G20: Combate à fome deve ser prioridade em declaração de ministros da agricultura

  • Tempo de leitura:7 minutos de leitura

Metas globais de erradicação da fome estão “preocupantemente fora de alcance”, diz FAO

Por Rafael Walendorff no Globo Rural | 13/09/2024

BRASÍLIA | O compromisso com o combate à fome no planeta deve ganhar prioridade na declaração que os ministros da Agricultura de países do G20 devem divulgar nesta sexta-feira (13), após conclusão das reuniões na Chapada dos Guimarães (MT).

As metas globais de erradicação da fome estão “preocupantemente fora de alcance”, alertou o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Qu Dongyu, em seu discurso na abertura da reunião. Ele pediu maior cooperação dos países-membros do G20 para o tema e disse que 733 milhões de pessoas passam por insegurança alimentar no mundo.

Segundo Dongyu, as mudanças climáticas, os choques econômicos e os conflitos são fatores que impulsionam a fome global e têm causado “crises alimentares de uma magnitude não vista há muitos anos”.

O ministro Carlos Fávaro afirmou que a declaração ministerial do G20 está “bastante alinhavada”, apesar do desafio de buscar consenso em compromissos sobre mudanças de rota para a produção de alimentos e o combate à fome.

“O texto já está bastante alinhavado para que possamos sair não com uma carta, que é um indicativo. Queremos sair com uma declaração, que é algo muito forte a ser implementado”, indicou.

Eixos da declaração

A declaração deve conter compromissos em quatro eixos prioritários: sustentabilidade da agricultura e dos sistemas alimentares, aumentar a contribuição do comércio internacional para a segurança alimentar e nutricional, elevar o papel essencial dos agricultores familiares em sistemas agrícolas e promover a integração da pesca e da aquicultura sustentáveis nas cadeias de valor locais e globais.

Fávaro disse que a delegação tem a oportunidade de dar um “primeiro passo” para a mudança nos sistemas alimentares, sem apontar culpados pelos extremos climáticos no mundo. “Cabe a este grupo discutir a implementação de medidas efetivas do combate à fome, e aí certamente começaremos a ter justiça social no planeta”, afirmou no discurso em que classificou a fome como a “maior degradação” do ser humano.

Ele ressaltou o papel do comércio internacional na garantia da segurança alimentar e a necessidade de superar barreiras comerciais para garantir o fluxo de mercadorias e o acessos, por todos, a alimentos “a preços justos e competitivos com qualidade sanitária”.

Agricultura familiar

Qu Dongyu, diretor da FAO, destacou que os agricultores familiares desempenham papel central na garantia da segurança alimentar global, já que representam mais de 90% das fazendas do mundo, ocupam entre 70% e 80% das terras agrícolas e produzem mais de 80% dos alimentos do mundo em termos de valor.

O tema também foi lembrado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ao citar a realização da COP30, em Belém (PA), em 2025, ele cobrou medidas para descarbonização de países desenvolvidos e de apoio a pequenos produtores de nações em desenvolvimento para a transição agroecológica. O ministro destacou ainda o papel da agricultura familiar no combate à fome.

Ampliação de negócios

O ministro da Agricultura também que a reunião do grupo de trabalho do G20 tem proporcionado a realização de encontros bilaterais que poderão resultar em anúncios pela cúpula do bloco, em novembro, no Rio de Janeiro.

“Já temos expectativas de anúncios importantes na reunião da cúpula do G20, dos presidentes, e estão sendo ampliadas pelas reuniões bilaterais que estamos fazendo”, afirmou Fávaro.

Nesta quinta-feira, Fávaro se reuniu com o ministro de Meio Ambiente, Água e Agricultura da Arábia Saudita, Abdulrahman A. Al-Fadley. Na pauta, estava a ampliação da venda de grãos e proteínas animais, como carne bovina e de aves pelo Brasil, e a expansão da importação de tecnologias sauditas para irrigação e de fertilizantes do país do Oriente Médio.

O ministro também teve conversas com o vice-ministro de Agricultura e Assuntos Rurais da China, Ma Youxiang, para discutir a ampliação dos mercados já abertos. Fávaro sinalizou que outras aberturas estão próximas.

“Novos mercados estão com protocolos já finalizados, como uva fresca, gergelim e sorgo. Está em andamento também a abertura para o DDG brasileiro”, afirmou.

Outro tema debatido foi o sincronismo de aprovação de novas tecnologias desenvolvidas em ambos os países. “É um ganha-ganha, os dois lados têm potencial. Propus o sincronismo na rapidez de aprovação para que possamos vender à China nossas novas tecnologias, mas também comprar as tecnologias desenvolvidas lá”, explicou.

A conversa com chineses e sauditas também abordou possibilidades de investimentos estrangeiros em infraestrutura no Brasil. “Esses investimentos podem dar diferença de 10% nos preços de produtos brasileiros, ajudando no combate à inflação mundial de alimentos”, completou.

Fávaro está confiante na aprovação de uma declaração ministerial ao fim da reunião, algo inédito nos últimos cinco anos, em que foram produzidas apenas cartas.

“Temos a oportunidade de avançar depois de muitos anos com a declaração oficial, muito em virtude da consciência de todos de que precisamos evoluir no modelo de produzir no mundo. Há uma unanimidade”, disse.

“Tenho convicção de que vamos assinar uma declaração relevante para finalização da presidência do G20, em novembro (…) Tivemos a capacidade técnica, com muita diplomacia, de fazer com os que membros superassem divergências particulares, como entre Rússia e União Europeia, China e Estados Unidos”, disse Fávaro. “Está tudo superado e conseguimos a construção de declaração, que é uma condicionante. Todo mundo se compromete na implementação das medidas que sairão neste documento, que serão levadas com essa força aos chefes de Estado”, concluiu.

Publicado originalmente no Globo Rural
https://globorural.globo.com/politica/noticia/2024/09/combate-a-fome-deve-ser-prioridade-em-declaracao-de-ministros-da-agricultura-no-g20.ghtml