Mandioca: versatilidade e importância na nutrição

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A mandioca é uma raiz de grande importância no aumento da segurança alimentar em vários países; armazena uma grande quantidade de energia e contém minerais e vitamina C

Por Beatriz Riverón | 03/09/2024

Informação Geral

Manihot esculenta (família Euphorbiaceae), conhecida popularmente como mandioca, macaxeira, aipim, entre outros, é uma planta nativa da América do Sul, cultivada desde a antiguidade. No entanto, atualmente está presente em muitas regiões do mundo. É a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, junto com o arroz e o milho, e é um dos principais alimentos básicos no mundo em desenvolvimento, estando presente na dieta básica de mais de meio bilhão de pessoas.

Espalhada para diversas partes do mundo, a Nigéria é hoje o maior produtor de mandioca.

Segundo a FAO, a mandioca é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores, além da Nigéria, a Tailândia, o Brasil, a Indonésia, Angola, Gana e a República Democrática do Congo, respectivamente.
A mandioca desempenha um papel vital na segurança alimentar das economias rurais dos países da África Subsaariana devido à sua resistência à seca, à baixa fertilidade do solo e às pragas.

Seu consumo só pode ocorrer após o cozimento, de maneira a reduzir ao mínimo o conteúdo de HCN (cianeto de hidrogênio). Como esse composto é muito volátil, a cocção (ou fritura) ocasiona sua evaporação. O conteúdo cianogênico na mandioca é altamente tóxico para humanos e pode causar problemas de saúde irreversíveis, mesmo em doses subletais, quando consumido por períodos prolongados.
A mandioca é uma planta que possui um valor nutricional significativo. As raízes, parte mais consumida da planta, apresentam grande quantidade de amido, sendo, portanto, ricas em carboidratos e uma excelente fonte de calorias.

100 g de mandioca contêm aproximadamente:

  • Calorias (Kcal) ……… 160
  • Proteínas (g) ………… 1,36
  • Lipídeos (g) …………. 0,28
  • Carboidratos (g) …….. 38,06
  • Fibras (g) ……………. 1,8
  • Cálcio (mg) ………… . 19
  • Vitamina C (mg) …….. 20,6

A raiz apresenta baixa quantidade de proteínas, mas possui vitaminas, como a vitamina C, e minerais, como cálcio, fósforo e ferro. As mandiocas que têm coloração amarelada contêm também beta-caroteno, um precursor da vitamina A. A mandioca é, ainda, rica em fibras e apresenta pouca gordura. Pode ser consumida cozida e/ou frita.

A farinha de mandioca é um dos componentes essenciais da dieta da população brasileira, notadamente nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, na forma de tapioca e polvilho.

Vale salientar que não é somente a raiz da mandioca que apresenta valor alimentício; as folhas são uma boa fonte de proteínas e ricas no aminoácido lisina. A folha moída da mandioca é utilizada, por exemplo, na fabricação de um prato típico da culinária paraense conhecido como “maniçoba”.
Além disso, a mandioca não é utilizada exclusivamente na alimentação. É uma fonte de produção de etanol, plásticos biodegradáveis, madeira compensada e cosméticos, e também é utilizada na indústria têxtil. Ademais, é usada para produção de ração animal.

Benefícios do Consumo de Mandioca

Além de seu conteúdo nutricional, a mandioca possui propriedades terapêuticas, sendo um importante alimento básico e utilizado na medicina tradicional.

  • Melhora a digestão. A mandioca cozida é uma fonte de amido resistente. Esse tipo de amido alimenta as bactérias benéficas da microbiota intestinal, o que gera uma série de benefícios: melhor funcionamento do intestino, redução de inflamações e fortalecimento do sistema imunológico.
  • Por conter potássio e fibras, a mandioca é benéfica para a saúde cardiovascular. O potássio regula os fluidos e ajuda a aliviar a tensão nos vasos sanguíneos e artérias.
  • Resultados de estudos atuais indicam que a mandioca possui diversas atividades farmacológicas, incluindo efeitos antibacterianos, anticancerígenos, antidiabéticos, antidiarreicos, anti-inflamatórios, hipocolesterolêmicos e de cicatrização de feridas.

Observação

Na África Subsaariana, a prevalência de diabetes mellitus está aumentando rapidamente, mesmo em populações com desnutrição significativa. O papel de culturas básicas ricas em carboidratos, como a mandioca, está sob questionamento e ainda não é bem compreendido. Em uma pesquisa recente, produtos populares à base de mandioca, como “fufu”*, uma pasta/massa espessa feita à base de milho, mandioca ou arroz, conforme a região, foram estudados quanto ao seu teor de amido resistente**, amido rapidamente digerível e índice glicêmico. O “fufu” apresentou a maior taxa de amido resistente. Os resultados dessa pesquisa sugerem que o “fufu”, quando consumido, libera glicose de forma mais lenta, podendo, portanto, ser mais adequado na dieta para a prevenção e tratamento da diabetes mellitus.

*Fufu é um alimento de origem africana que consiste em uma pasta/massa espessa feita à base de milho, mandioca ou arroz (conforme a região), acompanhada de um molho/caldo grosso que pode conter peixe, tomate, óleos e carne.

**O amido resistente escapa da digestão no intestino delgado de indivíduos saudáveis. Ocorre naturalmente nos alimentos. Alguns tipos de amido resistente são fermentados pela microbiota do intestino grosso, conferindo benefícios à saúde humana através da produção de ácidos graxos de cadeia curta, aumentando a população de bactérias benéficas. O amido resistente tem efeitos fisiológicos semelhantes aos da fibra dietética.

Curiosidades

A diversidade da mandioca brasileira foi caracterizada por meio de genética populacional, destacando grupos genéticos contrastantes.
A mandioca é uma importante cultura de raiz básica dos trópicos, originária da região amazônica. Em um estudo atual, 3.354 variedades locais de mandioca e linhas de melhoramento modernas do Banco de Germoplasma de Mandioca da Embrapa foram caracterizadas. Todos os indivíduos foram submetidos à genotipagem por sequenciamento, identificando 27.045 polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs).

As análises de identidade por estado e estrutura populacional revelaram um conjunto único de 1.536 indivíduos e 10 grupos genéticos distintos.
A estimativa de relações históricas entre populações identificadas sugere uma divisão populacional inicial da Amazônia para a Mata Atlântica e eco-regiões de Caatinga e fluxos gênicos ativos.

Este estudo fornece uma caracterização genética completa de recursos de germoplasma ex situ do centro de origem da mandioca, América do Sul, com resultados que lançam luz sobre as características da mandioca brasileira e sua paisagem biogeográfica.

Essas descobertas apoiam e facilitam o uso de recursos genéticos em programas de melhoramento modernos, incluindo a implementação de mapeamento de associação e estratégias de seleção genômica.

Referências Bibliográficas

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Links Consultados
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mandioca (acessado em 01/09/2024).
https://brasilescola.uol.com.br/saude/mandioca.htm (acessado em 01/09/20244).
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/08/16/mandioca-ajuda-na-digestao-conheca-9-beneficios-desse-alimento.htm (acessado em 01/09/2024).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fufu (acessado em 01/09/2024).

Beatriz Riverón

Beatriz Riverón é doutora em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Microrganismos, pelo ICB/USP.
Foi colaboradora do Instituto Butantan e professora adjunta da Universidade Mackenzie. Atualmente, está aposentada, escreve para revistas eletrônicas especializadas e é colaboradora regular do Blog do IFZ.