Demanda por saúde e conveniência redefine a alimentação

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Blog do IFZ | 01/09/2025

Eles se inquietam com os alimentos ultraprocessados, desconfiam do uso de pesticidas e procuram — sempre que possível — alternativas frescas, funcionais e seguras. Essa é a moldura traçada pela pesquisa global Voice of the Consumer 2025, conduzida pela PwC em 28 países com mais de 21 mil consumidores, que revela um ponto de inflexão no modo como a sociedade se relaciona com a alimentação.

Segundo o relatório, cerca de 60% dos entrevistados expressam preocupação intensa com os riscos à saúde associados ao consumo de ultraprocessados e ao uso de pesticidas — índices que superam receios ligados ao preço, ao valor nutricional ou mesmo à segurança alimentar em sentido amplo. O dado se torna ainda mais eloquente quando se observa que 62% dos consumidores colocam esses fatores acima de todas as demais preocupações, inclusive custo, sinalizando uma associação direta entre escolhas alimentares e saúde futura.

O estudo mostra também um desejo crescente de reorganizar hábitos. Mais da metade dos entrevistados afirma que pretende aumentar o consumo de alimentos frescos nos próximos meses. Mas há contradições: embora reconheçam os riscos dos ultraprocessados, apenas 35% dizem efetivamente evitar esse tipo de produto no dia a dia. O preço, nesse cenário, continua a ser o filtro decisivo das escolhas.

A expectativa, contudo, não recai apenas sobre indivíduos. Mais da metade dos consumidores (51%) acredita que a indústria de alimentos deve assumir protagonismo na promoção de hábitos saudáveis, lado a lado com governos e instituições de saúde. Um terço dos entrevistados afirma que os benefícios para a saúde são critério determinante para trocar de marca, revelando uma lacuna entre a oferta atual e as demandas emergentes.

Esse movimento aponta caminhos concretos: produtos voltados a necessidades específicas de saúde lideram a lista de prioridades dos consumidores; em seguida aparecem opções com maior valor nutricional, redução calórica e informações mais claras sobre nutrição e saúde. Em paralelo, cresce o uso de tecnologias que orientam escolhas: 70% já utilizam aplicativos de saúde ou dispositivos vestíveis; entre eles, um grupo menor — os chamados “entusiastas de tecnologia da saúde” (9%) — relata mudanças substanciais no estilo de vida.

A abertura à inovação se estende também às formas de compra. Quase 40% dos consumidores exploraram canais alternativos de varejo no último ano, como assinaturas de alimentos, entregas sob demanda ou mercados de produtores locais. Ao mesmo tempo, 38% consomem refeições prontas ao menos uma vez por semana, reforçando a tensão entre conveniência e busca por dietas equilibradas.

Essas tendências expõem o dilema central do consumo contemporâneo: o desejo por alimentos saudáveis e sustentáveis convive com as restrições impostas pelo custo de vida. A pesquisa mostra que, diante de dilemas de preço, a maior parte dos consumidores ainda opta por alternativas mais baratas, mesmo quando isso significa abrir mão de atributos ligados à saúde ou ao meio ambiente.

O retrato que emerge do relatório é o de um consumidor aspiracional, que deseja mais saúde no prato e maior responsabilidade da indústria, mas que encontra limites objetivos para concretizar essas intenções. A mensagem para empresas é clara: a “nova receita” exige conciliar acessibilidade com inovação nutricional, clareza de informações e compromisso ambiental.

Paradoxos do consumo alimentar contemporâneo

O próprio relatório evidencia paradoxos que não podem ser ignorados. Apesar de 60% a 62% dos consumidores declararem preocupação com ultraprocessados e pesticidas, apenas 35% de fato evitam tais produtos. Mais de 80% afirmam temer os impactos das mudanças climáticas, mas apenas 44% aceitam pagar mais por alimentos ambientalmente responsáveis, enquanto 43% permanecem indecisos e 12% rejeitam a ideia. Embora 51% atribuam à indústria de alimentos a responsabilidade de incentivar hábitos saudáveis e 33% considerem os benefícios à saúde determinantes na escolha de marcas, na prática o preço continua a ser o critério soberano. E, ainda que 70% usem aplicativos ou dispositivos de saúde, as transformações mais profundas concentram-se em um grupo reduzido de 9% de “entusiastas da tecnologia da saúde”, revelando desigualdade de acesso e de impacto.

Baixe aqui o relatório “Voice of the Consumer 2025: A new recipe for the food industry

Resumo online do relatório disponível em https://www.pwc.com/gx/en/issues/c-suite-insights/voice-of-the-consumer-survey.html