El Niño pesou na inflação de alimentos em 2024

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Fenômeno respondeu por 27,4% da variação de preços no domicílio, aponta estudo

Por Lucianne Carneiro no Valor Econômico | 20/01/2025

RIO DE JANEIRO | O fenômeno do El Niño respondeu por 2,25 pontos percentuais da alta de 8,22% da inflação de alimentação no domicílio em 2024, mostra estudo da LCA 4intelligence. Isso significa uma parcela de 27,4% da variação do indicador no ano passado. Os 2,25 pontos percentuais são também o terceiro maior número da série histórica da pesquisa, iniciada em 2004: atrás apenas de 2015 e 2016. Pela projeção da consultoria, o cenário será bem diferente no ano de 2025, com impacto de apenas 0,16 ponto percentual na alta estimada de 5,7% dos preços da alimentação no domicílio.

Imaizumi: Em 2025 dólar alto e inflação externa devem ganhar relevância [Foto: Gabriel Reis/Valor]
Bruno Imaizumi

A alta de preços de alimentos, no entanto, não deve ter alívio, com outros fatores ganhando relevância nesse movimento, como dólar alto, inflação externa e a própria inércia inflacionária, afirma o economista Bruno Imaizumi, responsável pelo trabalho. Além disso, eventos climáticos inesperados se tornam cada vez mais frequentes, embora não possam ser incluídos no modelo matemático de projeções.

“O El Niño começou mais para o fim de 2023 e teve magnitude muito forte em 2024, com efeito importante na safra e nos preços, a safra foi muito ruim. Foi um dos maiores impactos do El Niño da série histórica da pesquisa, o que dá a dimensão do que foi o ano de 2024”, diz ele.

Em 2023, o efeito já tinha sido 1,55 ponto percentual na inflação dos alimentos. Mas naquele ano o impacto foi concentrado no último trimestre e os preços de alimentos ainda foram beneficiados pela safra recorde de grãos, colhida especialmente no primeiro semestre do ano, quando o El Niño ainda não tinha começado.

Em 2024, a repercussão do fenômeno climático também foi diversa ao longo do ano: 1,51 ponto percentual no primeiro trimestre; 0,62 ponto percentual no segundo trimestre; 0,11 ponto percentual no terceiro trimestre; e 0,01 ponto percentual no quarto trimestre.

O fenômeno do El Niño provoca aquecimento acima de 0,5 grau nas águas do Pacífico. No Brasil, traz diferentes impactos, com regiões sofrendo com secas, e outras, enchentes e inundações.

Impacto El Niño nos preços

O estudo da consultoria atualiza um cálculo realizado pelo Banco Central em 2019. O modelo matemático usa variáveis como o Índice de Commodities – Brasil (IC-Br), usado como referência para inflação externa; o Oceanic Niño Index (ONI) – que mede a temperatura do oceano Pacífico equatorial, para identificar a intensidade do fenômeno climático; o volume de chuva no Brasil pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet); e o dado da alimentação no domicílio pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Além disso, entra na conta também o chamado hiato do produto calculado pelo Banco Central, medida de ociosidade da economia, que indica o quanto a atividade econômica precisa crescer ou desacelerar para atingir seu potencial.

Se em 2024 o El Niño teve consequência relevante para a alta dos preços da alimentação no domicílio, a realidade muda em 2025 e a influência deve ficar na outra ponta, entre as menores da série histórica, segundo a projeção da LCA 4intelligence.

Tradicionalmente, episódios de El Niño costumam exercer pressão inflacionária maior que de La Niña. E em 2025 a expectativa é que o La Niña tenha intensidade menor.

“Teremos um ano com intensidade menor do La Niña, mas ao mesmo tempo outros fatores vão influenciar mais. A alimentação vai continuar sob pressão, mas por outras coisas. A própria inércia inflacionária pesa. Além disso, há o efeito do dólar mais alto, que chega nos alimentos via preços de commodities, cotadas na moeda americana”, afirma Imaizumi.

Publicado originalmente no Valor Econômico
https://valor.globo.com/google/amp/brasil/noticia/2025/01/20/el-nino-pesou-na-inflacao-de-alimentos-em-2024.ghtml