Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa dos Sistemas Alimentares no Brasil

SEEG Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa | Outubro de 2023

Os sistemas alimentares respondem por 21% a 37% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre 1990 e 2019, as emissões de ssessistemas aumentaram cerca de 16% (FAO, 2021; IPCC, 2019). Em 2019, a emissão de GEE antropogênica mundial foi de 54 GtCO2e (GWP-AR5), da qual cerca de 70% foi proveniente dos combustíveis fósseis. Já a participação dos sistemas alimentares nas emissões globais foi de 31%, com a emissão de 16,5 GtCO2e, relembrando que estes são sistemas transversais a diversos setores. A tendência é de aumento das emissões devido à expectativa de demanda futura por alimentos (COSTA et al., 2022; TUBIELLO et al., 2022; FAO, 2021).

O escopo das emissões provenientes dos Sistemas Alimentares considera as atividades desenvolvidas ao longo de todas as suas cadeias envolvendo as etapas associadas às mudanças de uso da terra que resultam nas emissões geradas pela conversão de uso da terra para usos agropecuários, pela etapa de produção (dentro das porteiras), assim como pela pré e pós-produção, em que processos e produtos são empregados, incluindo o transporte, processamento, insumos, fabricação, consumo e resíduos gerados pelo último elo, que é o consumidor final (FAO, 2021).

O presente estudo visa aumentar a compreensão sobre os sistemas alimentares no Brasil através de um olhar sobre as suas implicações em emissões de gases de efeito estufa. Trata-se de um primeiro exercício de estimativa de emissões de gases de efeito estufa para o conjunto dos sistemas alimentares realizado especificamente para o país. Portanto, as emissões foram mensuradas e alocadas a partir das estimativas já realizadas pelo SEEG.

O estudo mostra que, em 2021, as emissões pelos sistemas alimentares do Brasil corresponderam a 1,8 bilhão de toneladas de dióxido carbônico equivalente (GtCO2e), ou seja, 73,7% das emissões brutas totais do país para o mesmo ano, quando foram emitidas 2,4 GtCO2e.

A maior parcela das emissões é proveniente do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas, que contabiliza o desmatamento, respondendo por 56,3% (1 GtCO2e) das emissões nacionais por sistemas alimentares. Logo em seguida, com 33,7% de participação, o setor de Agropecuária aparece como o segundo maior emissor, totalizando 600,8 MtCO2e emitidas em 2021 provenientes da produção de alimentos. Assim, somente esses dois setores corresponderam por 90% das emissões por sistemas alimentares.

Em seguida, vem Energia, respondendo por 5,6% das emissões alocadas nos Sistemas alimentares, com a emissão total de 100,1 MtCO2e. O setor de Resíduos responde pela parcela de 4,2% das emissões alocadas nos sistemas alimentares.

Por fim, o setor de Processos Industriais e Uso de Produtos foi o que menos teve suas emissões associadas ao conjunto dos sistemas alimentares, suas emissões foram de 4,0 MtCO2e, sendo menos de 1% das emissões totais associadas ao objeto deste estudo.

Quando se aplica um recorte por cadeia produtiva, em função da dimensão do rebanho bovino nacional e das áreas de pastagem, tem-se que a produção de carne bovina é a que mais contribuiu para as emissões alocadas nos sistemas alimentares em 2021, com um total de 1,4 GtCO2e o que corresponde a 78% das emissões estimadas.

Como observado na série histórica de emissões totais, a alocação de emissões para o sistema alimentar também mostra que o desmatamento é responsável por elevar em grande parte as emissões. Esse resultado reforça a urgência da implementação efetiva das ações públicas e privadas para eliminação do desmatamento em todos os biomas e cadeias produtivas brasileiros. No momento em que os grandes planos de combate ao desmatamento, PPCDAm e PP Cerrado, foram restituídos e revisados pelo atual governo, torna-se fundamental acelerar a implementação, por exemplo, da rastreabilidade, conjuntamente com os planos de descarbonização da agropecuária.

Para mudar esse cenário é preciso que as tecnologias da agropecuária de baixas emissões sejam transferidas em escala. Outras estimativas mostram o potencial de remoções de sistemas produtivos manejados de forma adequada e de acordo com a melhor ciência nacional já disponível. Por exemplo, em 2021, os solos brasileiros que possuem alguma prática considerada conservacionista, como a aplicação de plantio direto, recuperação de pastagens com níveis de degradação e implementação de sistemas integrados, como ILPF, foram responsáveis pela remoção de 370,8 MtCO2e.

Essas remoções provenientes da disseminação e do emprego de práticas e tecnologias ABC (Agropecuária de Baixa Emissão de Carbono), em conjunto com a eliminação do desmatamento, desempenham função fundamental na busca por cumprir as metas climáticas brasileiras, assim como para guiar o setor cada vez mais na direção de uma produção de baixas emissões, de forma que os diferentes sistemas produtivos sejam capazes de estocar carbono e emitir cada vez menos gases de efeito estufa. Diversas tecnologias e soluções já foram apontadas por outros estudos do SEEG demonstrando que com investimento e escala, é possível reverter o cenário atual.

Autores
Ane Alencar, Bárbara Zimbres, Edriano Souza e Julia Zanin Shimbo do Ipam – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
David Tsai, Ingrid Graces, Felipe Barcellos e Silva do IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente
Gabriel de Oliveira Quintana e Renata Fragoso Potenza do Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
Iris Coluna e Kaccnny Carvalho do ICLEI – Governos Locais para Sustentabilidade
David Tsai também pelo OC – Observatório do Clima

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