Em 2024, 295,3 milhões de pessoas — o equivalente a 22,6% da população analisada — enfrentaram altos níveis de insegurança alimentar aguda em 53 dos 65 países e territórios incluídos no Relatório Global sobre Crises Alimentares (GRFC)
Blog do IFZ | 18/05/2025
Crise alimentar piora pelo sexto ano seguido em 53 países e territórios frágeis; número de pessoas no nível mais alto de fome bate novo recorde; desnutrição grave afeta 38 milhões de crianças em zonas de crise. A insegurança alimentar aguda e a desnutrição infantil aumentaram pelo sexto ano consecutivo em 2024, de acordo com o Relatório Global sobre Crises Alimentares (Global Report on Food Crises 2025), divulgado nesta sexta-feira por diversas agências da ONU.
Apenas no ano passado, 295 milhões de pessoas, em 53 países e territórios, enfrentaram fome aguda — quase 14 milhões a mais em comparação com 2023.
Este é o sexto aumento anual consecutivo. Houve 13,7 milhões de pessoas a mais em situação de fome aguda em comparação com 2023, o que representa um leve aumento na prevalência — de 21,5% em 2023 para 22,6% em 2024. Desde 2020, a taxa permanece acima dos 20%. (Veja figura 1 no relatório original).
Embora menos países tenham sido incluídos na edição de 2025 do Global Report on Food Crises 2025, a ampliação da cobertura analítica permitiu identificar áreas com altos níveis de insegurança alimentar aguda. Doze países não apresentaram dados que atendessem aos critérios técnicos do relatório.
A piora da insegurança alimentar aguda em 19 países — impulsionada principalmente por conflitos e instabilidade na Nigéria, Sudão e Mianmar — superou as melhorias registradas em 15 países, entre eles Afeganistão, Quênia e Ucrânia. Essas melhorias foram atribuídas a melhores condições econômicas e climáticas, além da atuação da ajuda humanitária.
Fome declarada no Sudão e risco persistente em Gaza
O Comitê de Revisão da Fome do IPC (FRC, na sigla em inglês) confirmou, em julho de 2024, a ocorrência de fome (Fase 5 do IPC) no campo de Zamzam, em Darfur do Norte — a primeira confirmação global desde 2020. Posteriormente, entre outubro e novembro, a fome foi identificada em outras quatro áreas do país, com previsão de atingir mais cinco regiões entre dezembro de 2024 e maio de 2025. O comitê também apontou risco de fome em outras 17 áreas nesse mesmo período.
Em março de 2024, o FRC projetou que a fome era iminente na Palestina (Faixa de Gaza). Apesar do aumento na entrada de suprimentos e da ajuda humanitária, os dados disponíveis em junho não indicaram ocorrência efetiva da fome. No entanto, o risco permaneceu elevado ao longo de todo o ano na região.
Fase 5: número de pessoas em catástrofe mais que dobrou
Dos 295,3 milhões de pessoas em situação de fome aguda em 2024, 227,1 milhões estavam em 40 países ou territórios com análises realizadas segundo a metodologia IPC/CH (ou equivalente), o que permitiu a desagregação por fase de gravidade.
O número de pessoas em situação de catástrofe (Fase 5 do IPC/CH) mais que dobrou entre 2023 e 2024, sendo motivado principalmente por conflitos. Mais de 95% dessas pessoas estavam na Palestina (Faixa de Gaza) e no Sudão, mas também houve registros significativos no Sudão do Sul, Haiti e Mali.
Em 2023, esse número já havia atingido o maior patamar desde a criação do GRFC, praticamente o dobro do observado em 2022. Nesta fase, a população sofre falta extrema de alimentos e esgotamento total da capacidade de enfrentamento, o que leva à fome, desnutrição aguda e morte.
Fase 4: 35 milhões de pessoas em emergência alimentar
Mais de 35 milhões de pessoas em 36 países e territórios enfrentaram emergência alimentar (Fase 4) em 2024. Nove países apresentaram mais de 1 milhão de pessoas nessa condição. O Sudão lidera esse grupo, com mais de 8 milhões de pessoas — mais de 2 milhões a mais que em 2023. No Chade, a população na Fase 4 mais que dobrou. O Quênia foi o país com a melhor recuperação nesse indicador.
Pessoas nessa fase precisam de ações urgentes e em larga escala para reduzir os déficits no consumo alimentar, evitar o colapso dos meios de subsistência e conter a desnutrição aguda e mortes adicionais.
Fase 3: 190 milhões de pessoas em crise alimentar
Cerca de 190 milhões de pessoas em 40 países e territórios enfrentaram crise alimentar (Fase 3) em 2024, o que representa 19% da população analisada — um leve aumento em relação aos 18% registrados em 2023. Pessoas nessa fase exigem intervenção urgente para proteger os meios de subsistência e reduzir a insegurança alimentar.
Fase 2: 345 milhões em situação de estresse alimentar
Quase 345 milhões de pessoas em 39 países estavam em situação de estresse alimentar (Fase 2), o que corresponde a 35% da população analisada — frente a 32% no ano anterior.
Pessoas nesta fase são altamente vulneráveis a choques e necessitam de apoio para reduzir riscos relacionados a desastres e proteger seus meios de subsistência.
Sobre o relatório
O relatório Global Report on Food Crises 2025 foi elaborado com a participação do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Ifad), do Banco Mundial e da Agência da ONU para Refugiados (Acnur).
Baixe aqui o relatório completo “Global Report on Food Crises 2025“, em Inglês
Baixe aqui o resumo do relatório “Global Report on Food Crises 2025 in Brief“, em Inglês
Baixe aqui o resumo do relatório “Informe Mundial sobre las Crisis Alimentarias 2025 Resumem“, em Espanhol
