Os alimentos ultraprocessados, amplamente consumidos em diversas regiões do mundo, estão associados a doenças crônicas como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares, além de acelerar o envelhecimento biológico. Um estudo com 16 mil americanos mostrou que cada aumento de 10% no consumo desses alimentos pode avançar a idade biológica em 2,4 meses, destacando os riscos de uma dieta rica em alimentos ultraprocessados
Blog do IFZ | 12/12/2024
A longevidade da população mundial está em ascensão. Segundo estimativas globais, a população acima dos 60 anos deve dobrar entre 2015 e 2050, alcançando cerca de 2,1 bilhões de pessoas. No entanto, esse aumento na expectativa de vida não tem sido acompanhado por uma melhora equivalente na qualidade de vida, o que impõe desafios sociais e econômicos globais. Nesse cenário, entender como as escolhas alimentares influenciam o processo de envelhecimento pode abrir caminhos para promover a saúde e reduzir os impactos das doenças relacionadas à idade.
A influência da dieta no envelhecimento
O campo emergente da gerociência* propõe intervenções nos processos biológicos do envelhecimento para aumentar os anos de vida saudáveis, ou healthspan. O envelhecimento biológico refere-se ao acúmulo gradual de danos moleculares e celulares ao longo do tempo, levando ao declínio da função fisiológica e à maior suscetibilidade a doenças crônicas. Estudos mostram que padrões alimentares saudáveis, baseados no consumo de alimentos integrais e vegetais, estão associados a um ritmo mais lento de envelhecimento biológico.
O perigo dos alimentos ultraprocessados
Os alimentos ultraprocessados são formulações industriais compostas por ingredientes como óleos, gorduras, amidos, aditivos e conservantes químicos. Eles representam mais de 50% da ingestão calórica em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, com consumo crescente em regiões da Ásia, África e América Latina. Estudos recentes apontam fortes associações entre a alta ingestão de alimentos ultraprocessados e doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e transtornos mentais. Além disso, pesquisas sugerem que esses alimentos aceleram o envelhecimento biológico.
Um estudo com 16 mil adultos nos Estados Unidos revelou que, para cada aumento de 10% no consumo de ultraprocessados, a idade biológica avançava 2,4 meses em relação à cronológica. Os participantes com uma dieta composta por 68% ou mais de calorias provenientes de alimentos ultraprocessados apresentavam uma idade biológica quase um ano maior do que aqueles cujo consumo era inferior a 39%.
Mecanismos de ação e consequências
Os alimentos ultraprocessados podem acelerar o envelhecimento por diferentes mecanismos. A exposição a produtos químicos utilizados no processamento industrial pode provocar danos celulares e moleculares. Além disso, ao substituírem alimentos naturais, como frutas e vegetais, esses produtos reduzem a ingestão de nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e antioxidantes.
Essas observações estão alinhadas a estudos anteriores que indicam a relação entre alimentos ultraprocessados e marcadores de envelhecimento, como telômeros encurtados, declínio cognitivo e maior risco de demência. O impacto é tão significativo que revisões sistemáticas apontam uma associação entre os ultraprocessados e mais de 30 diferentes agravos à saúde.
Recomendações para uma alimentação saudável
Diante dessas evidências, é essencial reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e priorizar uma alimentação baseada em alimentos in natura ou minimamente processados. O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, enfatiza a “regra de ouro”: evite ultraprocessados e dê preferência a alimentos frescos e preparos caseiros. Exemplos de alimentos ultraprocessados a serem evitados incluem biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, salsichas e sopas instantâneas.
Barbara Cardoso, pesquisadora da Universidade Monash e autora de estudos sobre o tema, sugere medidas simples para implementar essa mudança no dia a dia:
- Aumente o consumo de alimentos integrais: Priorize frutas, legumes, grãos integrais e sementes.
- Leia os rótulos: Evite produtos com longas listas de ingredientes desconhecidos.
- Cozinhe mais em casa: O preparo caseiro permite maior controle sobre a qualidade dos alimentos.
- Reduza a dependência de alimentos prontos: Substitua snacks e refeições prontas por opções naturais.
Perspectivas para o futuro
Os achados reforçam a importância de promover uma alimentação saudável como estratégia de saúde pública. Além disso, ressaltam a necessidade de políticas que limitem o consumo de ultraprocessados, como regulações para rótulos mais claros e restrições à publicidade desses produtos.
O envelhecimento é um processo inevitável, mas as escolhas alimentares podem fazer toda a diferença na qualidade e na longevidade da vida. A adoção de uma dieta equilibrada e natural não apenas protege contra doenças crônicas, mas também contribui para um envelhecimento mais saudável e digno.
(*) Gerociência é uma área interdisciplinar que estuda o vínculo entre o envelhecimento e as doenças relacionadas à idade. Basicamente, a gerocincîa busca entender como o processo de envelhecimento contribui para o surgimento de doenças crônicas e, com esse conhecimento, desenvolver estratégias para retardar o envelhecimento e, consequentemente, aumentar a saúde e a longevidade. É uma especialização da gerontologia, essa a ciência que estuda o envelhecimento em um sentido mais amplo envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais do envelhecimento.
Fonte: Association between ultra-processed food intake and biological ageing in US adults: findings from National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) 2003–2010
Publicado na Revista Age and Ageing, Volume 53, Issue 12, December 2024
Data de publicação: 09/12/2024
https://doi.org/10.1093/ageing/afae268