Ação climática e nutrição: caminhos para o impacto

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Blog do IFZ | 06/02/2025

Baixe aqui o estudo “Climate action and nutrition – pathways to impact”

A interconexão entre mudanças climáticas e nutrição representa um dos maiores desafios globais para alcançar o desenvolvimento sustentável. Embora historicamente tratadas como questões separadas, ambas afetam diretamente a segurança alimentar, a biodiversidade, a saúde e os meios de subsistência. Este documento da FAO explora caminhos para integrar ações climáticas e nutricionais, destacando quatro sistemas essenciais: sistemas agroalimentares, recursos hídricos, proteção social e saúde.

Mudanças climáticas e nutrição: um desafio conjunto

A mudança climática afeta a disponibilidade, acessibilidade e qualidade dos alimentos, ao mesmo tempo que influencia padrões de produção e consumo. O aumento da temperatura global, a alteração dos regimes de chuvas e a ocorrência mais frequente de eventos extremos prejudicam a produtividade agrícola e a biodiversidade. Por outro lado, os sistemas agroalimentares são responsáveis por cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa e pela degradação de recursos naturais. Para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 2 (Fome Zero), e cumprir o Acordo de Paris, é essencial integrar ações que promovam a resiliência climática e garantam a segurança alimentar.

Sistemas agroalimentares e nutrição

Os sistemas agroalimentares desempenham um papel central na oferta de dietas saudáveis e sustentáveis. No entanto, atualmente, mais de 3 bilhões de pessoas não conseguem acessar uma alimentação adequada devido a desigualdades nos sistemas alimentares. O desperdício de alimentos é outro desafio significativo: cerca de 14% da produção global de alimentos é perdida antes de chegar ao varejo e outros 17% são desperdiçados por consumidores e estabelecimentos comerciais.

A degradação ambiental causada pela produção agrícola intensiva, a monocultura e o uso excessivo de fertilizantes e pesticidas reduzem a biodiversidade e contribuem para emissões de gases de efeito estufa. A mudança climática, por sua vez, compromete a produção agrícola ao diminuir os rendimentos das colheitas e reduzir o valor nutricional dos alimentos, afetando principalmente as populações vulneráveis.

Ações integradas para sistemas agroalimentares sustentáveis

Diversas ações podem contribuir para a transformação dos sistemas agroalimentares, promovendo benefícios tanto para o clima quanto para a nutrição, tais como:

  • Diversificação da produção agrícola e animal, garantindo maior diversidade alimentar e resiliência climática.
  • Redução do desperdício de alimentos, melhorando o acesso a dietas saudáveis e reduzindo emissões de gases de efeito estufa.
  • Incentivo ao consumo de dietas sustentáveis, por meio de políticas públicas e campanhas de conscientização.
  • Gestão sustentável do solo, protegendo a biodiversidade e garantindo alimentos mais nutritivos.

Recursos hídricos e segurança alimentar

Os sistemas hídricos são fundamentais para a segurança alimentar, a nutrição e a saúde. Eles garantem o acesso à água potável e ao saneamento, reduzem riscos de doenças e sustentam os sistemas agroalimentares. No entanto, as mudanças climáticas agravam a escassez hídrica e aumentam a ocorrência de eventos extremos, como secas e inundações. Atualmente, quase metade da população mundial enfrenta escassez severa de água durante pelo menos um mês por ano.

A degradação dos recursos hídricos afeta a produção agrícola, reduzindo a disponibilidade de alimentos e aumentando a incidência de doenças transmitidas pela água. Além disso, o aumento do nível do mar e a contaminação dos aquíferos comprometem a qualidade da água potável e a produtividade agrícola.

Soluções para a gestão integrada da água

Para enfrentar esses desafios, o documento propõe ações como:

  • Adoção de políticas de governança hídrica integradas, garantindo o uso sustentável da água.
  • Aprimoramento da gestão dos recursos hídricos, promovendo o uso eficiente da água na agricultura e na indústria.
  • Implementação de tecnologias inovadoras, como irrigação de precisão e reuso de água para produção agrícola.
  • Expansão do acesso ao saneamento e higiene, reduzindo riscos de doenças e fortalecendo a segurança alimentar.

Proteção social e resiliência climática

Os sistemas de proteção social desempenham um papel crucial na mitigação dos impactos das mudanças climáticas e na garantia da segurança alimentar das populações vulneráveis. A pobreza e a fome são agravadas por eventos climáticos extremos, como secas e inundações, que comprometem a produção de alimentos e os meios de subsistência.

A proteção social pode ser um instrumento eficaz para enfrentar esses desafios ao fornecer suporte financeiro, assistência alimentar e incentivos à adaptação climática. No entanto, esses programas precisam ser fortalecidos para garantir impactos sustentáveis tanto na segurança alimentar quanto na resiliência climática.

Medidas para fortalecer a proteção social

  • Ampliação de transferências de renda e programas de alimentação escolar, promovendo dietas mais nutritivas e acessíveis.
  • Incentivo à inclusão social e econômica, especialmente de pequenos agricultores e comunidades vulneráveis.
  • Investimentos em infraestrutura resiliente ao clima, garantindo acesso sustentável a alimentos e serviços básicos.
  • Promoção da equidade de gênero nos programas de proteção social, assegurando que mulheres e crianças tenham acesso a alimentos nutritivos e a recursos produtivos.

Sistemas de saúde e nutrição

A interação entre saúde, nutrição e mudanças climáticas exige uma abordagem integrada. A degradação ambiental e a insegurança alimentar aumentam a prevalência de doenças, desnutrição e mortalidade precoce. A falta de acesso a alimentos nutritivos e seguros contribui para deficiências nutricionais e agrava doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças cardiovasculares.

O setor de saúde também é diretamente impactado pelas mudanças climáticas, com a crescente disseminação de doenças relacionadas ao clima, como malária e cólera. A fragilidade dos sistemas de saúde em muitos países dificulta a resposta a esses desafios, tornando essencial o fortalecimento das políticas de saúde pública para mitigar os impactos da crise climática sobre a nutrição e o bem-estar da população.

Ações Prioritárias no Setor da Saúde

  • Fortalecimento dos sistemas de saúde pública, garantindo acesso a serviços de nutrição e atendimento médico de qualidade.
  • Promoção de dietas saudáveis e sustentáveis, integrando diretrizes alimentares às políticas de saúde.
  • Melhoria da vigilância epidemiológica, monitorando doenças e impactos nutricionais associados às mudanças climáticas.
  • Integração da nutrição às políticas de adaptação climática, garantindo que estratégias de mitigação climática levem em conta a segurança alimentar e nutricional.

Conclusão

A integração entre ação climática e nutrição é essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável e garantir a segurança alimentar global. Transformar sistemas agroalimentares, melhorar a governança da água, fortalecer a proteção social e consolidar sistemas de saúde resilientes são passos fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Somente com políticas integradas e ações coordenadas será possível construir um futuro mais sustentável, equitativo e saudável para todos.

Baixe aqui o estudo “Climate action and nutrition – pathways to impact”