Por Josimar Gonçalves de Jesus e Rodolfo Hoffmann | 20/11/2024
O artigo “Insegurança alimentar no Brasil e relação com a pobreza e outros condicionantes, 2004 a 2023”, traz uma análise aprofundada da evolução da insegurança alimentar no Brasil ao longo de quase duas décadas. O estudo utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), abordando os fatores associados à limitação no acesso aos alimentos, sobretudo aqueles relacionados à pobreza e ao poder aquisitivo das famílias.
A pesquisa identifica que a insegurança alimentar no Brasil está intrinsicamente ligada aos níveis de pobreza, com agravantes provenientes de crises econômicas e desigualdades regionais. Além disso, os dados sugerem que a renda domiciliar é o principal determinante da insegurança alimentar, mas não o único. Fatores como escolaridade, local de moradia (urbano ou rural) e presença de cônjuge no domicílio também influenciam na garantia de acesso aos alimentos.
De acordo com o estudo, entre 2004 e 2013, houve uma queda progressiva na insegurança alimentar no país, acompanhando a redução nos índices de pobreza. Entretanto, crises econômicas posteriores reverteram parte desse progresso. Em 2023, mesmo com melhorias recentes, os índices ainda não retomaram os melhores níveis registrados em 2013.
Os resultados reforçam a urgência de políticas públicas que associem aumento de renda, ampliação do acesso à educação e melhorias estruturais para enfrentar a insegurança alimentar de forma sustentável. A análise evidencia que estratégias bem focalizadas, como os programas de transferência de renda, são fundamentais para mitigar essa questão social que atinge milhões de brasileiros.
Resumo do artigo
Introdução: Ressalta-se que a insegurança alimentar, medida pela EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), se refere à limitação no acesso aos alimentos e que esse não é um problema decorrente de pouca oferta, mas, sim, condicionado, essencialmente, pela insuficiência de poder aquisitivo das famílias.
Objetivo: Analisar a evolução dos diferentes graus de insegurança alimentar e de pobreza no Brasil e avaliar, com os dados de 2023, os vários fatores associados à insegurança alimentar.
Metodologia: São utilizados os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2004, 2009, 2013 e 2023 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017-2018. Modelos de lógite são estimados para avaliar os fatores associados à insegurança alimentar em 2023.
Resultados: A insegurança alimentar no Brasil varia em consonância com o nível de pobreza, mas, de 2013 a 2017-2018, o aumento da insegurança alimentar leve é bem mais intenso do que o crescimento da pobreza, e isso é atribuído ao caráter parcialmente subjetivo da medida de insegurança alimentar. Os modelos de lógite estimados permitem quantificar o efeito do nível da renda domiciliar per capita e de outros fatores sobre a probabilidade de haver insegurança alimentar. Entre outros resultados, verifica-se que, controlando o efeito da renda e outros fatores, maior escolaridade da pessoa de referência do domicílio, residir na área rural e a presença de cônjuge no domicílio reduzem a probabilidade de insegurança alimentar.
Conclusão: Reafirma-se a importância da renda como condicionante fundamental (mas não exclusivo) da insegurança alimentar no Brasil.
Sobre os autores
Josimar Gonçalves de Jesus – Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia Combate à Fome, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.
Rodolfo Hoffmann – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo,Piracicaba, São Paulo,Brasil.
JESUS, Josimar Gonçalves de; HOFFMANN, Rodolfo. Insegurança alimentar no Brasil e relação com a pobreza e outros condicionantes, 2004 a 2023. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, SP, v. 31, n. 00, p. e024010, 2024. DOI: 10.20396/san.v31i00.8678004. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/8678004. Acesso em: 7 jan. 2025.