Famílias camponesas e sucessão no Nordeste brasileiro: limitações à permanência dos jovens no ofício de agricultor

  • Tempo de leitura:5 minutos de leitura

Blog do IFZ | 05/12/2024

Baixe aqui o artigo “Famílias camponesas e sucessão no Nordeste brasileiro: limitações à permanência dos jovens no ofício de agricultor

Futuro do campo em risco: desafios para a sucessão na agricultura familiar no Nordeste brasileiro

A permanência dos jovens no campo e a continuidade da agricultura familiar camponesa estão ameaçadas no Brasil, especialmente no Nordeste, região que concentra quase metade dos agricultores familiares do país. Um estudo recente realizado no município de Pedro Velho, Rio Grande do Norte, revela as dificuldades enfrentadas por jovens interessados em dar sequência ao “ofício de agricultor”.

Embora a maioria dos jovens expressasse desejo de continuar na agricultura, obstáculos como a baixa capacidade produtiva das propriedades familiares e a carência de políticas públicas consistentes, especialmente no acesso à terra, frustram seus planos. A pesquisa, que ouviu 28 famílias rurais (56 participantes), destaca que a ausência de um padrão sucessório definido agrava a situação, contribuindo para o envelhecimento acelerado da população rural.

Conforme o Censo Agropecuário de 2017, 49% dos estabelecimentos familiares brasileiros são chefiados por agricultores com mais de 55 anos, enquanto jovens de até 25 anos representam apenas 2% do total. Esse envelhecimento é ainda mais acentuado no Nordeste, que abriga 47% dos agricultores familiares do Brasil, muitos em condições de baixa renda.

“A mobilidade da juventude rural, impulsionada por perspectivas de melhores condições de vida nas cidades, revela um movimento cíclico de ida e, em alguns casos, de retorno ao campo. No entanto, a falta de suporte público e a crescente pressão do agronegócio tornam esse retorno cada vez mais difícil”, explica o estudo.

Agricultura familiar: desafios históricos e contemporâneos

A agricultura familiar camponesa, que responde por 77% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros e emprega 67% da força de trabalho no setor, enfrenta ameaças crescentes. O avanço do agronegócio voltado à exportação e a insuficiência de políticas de desenvolvimento rural são apontados como fatores que ampliam as desigualdades no campo.

O estudo de caso em Pedro Velho reflete o contexto mais amplo do Nordeste, onde o “saber fazer camponês” e a construção de um ofício agrícola passam por profundas transformações. Sem perspectivas claras de sucessão geracional, o ofício está em risco, comprometendo a reprodução social das famílias e a sustentabilidade da agricultura familiar.

Perspectivas e caminhos possíveis

Para enfrentar esses desafios, é essencial investir em políticas públicas que fortaleçam o setor. “O acesso à terra, crédito agrícola, assistência técnica e programas de capacitação são elementos indispensáveis para a manutenção da agricultura familiar e para atrair os jovens de volta ao campo”, sugere a pesquisa.

Além disso, iniciativas que valorizem o papel dos jovens na construção de um campo mais dinâmico e sustentável podem ajudar a transformar o cenário. Experiências bem-sucedidas de cooperativismo e agroecologia em outras regiões do Brasil mostram que há alternativas viáveis.

Em Pedro Velho, apesar das dificuldades, os jovens ainda enxergam no campo uma possibilidade de futuro. Mas para que isso se concretize, o apoio estatal e o fortalecimento das comunidades camponesas serão indispensáveis. O futuro do campo e da agricultura familiar depende de ações integradas e urgentes para reverter esse quadro.

Estudo de campo

O presente estudo realizado por Elaíne Cristina dos Santos, Winifred Knox — ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte —, e Joacir Rufino de Aquino — da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte —, com o objetivo de analisar o processo de sucessão nas famílias camponesas e a permanência dos jovens na atividade agrícola, apontou que muitos jovens desejam continuar no “ofício de agricultor“. No entanto, identificou obstáculos significativos, como a baixa capacidade produtiva das propriedades e a ausência de políticas públicas efetivas, especialmente no que diz respeito ao acesso à terra.

Esses desafios ameaçam a sucessão geracional e comprometem a sustentabilidade da agricultura familiar no Nordeste brasileiro.

Baixe aqui o artigo “Famílias camponesas e sucessão no Nordeste brasileiro: limitações à permanência dos jovens no ofício de agricultor