Geração de lixo no mundo pode chegar a 3,8 bi de toneladas em 2050

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Se tal quadro não for revertido, impacto negativo no clima será maior

Por Camila Boehm para Agência Brasil | 28/02/2024

Caso não haja mudança nos padrões de produção, consumo e descarte de materiais, a geração de resíduos sólidos domiciliar no mundo deve crescer 80% entre 2020 e 2050, passando de 2,1 bilhões de toneladas ao ano para 3,8 bilhões.

Cenário considerado promissor é manter a produção de resíduos em 2 toneladas por ano, neste mesmo prazo, apesar do aumento populacional e melhora do poder aquisitivo mundial.

Os dados são do relatório Global Waste Management Outlook 2024 (GWMO 2024), lançado hoje (28) durante a Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente, em Nairóbi, capital do Quênia. O documento foi desenvolvido pela International Solid Waste Association (ISWA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Relatório

O presidente da ISWA, Carlos Silva Filho, um dos autores do relatório, ressaltou que o mundo continua em uma tendência de aumento da produção de resíduos sólidos. “Ainda temos cerca de 40% desses resíduos vão parar em locais inadequados, tipo lixão e queima a céu aberto. Essa é uma tendência muito preocupante”, avaliou.

Se tal quadro não for revertido, ele explica que pode haver impactos negativos no clima, com mais emissões de gases de efeito estufa, principalmente metano; na biodiversidade, com maior exploração de recursos naturais e prejuízos para flora e fauna; e na saúde humana, com maior poluição e impactos direto na qualidade do ar, água e solo.

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2022, foram gerados no Brasil cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos domiciliares, das quais 76 milhões de toneladas foram coletadas, totalizando uma cobertura de coleta de 93%, mesma média apontada para a América do Sul no relatório. No entanto, 40% dos resíduos coletados no país, cerca de 29,7 milhões de toneladas, ainda seguem para destinos inadequados – lixões e aterros controlados. 

Segundo o Atlas Global, no mundo, 38% dos resíduos acabam em destinos inadequados. Na América do Sul, esse percentual é de 34%, o que, segundo o ISWA, permite constatar que o Brasil está em situação deficitária em relação à média global e à média do continente.

Silva Filho apontou ainda que os índices de aproveitamento dos resíduos são bastante limitados no país e no mundo. Segundo o relatório, enquanto a média global é de 19% e a do continente Sul-americano de 6%, o índice de reciclagem de resíduos sólidos urbanos no Brasil varia em torno de 3 a 4% e está estagnado há mais de uma década.

Brasil

No Brasil, o levantamento revelou que, até 2050, a produção de resíduos deve crescer mais de 50% e poderá alcançar 120 milhões de toneladas por ano. Segundo o instituto, o número demonstra que o país carece de ações urgentes. 

“O relatório mostra que o país ainda está bastante deficiente na gestão de resíduos. Em termos de aumento e de crescimento da geração, o Brasil está seguindo a mesma linha do mundo, com esse crescimento acelerado. Mas em termos de aproveitamento do resíduo, nós estamos muito atrasados”, avaliou Silva Filho.

A publicação aponta ainda que cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso aos serviços básicos de limpeza urbana, como coleta de lixo. No Brasil uma em cada 11 pessoas não dispõe desse serviço. Com isso, mais de 5 milhões de toneladas de resíduos sólidos deixam de ser coletadas anualmente e acabam descartadas no meio ambiente, com impactos negativos no solo, rios e na saúde da população.

Recomendações

Análise das entidades mostrou que o maior impacto no aumento da geração de resíduos sólidos é decorrente do crescimento econômico, sendo 75% em função de aumento de poder aquisitivo, e 25% em função do crescimento populacional.

“O relatório traz a recomendação no sentido de que precisa dissociar o crescimento econômico da maior geração de resíduos sólidos. Nós precisamos de um novo modelo de design, produção, venda, distribuição de materiais e de uma nova consciência no descarte e geração de resíduos.”

Segundo o presidente do instituto, daqui até 2050, a perspectiva é de desenvolvimento econômico no mundo, revertendo essa rota de recessão e entrando numa rota de crescimento.

Um exemplo prático para minimizar impactos é o sistema de responsabilidade estendida dos produtores, ou seja, quem fabrica um produto e o coloca no mercado passa a ser responsável pelo retorno deste produto.

“Com isso, você traz um compromisso para que essa indústria faça produções mais amigáveis, mais fáceis de serem retornadas”, disse Silva Filho. Ele cita ainda o combate ao desperdício de alimentos e modos de ampliar o mercado de reciclagem, fazendo com que o resíduo se torne uma matéria-prima.

O cenário considerado possível de ser implementado seria alcançar 60% de reciclagem no mundo, que atualmente é de 19%, e reduzir a geração per capita de resíduos sólidos para 600 gramas em média – atualmente a quantidade é 800 gramas por pessoa. O total de resíduos sólidos domiciliares gerados no mundo ficaria em torno de 2 bilhões de toneladas, em 2050, em um cenário considerado promissor e também factível. Além disso, tal cenário prevê que não haja mais destino inadequado no planeta já a partir de 2030.

Panorama Global da Gestão de Resíduos 2024

Publicado em conjunto com a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), o relatório Panorama Global da Gestão de Resíduos 2024 fornece uma atualização sobre a geração global de resíduos e o custo do lixo e sua gestão desde 2018. A análise utiliza avaliações do ciclo de vida para explorar o que o mundo poderia ganhar ou perder ao continuar com o modelo atual, adotar medidas intermediárias ou se comprometer totalmente com sociedades de desperdício zero e economia circular. O relatório também avalia três cenários potenciais de geração e gestão de resíduos municipais, examinando seus impactos na sociedade, no meio ambiente e na economia global. Além disso, apresenta estratégias potenciais para redução de resíduos e gestão aprimorada, seguindo a hierarquia de resíduos, para tratar todos os materiais como recursos valiosos.

Principais conclusões

Prevê-se que a geração de resíduos sólidos municipais cresça de 2,3 bilhões de toneladas em 2023 para 3,8 bilhões de toneladas até 2050. Em 2020, o custo direto global da gestão de resíduos foi estimado em USD 252 bilhões. Ao considerar os custos ocultos da poluição, saúde precária e mudanças climáticas decorrentes de práticas inadequadas de disposição de resíduos, o custo sobe para USD 361 bilhões. Sem ação urgente na gestão de resíduos, até 2050, esse custo anual global poderia quase dobrar para impressionantes USD 640,3 bilhões.

A modelagem do relatório mostra que controlar os resíduos por meio de medidas de prevenção e gestão poderia limitar os custos líquidos anuais até 2050 a USD 270,2 bilhões. No entanto, projeções mostram que um modelo de economia circular, onde a geração de resíduos e o crescimento econômico são desacoplados pela adoção de evitação de resíduos, práticas comerciais sustentáveis e gestão completa de resíduos, poderia levar a um ganho líquido total de USD 108,5 bilhões por ano.

Precisamos agir agora para evitar o pior cenário. O relatório fornece orientações e ações sugeridas para bancos multilaterais de desenvolvimento, governos nacionais, municípios, produtores e varejistas, setor de gestão de resíduos, bem como para os cidadãos.

Baixe aqui o relatório “Global Waste Management Outlook 2024“, em Inglês, em formato pdf

Publicado pela Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-02/geracao-de-lixo-no-mundo-pode-chegar-38-bi-de-toneladas-em-2050