Por Layla Silva na Notícia Preta | 13/08/2025
Em entrevista à TV Senado, o representante do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, afirmou que o mundo gastou, em 2024, US$ 2,7 trilhões em compras de armas. Se apenas 2% a 3% desse montante fossem destinados ao combate à fome, o problema poderia ser erradicado. Segundo Balaban, as prioridades dos países desenvolvidos que antes destinavam recursos para acabar com a fome em nações emergentes mudaram: “A maioria dos países do Norte, tanto os europeus quanto o Japão e os Estados Unidos, começou a cortar recursos para o combate à fome e à pobreza, investindo cada vez mais em defesa e armas. Quanto maior o investimento em armamento, pior fica a questão humanitária.”
Relatório divulgado em julho deste ano pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) aponta que alguns países ainda enfrentam níveis alarmantes de fome: Somália, Burundi, Comores, Sudão do Sul, Síria, Iêmen, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Paquistão, Mianmar, Bangladesh, Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua. Conflitos armados, crises econômicas e eventos climáticos extremos estão entre as principais causas.
Balaban faz um apelo para que os países redirecionem gastos militares e se unam no combate à fome: “É um apelo que nós, do Programa Mundial de Alimentos da ONU, fazemos — que haja conscientização e que os governos voltem a apoiar o combate à pobreza e à fome. Somente assim teremos um planeta melhor.”
Ele destacou ainda que um único míssil usado em guerras custa, em média, 1 milhão de dólares — valor que, aplicado de outra forma, poderia transformar a realidade de populações inteiras.
Brasil como espelho para acabar com a fome
O Brasil foi novamente retirado do Mapa da Fome após permanecer por três anos na lista. Para Balaban, as campanhas e políticas públicas realizadas no país são exemplos para o mundo: “Temos no Brasil políticas como o Bolsa Família, que já recebeu prêmios do Banco Mundial. Vários países, inclusive na África, estão criando programas de transferência de renda inspirados nesse modelo.”
Ele ressalta, no entanto, que estar fora do Mapa da Fome não significa que o assunto possa ser deixado de lado. Ainda há milhões de brasileiros em insegurança alimentar: “É como aquele time que ganhou o campeonato e ainda tem outros jogos pela frente. É importante que o Brasil continue promovendo políticas públicas. Ainda temos 30 milhões de pessoas com algum tipo de insegurança alimentar. Precisamos focar para que o país chegue a um ponto em que ninguém sofra por fome — e isso é possível.”
Sobre as políticas públicas brasileiras, Balaban afirma que nem deveria existir a possibilidade de encerrá-las. Para ele, todo país precisa garantir meios para que pessoas em extrema miséria possam recuperar a cidadania: “É importante que as pessoas parem de ter preconceito em relação à política pública, porque é mais barato manter um programa de transferência de renda do que arcar com os custos da fome e da miséria extrema.”
Publicado originalmente pela Notícia Preta
https://noticiapreta.com.br/erradicar-fome-custa-apenas-2-investimento-armas/
Participação de Daniel Balaban no programa Agenda Econômica, da TV Senado
