Fome atinge 11,4% das mulheres e 8,3% dos homens no Brasil, diz FAO

No mundo, 9,3% dos homens vivem em situação de insegurança alimentar grave e 10,8% das mulheres

Por Lucianne Carneiro no Valor Econômico | 09/11/2023

RIO DE JANEIRO | A fome atinge 11,4% das mulheres e 8,3% dos homens no Brasil, mostra o relatório Panorama Regional da Insegurança Alimentar e Nutrição 2023, divulgado nesta quinta-feira (9) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Na média do país, a fome, também chamada de insegurança alimentar grave, é uma realidade para 9,9% da população, considerando os dados para o período 2020-2022.

Os dados da FAO mostram que a prevalência da fome é maior entre mulheres que homens na média mundial, na América Latina e Caribe e também na grande maioria dos países da região. No mundo, 9,3% dos homens vivem em situação de insegurança alimentar grave e 10,8% das mulheres. Na América Latina e Caribe, os percentuais são de 11,4% e 14,3%, respectivamente. A insegurança alimentar grave é caracterizada pela FAO como aquela em que as pessoas passaram fome e ficaram sem comida, e, nos casos mais extremos, isso pode ter ocorrido por dias.

A diferença entre a prevalência de fome entre homens e mulheres no Brasil é de 3,1 pontos percentuais, pouco acima daquela registrada em América Latina e Caribe (3 pontos percentuais) e o dobro da média mundial (1,5 ponto percentual).

Segundo a FAO, grande parte (57%) dessa diferença nos indicadores de insegurança alimentar entre homens e mulheres se deve às disparidades em educação, emprego em tempo integral e participação na força de trabalho.

Entre os países da América Latina e Caribe, apenas Antígua e Barbuda e Bahamas registram taxas maiores de fome entre homens que entre mulheres. Em Antígua e Barbuda, 7,4% dos homens passam fome, ante 6,8% das mulheres. Em Bahamas, por sua vez, os índices são de 3,6% e 3,3%, respectivamente.

“A insegurança alimentar continua afetando de maneira desigual a diferentes grupos da população, sendo as mulheres e os moradores das zonas rurais os mais vulneráveis. As mulheres enfrentam maior insegurança alimentar que os homens. Ainda que o percentual tenha registrado tenha reduzido em 2022, a diferença a nível regional permanece maior que a nível global”, aponta o relatório da FAO.

Ao tratar da fome de acordo com a localização do domicílio, o documento mostra que a fome atinge 14,4% da população nas áreas rurais e 10,1% nas urbanas da América Latina e Caribe. No mundo, esses índices são de 12,8% e 9,4%, respectivamente. Neste caso o relatório não traz dados separados por país.

A diferença se mantém quando se amplia para o indicador que inclui também a insuficiência alimentar moderada – quando há incerteza sobre a capacidade de obtenção de alimentos e as pessoas são obrigadas a reduzir a qualidade e a quantidade de alimentos que consomem devido à falta de dinheiro ou de outros recursos.

No mundo, 33,3% da população rural está neste grupo, para 26% da população urbana. Na América Latina e Caribe, a diferença é ainda maior: são 40,4% dos habitantes das áreas rurais e 32,1% daqueles nas áreas urbanas.

Segundo a FAO, a realidade de diferença entre áreas rurais e urbanas pode ser explicada pelas disparidades em riqueza, educação, saúde e serviços de infraestrutura existentes nesses locais.

Publicado no Valor Econômico
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