O legado político de Chico Mendes permanece como uma das mais potentes chaves interpretativas para compreender e (re)imaginar modelos de desenvolvimento na Amazônia. Ao articular a defesa do “homem da floresta” com a permanência da “floresta em pé”, o líder seringueiro rompeu a dicotomia entre conservação e produção, antecipando, ainda nos anos 1980, o que hoje qualificamos como bioeconomia da sociobiodiversidade.
Por Andre Luiz de Souza, Francisco Diétima da Silva Bezerra, Sergio Schneider e Joacir Rufino de Aquino no Le Monde Diplomatique Brasil | 05/08/2025
Aos jovens que talvez desconheçam a trajetória de Chico Mendes, vale lembrar que ele foi um dos maiores líderes socioambientais do Brasil, assassinado numa emboscada em 1988, no Acre, por defender os direitos de seringueiros e a preservação da floresta. Seu legado é tão decisivo que hoje dá nome ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), principal órgão federal de fiscalização ambiental. Muito antes de a expressão “bioeconomia” entrar em voga, Chico Mendes já afirmava que a Amazônia “vale mais em pé do que derrubada”, lançando a ideia de que a geração de renda local deve estar ancorada na manutenção dos ecossistemas e não em modelos baseados na pecuária extensiva ou em monoculturas que empobrecem a diversidade.
Sua estratégia de “empates” – verdadeiras alianças territoriais envolvendo seringueiros, indígenas, ribeirinhos e apoiadores urbanos – mostrou que a manutenção dos sistemas socioculturais e ecológicos depende da centralidade dos povos da floresta nos processos decisórios e nas cadeias de valor [4]. Ao denunciar a violência contra os seringueiros e propor reservas extrativistas, Chico Mendes colocou em pauta uma economia enraizada na diversidade biológica dos sistemas produtivos locais e nos conhecimentos tradicionais, capaz de gerar renda, fortalecer o capital social e preservar serviços ecossistêmicos [5] [6].
Nesse contexto, distantes de qualquer noção de “economia de subsistência” fossilizada, os produtos da sociobiodiversidade amazônica — açaí, castanha-do-Brasil, cacau, óleos e resinas, farinha de mandioca, peixes manejados, mel de abelhas nativas, entre tantos outros — configuram hoje o coração pulsante de uma bioeconomia que alia inclusão social, regeneração ecológica e forte enraizamento territorial. Mas esse é um movimento recente na região e o seu futuro dependerá do sucesso no enfrentamento de um conjunto de desafios que necessitam ser melhor expostos e analisados.
A Amazônia como laboratório de políticas desenvolvimentistas e as bases de um novo modelo
Desde a década de 1960, a Amazônia vem sendo submetida a sucessivos ciclos de desenvolvimento predatórios que, ao privilegiarem a exploração mineral, a pecuária extensiva e a soja de larga escala, consolidaram um padrão de ocupação territorial apoiado no desmatamento, na concentração fundiária e na violência contra povos indígenas e comunidades tradicionais. [7]
A promessa de progresso atrelada a grandes projetos de mineração, à abertura de rodovias e à expansão do boi e da soja produziu ganhos econômicos concentrados, no entanto, impôs elevados custos socioambientais: entrelaçou-se com redes de grilagem de terras, estimulou a substituição de florestas por monoculturas pouco resilientes e agravou conflitos agrários, resultando em perda acelerada de biodiversidade, emissões significativas de gases de efeito estufa e precarização das condições de vida na floresta. [8] Esse modelo, ao transformar a Amazônia em “laboratório” de políticas desenvolvimentistas modernizantes, evidenciou a fragilidade de estratégias que dissociam crescimento econômico da manutenção dos sistemas socioecológicos locais, comprometendo a estabilidade climática regional, a reprodução cultural e a econômica das populações da floresta. Mas a crítica a essas suas fragilidades e contradições abriram espaço para que fossem lançadas as bases iniciais de um novo modelo.
A partir da década de 1990, a Amazônia transformou-se em um lócus de inovações socioprodutivas quando programas como o PPG7 – financiado por países do G-7 após a Rio-92 – fomentaram a criação de reservas extrativistas, a regularização de territórios indígenas e a implementação de projetos demonstrativos de manejo comunitário de recursos florestais. Esse impulso institucional convergiu com mobilizações de base, articuladas por sindicatos de trabalhadores rurais, pastorais da igreja e ONGs, resultando no surgimento de cooperativas de açaí, castanha, pescado manejado e de sistemas agroflorestais, bem como no florescimento de redes agroecológicas, que hoje conectam centenas de comunidades em circuitos curtos de comercialização. Tais iniciativas place-based combinam governança comunitária, saberes tradicionais e experimentação sociotécnica, revelando trajetórias de desenvolvimento capazes de conciliar segurança de renda, conservação da biodiversidade e fortalecimento de identidades territoriais. [9] [10 ]
Como resultado desse processo, que avança no século XXI, comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, agricultores familiares e assentados da reforma agrária têm deixado de figurar apenas como beneficiários de políticas públicas para assumir o papel de arquitetos centrais de economias amazônicas fundadas na diversidade biológica e cultural. Organizados em associações, cooperativas e redes de colaboração, esses grupos articulam sistemas agroflorestais, manejo comunitário de pescado, processamento de óleos, artesanato e turismo de base comunitária, demonstrando que a valorização dos conhecimentos tradicionais e a repartição justa de benefícios podem gerar renda, fortalecer a coesão social e conservar a floresta.
A Rede Pan-Amazônica pela Bioeconomia, formada em 2024 por organizações civis, investidores e instituições de pesquisa, ilustra essa virada ao priorizar cadeias produtivas lideradas localmente, capazes de oferecer trabalho decente e manter a integridade ecológica do bioma. [11] Como observa Chiaretti (2025) [12], ao converter saberes ancestrais em inovação sociotécnica – das abelhas sem ferrão ao manejo participativo do açaí –, esses coletivos sinalizam um paradigma de desenvolvimento que rejeita monoculturas e concentrações de renda, ancorando a bioeconomia na justiça territorial e na preservação da sociobiodiversidade, embora nem sempre com o apoio do Estado.
O potencial econômico das cadeias de valor da sociobiodiversidade e as contradições da ação do Estado
As cadeias de valor dos produtos da sociobiodiversidade têm potencial para fortalecer as economias locais da Amazônia, gerando emprego e renda com preservação florestal. [13] [14] [15]
No estudo “A Nova Economia da Amazônia”, o WRI Brasil (2024) [16] demonstra que, do ponto de vista econômico, a partir de 2050, a bioeconomia poderá injetar anualmente pelo menos R$ 40 bilhões no PIB da Amazônia Legal, com tendência de crescimento de até 67% a cada ano. Na esfera social, o setor terá reais possibilidades de gerar 833 mil novos postos de trabalho. No campo ambiental, a consolidação de uma economia sustentável na região amazônica contribuirá para a redução do desmatamento, restauração de áreas devastadas, redução de até 94% das emissões líquidas de gases de efeito estufa e aumento de pelo menos 19% no estoque de carbono. 17
O potencial dos produtos da sociobiodiversidade da Amazônia Legal (EcoBio-AML) foi estimado por Fernandes18. Os autores mostraram que, somente em 2020, a bioeconomia gerou um total de R$ 11 bilhões. As cadeias produtivas do açaí (R$ 5,1 bilhões), da castanha-do-pará (R$ 2,9 bilhões), do cacau em amêndoa (R$ 2,2 bilhões) e do babaçu (R$ 200 milhões) figuraram como as mais expressivas em termos de geração de ingressos monetários. Na mesma direção, o World Resources Institute destaca que, no estado do Pará, um investimento de aproximadamente R$ 200 milhões em 13 cadeias da bioeconomia poderia resultar em um acréscimo de R$ 816 milhões no PIB estadual, um aumento de R$ 44 milhões na arrecadação fiscal e a geração de cerca de 6,6 mil novos postos de trabalho.19
Todavia, mesmo diante das potencialidades dos produtos da sociobiodiversidade, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), principal política pública do Estado brasileiro de apoio às formas familiares de produção no campo, não tem priorizado sistemas produtivos ambientalmente sustentáveis na aplicação de seus recursos.20 21 O crédito do Pronaf tem se concentrado cada vez mais na pecuária, principal atividade responsável pelo desmatamento na Amazônia Legal22, em detrimento dos produtos da sociobiodiversidade.
A forte concentração dos recursos na pecuária fica ainda mais evidente quando se analisa o crédito do Pronaf por sub-programa (custeio e investimento). Em 2024, por exemplo, o setor foi contemplado com 96,2% do montante do crédito de custeio. Já 2,2% foram para as lavouras convencionais e os produtos da sociobiodiversidade receberam apenas 1,6%. No mesmo ano, 83,2% do crédito de investimento foi carreado para a criação pecuária, enquanto 7,1% destinaram-se para a agricultura e 9,7% para os segmentos produtivos ligados a cadeia de valor da bioeconomia (Bacen, 2025).
Com efeito, esse quadro de seletividade na distribuição do crédito rural mostra um descompasso da ação do Estado em relação às iniciativas de promoção de uma economia sustentável no bioma Amazônia, base de valorização das cadeias da sociobiodiversidade como eixo estruturante de um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e equitativo (ÓSocioBio, 2025). Os agricultores familiares amazônicos ainda esbarram em um conjunto de gargalos estruturais que comprimem margens de lucro e reduzem a competitividade dos produtos florestais no mercado nacional e internacional, colocando o tema dos mercados como um dos principais desafios da bioeconomia regional.
Desafios para construir mais e melhores mercados para os produtos da sociobiodiversidade
A barreira do acesso ao crédito rural, conforme mencionado, é um nó crítico: linhas de financiamento verdes continuam inacessíveis ou pouco adequadas ao ciclo produtivo extrativista. Isso, de certa maneira, submete os agricultores às leis dos atravessadores, que mantêm posição dominante, impõe-lhes preços aviltantes e se apropriam da maior parte do valor agregado.
A persistência de cadeias produtivas pouco integradas à base territorial amazônica faz com que a maior parte da renda gerada pelo açaí, pela castanha-do-Brasil ou pelos óleos vegetais continue sendo apropriada em elos externos, onde se concentram o beneficiamento industrial, o marketing e a distribuição, relegando extrativistas, agricultores familiares e comunidades tradicionais ao fornecimento de matéria-prima bruta com baixa margem de lucro. Esse desbalanceamento deriva de assimetrias de informação, poder de barganha e disponibilidade de capital que favorecem atravessadores e empresas urbanas, ao passo que os custos logísticos, a falta de infraestrutura de processamento local e exigências regulatórias complexas impedem a agregação de valor nos territórios de origem23.
O resultado geral desse processo tem sido, historicamente, uma repartição desigual dos benefícios: enquanto os consumidores finais pagam preços “premium” por produtos vinculados a narrativas de sustentabilidade, comunidades fornecedoras percebem apenas frações desse valor, perpetuando vulnerabilidades socioeconômicas e estimulando saídas individuais para mercados informais24.
Essa situação configura um grande desafio que só poderá ser superado mediante várias ações, entre elas a construção de mais e melhores mercados para os produtos da sociobiodiversidade. Em termos práticos, isso exigirá investimentos em infraestrutura logística sustentável, simplificação normativa, expansão do microcrédito de baixo carbono e fortalecimento de cooperativas capazes de negociar em condições mais justas.
Realmente, a precariedade da infraestrutura de transporte — marcada por estradas sazonais e rotas fluviais com alta ociosidade logística — eleva custos de escoamento e deteriora produtos perecíveis como açaí e pescado manejado, dificultando o acesso a centros consumidores e a circuitos de exportação. Soma-se a isso a insegurança regulatória: exigências sanitárias e ambientais complexas, sobrepostas e pouco adaptadas à realidade de sistemas agroflorestais diversificados acabam por penalizar pequenos produtores, que enfrentam entraves burocráticos para obter registros, autorizações de manejo ou certificações de qualidade25. Tal cenário é desafiador, mas existem alternativas políticas e organizacionais que podem ser mobilizadas e gerar bons frutos.
Caminhos para uma bioeconomia da floresta no século XXI
A consolidação de uma bioeconomia da sociobiodiversidade amazônica, baseada em mais e melhores mercados, além dos aspectos normativos e de infraestrutura, requer estratégias de transição que articulem, simultaneamente, apoio a redes territoriais, inclusão de mulheres e jovens, fortalecimento do cooperativismo, inovação sociotécnica e ampliação da governança local.
Estudos sobre iniciativas place-based mostram que arranjos em rede — unindo comunidades, Organizações Não Governamentais (ONGs), universidades e governos subnacionais — aumentam a capacidade de acessar mercados, compartilhar tecnologia e influenciar políticas públicas26. Quando tais redes incorporam leadership pipelines femininos e juvenis, multiplicam-se os efeitos redistributivos, pois elas promovem divisão mais equitativa de renda e conhecimento, além de maior sensibilidade a prioridades de cuidado, educação e saúde27.
Nesse contexto, o cooperativismo surge como infraestrutura social central: ao viabilizar compras coletivas de insumos, certificações compartilhadas e escala agregada para negociação, reduz custos de transação e eleva o poder de barganha frente a atravessadores — condição fundamental para garantir melhores ganhos monetários para os povos da floresta28.
Já na esfera da inovação sociotécnica, a combinação de saberes tradicionais com ferramentas digitais — como plataformas de logística solidária e rastreabilidade via blockchain — potencializa transparência e controle social sobre as cadeias, enquanto mecanismos participativos de gestão (conselhos deliberativos, protocolos de consulta prévia) fortalecem a governança local, garantindo que decisões estratégicas partam de quem vive e maneja a floresta. Essas ações sinérgicas configuram um caminho prático para acelerar a transição rumo a sistemas produtivos que conservam a biodiversidade, distribuem renda e reafirmam os direitos territoriais das populações amazônicas29.
Para que a bioeconomia da sociobiodiversidade deixe de ser exceção e se torne eixo estruturante do desenvolvimento amazônico, é indispensável também um pacote coordenado de políticas públicas que combine crédito verde sob condições adequadas ao ciclo extrativista, compras governamentais que priorizem produtos florestais em programas como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e investimentos contínuos em capacitação territorial e ciência cidadã. Linhas de financiamento orientadas por critérios socioambientais — com carência compatível, juros subsidiados e assistência técnica agroflorestal — permitiriam às cooperativas modernizar o beneficiamento, obter certificações e internalizar maior valor agregado.
Paralelamente, a ampliação de quotas de aquisição estatal para castanha, látex, farinha de mandioca, açaí e mel de abelhas nativas garantiria demanda estável, reduzindo a dependência de atravessadores e estimulando boas práticas de manejo. Por fim, formar agentes locais em gestão de territórios, monitoramento participativo da biodiversidade e uso de plataformas digitais fortalece a governança comunitária, cria empregos qualificados e alimenta sistemas de informação essenciais a políticas adaptativas. Como argumentam Brondizio, a combinação de finanças direcionadas, mercado institucional e métricas produzidas “de baixo para cima” constitui a ponte prática entre conservação, inclusão social e competitividade dos territórios florestais.
Logo, fica patente que existem muitos caminhos promissores a serem trilhados. O problema é que, apesar de movimentar bilhões de reais em cadeias como a da castanha-do-Brasil, do açaí, da borracha certificada e do mel de abelhas nativas, a chamada “economia da floresta” ainda continua praticamente ausente das estatísticas oficiais de Produto Interno Bruto, do crédito rural e das matrizes de insumo-produto estaduais, permanecendo quase invisível aos olhos de formuladores de política e investidores que orientam recursos segundo métricas convencionais de produtividade e escala30. Essa invisibilidade distorce prioridades orçamentárias, subdimensiona o valor estratégico dos territórios extrativistas — responsáveis pela conservação de vastos estoques de carbono e pela manutenção de serviços ecossistêmicos — e perpetua a falsa narrativa de que a Amazônia “não produz”, enquanto, na prática, sustenta redes de abastecimento alimentar, farmacêutico e cosmético de alta agregação de valor31.
Reconhecer formalmente essa economia ativa implica, nos termos apresentados, reformular indicadores de desempenho, incorporar os produtos da sociobiodiversidade nas contas regionais, direcionar crédito de baixo carbono a cooperativas e ajustar a política fiscal para premiar quem mantém a floresta em pé, convertendo diversidade biológica e cultural em vantagem competitiva para potencializar mais e melhores mercados.
O sonho de Chico Mendes ― o de que a “floresta em pé” constitui um ativo econômico e social valioso tanto para as populações tradicionais quanto para as economias regionais ― encontra, no século XXI, condições e recursos tecnológicos suficientes para tornar-se realidade, convertendo utopia em prática de vida. A bioeconomia amazônica já é fato, não mais mera possibilidade. Entretanto, para que qualquer utopia se cumpra plenamente, é preciso traduzi-la em ações concretas, incorporadas ao cotidiano e às condições de existência das pessoas. Caso contrário, permanece no plano onírico e, com o tempo, esvanece-se e cai no esquecimento.
O potencial da bioeconomia amazônica é imenso e, à luz do conhecimento disponível, provavelmente inestimável. Esse passaporte para o futuro, contudo, precisa ser acionado e sua energia latente liberada. Para tanto, é imprescindível superar o modelo hoje vigente, ainda fundamentado na pecuária extensiva e no extrativismo predatório. Esse diagnóstico tem sido reiterado por diversos estudiosos da própria região — entre eles pesquisadores do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de outros centros de pesquisa no Brasil e no exterior.
Isso significa que há consenso sobre a importância estratégica de fortalecer uma matriz produtiva de base local e territorial que valorize tanto os produtos e as matérias-primas quanto as pessoas e seus saberes tradicionais, essenciais para conservar a biodiversidade. Não se trata, no entanto, de isolar ou confinar os bens “da” Amazônia “na” Amazônia. Ao contrário! Deve-se atribuir-lhes o justo valor, tangível e intangível, de modo que seu uso, local e global, gere recursos capazes de preservar a floresta e permitir a convivência harmoniosa entre seres humanos e natureza exuberante.
Para trilhar esse caminho, o papel do Estado — por meio de políticas públicas robustas, crédito direcionado e compras governamentais — é decisivo, assim como o engajamento ativo da sociedade civil e de suas organizações. Porém, nada disso terá alcance transformador se os mercados não reconhecerem o valor socioambiental dos produtos amazônicos e não oferecerem canais de comercialização justos, transparentes e rentáveis que integrem esses bens às cadeias nacionais e globais de valor.
O que está em jogo, mais do que nunca nesse ano de COP30 no Brasil, é, portanto, a defesa de uma proposta de desenvolvimento alicerçada na justiça territorial e na valorização dos povos e dos recursos locais. A bioeconomia da sociobiodiversidade não pretende tornar-se um novo agronegócio, mas sim oferecer uma resposta ética, ambiental e social à crise climática e às desigualdades históricas da Amazônia.
Andre Luiz de Souza é doutor em Sociologia, professor do IFAC – Campus Cruzeiro do Sul (AC) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD). E-mail: [email protected] – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2283-5274.
Francisco Diétima da Silva Bezerra é doutor em Economia, professor do IFAC – Campus Cruzeiro do Sul (AC) e membro do Grupo de Pesquisa e Extensão Agroecológica do Juruá (GPEAJ). E-mail: [email protected] – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9631-7939.
Sergio Schneider é doutor em Sociologia, professor titular de Sociologia do Desenvolvimento Rural e Estudos Alimentares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre (RS), e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD). E-mail: [email protected] – ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4353-6732.
Joacir Rufino de Aquino é doutorando em Geografia (UFRN), professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN/Campus de Assú), sócio do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (CICF), membro do Instituto Fome Zero (IFZ) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD). E-mail: [email protected]n– ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0772-7141.
1 ALLEGRETTI, Mary. A construção social de políticas públicas: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 18, p. 39-59, jul./dez. 2008.
2 GOMES, Carlos Valério Aguiar et al. Extractive Reserves in the Brazilian Amazon thirty years after Chico Mendes: social movement achievements, territorial expansion and continuing struggles. Desenvolvimento e Meio Ambiente, [S. l.], v. 48, 2018. DOI: 10.5380/dma.v48i0.58830.
3 PACHECO, Leonardo Marques; GOMES, Carlos Valério Aguiar. The trajectory of Amazonia forest extractivists social movement: Shifting political struggles, strategies, demands and achievements. Ambiente & Sociedade, v. 26, p. e0048, 2023.
4 ALLEGRETTI, Mary. A construção social de políticas públicas: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 18, p. 39-59, jul./dez. 2008.
5 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
6 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
7 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
8 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
9 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
10 LONDRES, Marina et al. Place-based solutions for global social-ecological dilemmas: an analysis of locally grounded, diversified, and cross-scalar initiatives in the Amazon. Global Environmental Change, Amsterdam, v. 82, art. 102718, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2023.102718.
11 WRI BRASIL. Rede Pan-Amazônica pela Bioeconomia. Brasília: World Resources Institute Brasil, 2024. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/projetos/rede-pan-amazonica-pela-bioeconomia. Acesso em: 12 jul. 2025.
12 CHIARETTI, Daniela. Como a bioeconomia pode transformar velhas formas de viver. Valor Econômico, Belém, 02 maio 2025. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2025/05/02/como-a-bioeconomia-pode-transformar-velhas-formas-de-viver.ghtml. Acesso em: 24 jun. 2025.
13 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
14 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
15 CHIAVARI, Joana; MOTTA, Miguel; LOPES, Cristina L.; CORLETO, Ana F. Financiamento para a Bioeconomia no Brasil: fontes e destinação dos recursos. Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2024. Disponível em: https://www.climatepolicyinitiative.org/pt-br/publication/financiamento-para-a-bioeconomia-no-brasil-fontes-e-destinacao-dos-recursos/. Acesso em: 12 jul. 2025.
16 WRI BRASIL. Rede Pan-Amazônica pela Bioeconomia. Brasília: World Resources Institute Brasil, 2024. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/projetos/rede-pan-amazonica-pela-bioeconomia. Acesso em: 12 jul. 2025.
17 WRI BRASIL. Rede Pan-Amazônica pela Bioeconomia. Brasília: World Resources Institute Brasil, 2024. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/projetos/rede-pan-amazonica-pela-bioeconomia. Acesso em: 12 jul. 2025.
18 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
19 FELTRAN-BARBIERI, Rafael et al. Impactos econômicos de investimento em bioeconomia no Pará. São Paulo: WRI Brasil, 2025. (Texto para discussão). Disponível em: https://doi.org/10.46830/wriwp.24.00079. Acesso em: 24 jun. 2025.
20 AQUINO, Joacir Rufino; SCHNEIDER, Sergio. O Pronaf e o desenvolvimento rural brasileiro: avanços, contradições e desafios para o futuro. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. (Orgs.). Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2015. p. 53-81.
21 AQUINO, Joacir Rufino; GAZOLLA, Márcio; SCHNEIDER, Sergio. Tentativas de inclusão da agricultura de base ecológica no PRONAF: do otimismo das linhas de crédito rural verde ao sonho frustrado do I PLANAPO. Revista Grifos, Chapecó, v. 30, n. 51, p. 163-189, 2021.
22 IMAZON. Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. Pecuária e os desafios para a conservação ambiental na Amazônia. Disponível em: https://imazon.org.br/pecuaria-e-desafios-para-a-conservacao-ambiental-na-amazonia/. Acesso em: 14 jul. 2025.
23 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
24 CHIARETTI, Daniela. Como a bioeconomia pode transformar velhas formas de viver. Valor Econômico, Belém, 02 maio 2025. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2025/05/02/como-a-bioeconomia-pode-transformar-velhas-formas-de-viver.ghtml. Acesso em: 24 jun. 2025.
25 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
26 BRONDIZIO, Eduardo S. et al. Making place-based sustainability initiatives visible in the Brazilian Amazon. Current Opinion in Environmental Sustainability, Amsterdam, v. 49, p. 66-78, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2021.03.007.
27 LONDRES, Marina et al. Place-based solutions for global social-ecological dilemmas: an analysis of locally grounded, diversified, and cross-scalar initiatives in the Amazon. Global Environmental Change, Amsterdam, v. 82, art. 102718, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2023.102718.
28 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022.
29 SCHNEIDER, Sergio. Estrutura e funcionamento dos mercados dos produtos da sociobiodiversidade brasileira. Projeto de Pesquisa PQ/CNPq, 2025.
30 FERNANDES, Danilo Araújo et al. Por uma bioeconomia da sociobiodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. Nota de Política Econômica, n. 023. São Paulo: MADE/USP, 2022
31 CHIARETTI, Daniela. Como a bioeconomia pode transformar velhas formas de viver. Valor Econômico, Belém, 02 maio 2025. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2025/05/02/como-a-bioeconomia-pode-transformar-velhas-formas-de-viver.ghtml. Acesso em: 24 jun. 2025.
Publicado originalmente no Le Monde Diplomatique Brasil
https://diplomatique.org.br/da-utopia-de-chico-mendes-a-bioeconomia-do-seculo-xxi/
