Debate Digital | 24/03/2025
A luta contra a pobreza e a desnutrição tem sido um eixo central das políticas públicas no México e no Brasil, países que desenvolveram estratégias inovadoras para garantir o acesso aos alimentos e fortalecer a autonomia econômica das comunidades rurais.
Na conferência magistral “Agricultura Familiar: Reflexões para o México a partir da experiência do Brasil”, organizada pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (Agricultura), o secretário Julio Berdegué Sacristán e o ex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar do Brasil, José Graziano da Silva, analisaram os impactos das políticas sociais voltadas para a erradicação da fome e o fortalecimento da agricultura familiar.
Modelo brasileiro do Programa Fome Zero: referência global
O programa Fome Zero, lançado pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, é amplamente reconhecido como um dos casos de sucesso mais significativos na luta contra a pobreza extrema. Durante seus dois primeiros mandatos, o programa retirou 28 milhões de pessoas da pobreza e reduziu a desnutrição em 25%.
José Graziano da Silva destacou que o sucesso desse modelo se baseou em quatro transformações fundamentais:
“O que queremos é tirar as pessoas da pobreza extrema e garantir um mínimo de sobrevivência para todos. O Brasil demonstrou que isso é possível com políticas bem planejadas e comprometidas com o bem-estar da população”, afirmou Graziano da Silva.
México aposta na Soberania Alimentar
O secretário Julio Berdegué Sacristán ressaltou que o México colocou os agricultores no centro de sua política agroalimentar, superando a visão assistencialista e consolidando-os como agentes essenciais da transformação do campo.
“Por mais de três décadas, disseram aos agricultores que eram inviáveis e que só seriam atendidos em sua condição de pobreza. Hoje, com o governo da Quarta Transformação, mudamos essa narrativa. Eles são protagonistas essenciais para garantir a soberania alimentar do país”, enfatizou Berdegué.
Nesse sentido, o México tem fortalecido sua política de apoio aos pequenos produtores por meio de programas como Sembrando Vida, Producción para el Bienestar, Fertilizantes para el Bienestar e Escuelas del Campo, que buscam aumentar a produtividade rural e reduzir a dependência alimentar do exterior.
Durante a conferência, especialistas destacaram que a produção agrícola em pequena escala desempenha um papel crucial na segurança alimentar da população em situação de vulnerabilidade.
O acadêmico Genaro Aguilar Gutiérrez, da Escola de Economia do Instituto Politécnico Nacional (IPN), explicou que a produção de alimentos básicos em hortas domésticas reduz a necessidade de compra de produtos essenciais no mercado, garantindo o acesso a uma alimentação equilibrada.
“Pessoas em situação de pobreza também consomem ovos, tomates, pimentas e outras hortaliças. Se puderem cultivá-los em casa, não apenas garantem sua alimentação, mas também geram uma economia significativa em seu orçamento doméstico”, destacou Aguilar.
Já o professor Armando Bartra Vergés, da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), considerou a experiência do Brasil um valioso ponto de referência para o México. Ele enfatizou que o desenvolvimento rural precisa ser acompanhado de políticas públicas integradas que promovam o bem-estar social.
Compromisso com o futuro do campo
O debate sobre a erradicação da fome e a redução da pobreza segue como prioridade para os governos do México e do Brasil. Com a implementação de programas de apoio ao meio rural e estratégias de segurança alimentar, ambos os países buscam consolidar modelos sustentáveis que beneficiem as comunidades rurais e fortaleçam sua autonomia econômica.
O encontro foi concluído com o compromisso de ampliar o intercâmbio de conhecimentos e experiências, visando construir um futuro com mais equidade e maior acesso aos alimentos.
Publicado originalmente pelo Debate Digital (México)
https://www.debate.com.mx/agro/Mexico-y-Brasil-comparten-estrategias-para-erradicar-el-hambre-y-fortalecer-el-campo-20250324-0191.html
