou estimativas municipais acima de 18%. Além disso, todas as 26 capitais e o Distrito Federal apresentaram estimativas mais elevadas em comparação com os demais municípios de seus respectivos estados.
A grande maioria dos municípios em que não há indivíduos com renda per capita acima de cinco salários mínimos apresentou estimativas muito inferiores de consumo que aqueles onde mais de 15% da população possui uma renda per capita igual ou superior a cinco salários mínimos. Os municípios mais ricos têm estimativas de participação calórica de alimentos ultraprocessados acima de 20% (com exceção de Vitória, no Espírito Santo).
Os autores destacam, no entanto, que o consumo mais baixo de ultraprocessados em alguns municípios não significa necessariamente uma alimentação adequada e saudável: “Há evidências de que domicílios de baixa renda e das regiões rurais do país, por exemplo, possuem alto consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários, mas que esse consumo é marcado por alimentos básicos, como arroz, feijão, café, açúcar, farinhas e carnes, com baixo consumo de frutas, legumes e verduras”.
O estudo também aponta que o consumo de ultraprocessados têm aumentado no país, especialmente nas regiões norte e nordeste e que possivelmente os municípios que apresentaram as menores estimativas tenham um desempenho diferente no caso da atualização dos dados da POF e do Censo.
Pesquisa: Estimativa da participação calórica de alimentos ultraprocessados nos municípios brasileiros
Revista de Saúde Pública
Autores: Leandro Teixeira Cacau, Maria Helena Benicio, Renata Levy, Maria Laura Louzada
Baixe o artigo em Português “Estimativa da participação de alimentos ultraprocessados nos municípios brasileiros“
Baixe o artigo em Inglês “Estimating the share of ultra-processed foods in Brazilian municipalities“
Acesse o repositório do estudo
Publicado originalmente pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS/USP)
https://www.fsp.usp.br/nupens/novo-estudo-do-nupens-estima-a-ingestao-de-alimentos-ultraprocessados-nos-municipios-brasileiros/
