Sistemas alimentares no século XXI – Debates contemporâneos

UFRGS, Potira V. Preiss e Sergio Schneider | 2020

Caso fosse necessário usar um único adjetivo para definir este livro, diria que ele é “pertinente”. E por várias razões. A nível mundial, existem diversos fenômenos indicando que o modelo convencional de sistemas alimentares está esgotado. Dois desses fenômenos são patentes na América Latina e no Caribe: as mudanças climáticas e a obesidade. Ambos estão intimamente ligados com as duas “pontas”, ou extremos, dos sistemas alimentares: a produção e o consumo. Entre esses dois extremos podemos encontrar toda a gama de temas abordados neste livro, desde aproveitamento da água, agricultura familiar, agronegócio e cooperativismo, passando pela abordagem de bacias alimentares e enfoque territorial, agricultura urbana, guias alimentares, proteção social, alimentação escolar e compras públicas, inocuidade, sustentabilidade, consumo responsável e cultura alimentar, instituições e governança, até o tema de perdas e desperdícios, o qual também abarca todo o espectro dos sistemas alimentares.

Se em 2015, a população mundial somava 7,4 bilhões de pessoas, para 2030 a estimativa é que essa cifra alcance os 8,5 bilhões e, já em 2050, o planeta possua quase 10 bilhões de habitantes. Há de se considerar que a cada dia o número de habitantes urbanos irá aumentar. Em 1990, contávamos com a existência de 10 megacidades ao redor do globo, em 2014 passamos a ter 28 e, para 2030, espera-se, que o número de megacidades alcançará as 41. Do mesmo modo, em 1970, 36 % da população habitava o meio urbano, em 2009 a porcentagem era de 50 % e, em 2050, 70 % dos habitantes do planeta estarão vivendo em zonas urbanas. Será necessário elevar a produção de alimentos em até 60 % para satisfazer a demanda da população em 2050. O aumento do número de habitantes, suas demandas de consumo e as mudanças demográficas devem ser refletidas no comportamento dos sistemas alimentares.

A necessidade de ajustar os sistemas alimentares é, sem dúvidas, uma das razões pelas quais existe a rede de investigação por trás deste livro. Sua importância resulta inquestionável, principalmente quando levamos em consideração que resta menos de uma década para atingirmos o prazo da Agenda 2030 e da consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esses objetivos são a base para podermos enfrentar o desafio populacional e geográfico que nosso mundo tem pela frente para 2050. Por isso, deve-se reconhecer o grande esforço da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em estampar nestas páginas dinâmicas desta rede de investigação em que também estão plasmadas as três “S” das chamadas economia verde (terra) e economia azul (mares): Saúde, Sanidade e Sustentabilidade, as quais devem ser parte substancial dos sistemas alimentares presentes nas décadas vindouras.

Esperamos que estes conhecimentos possam transitar do “academicamente apreciado”, em direção ao “politicamente influente” e que, em breve, várias das propostas ainda incubadas derivem em alinhamentos de políticas públicasque irão transformar a realidade das cidades e de seus sistemas alimentares. É exatamente a oportunidade de alterar as políticas públicas locais, regionais, nacionais e globais o motivo pelo qual na FAO apoiamos estes processos que vinculam as universidades às instituições de política pública e à sociedade. Eis porque apoiamos processos como o da III Conferência Internacional Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbanizada.

Em diversos pontos deste livro recebe-se uma mensagem clara que reflete uma de nossas tarefas como atores da sociedade no mundo: pensemos globalmente e atuemos localmente. Este livro traz uma frase de Carlos Fuentes, escritor mexicano que, referindo-se ao processo de globalização no início desse século, mencionou: “não há globalidade que valha, sem localidade que sirva”.

Parabéns a todos os envolvidos.

Rafael Zavala Gómez del Campo, Representante da FAO no Brasil

Direitos reservados desta edição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Organização: Potira V. Preiss e Sergio Schneider
Tradução e revisão ortográfica: Regina Vargas
Revisão técnica: Potira V. Preiss
Capa e editoração: Maria do Rosário Longhi

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