Novo Indicador do Governo Federal Mapeia Risco de Fome Grave em Municípios Brasileiros

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Blog do IFZ | 16/07/2025

Baixe aqui o relatório “CadInsan: Indicador de Risco de Insegurança Alimentar Municipal a partir dos Dados do CadÚnico

Em um movimento decisivo para aprimorar o combate à insegurança alimentar, o Governo Federal apresentou o CadInsan — um indicador inédito que estima o risco de fome grave entre famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Desenvolvido pela Secretaria Extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome (SECF/MDS), o CadInsan inaugura uma nova etapa no monitoramento da fome no Brasil, oferecendo aos gestores públicos uma ferramenta de precisão até então inexistente.

O CadInsan (Indicador de Risco de Insegurança Alimentar Grave Municipal) nasce da urgência de superar as limitações das pesquisas amostrais convencionais, como a Pnad Contínua do IBGE, que não conseguem retratar, com granularidade suficiente, as realidades locais. Enquanto os levantamentos tradicionais oferecem apenas recortes por estados e grandes regiões metropolitanas, o novo instrumento projeta o risco de fome grave em escala municipal — território por território, família por família.

O modelo estatístico que sustenta o CadInsan foi calibrado a partir da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), aplicada na Pnad Contínua de 2023. Com o uso de regressão logística multivariada, a equipe técnica identificou os principais fatores preditivos associados à insegurança alimentar, entre eles: renda per capita, sexo e raça da pessoa responsável pelo domicílio, presença de menores de 18 anos, tipo de área (urbana ou rural), setor de ocupação e localização geográfica.

A partir desses dados, o sistema calcula a probabilidade de cada família cadastrada estar exposta à insegurança alimentar grave. Famílias cuja estimativa de risco ultrapassa 80% são sinalizadas como prioritárias para ações emergenciais. Embora o CadInsan não tenha caráter censitário ou amostral — já que o CadÚnico é formado por meio de autodeclaração e demanda espontânea — ele oferece um retrato detalhado e metodologicamente robusto das vulnerabilidades mais agudas no país.

Um dos diferenciais centrais da iniciativa está na capacidade de alcançar territórios tradicionalmente invisibilizados pelos recortes amostrais, como comunidades indígenas, quilombolas e áreas rurais remotas. Dessa forma, o CadInsan rompe com o “apagão estatístico” que historicamente dificultou o planejamento territorializado das políticas públicas de segurança alimentar.

A publicação completa dos dados desagregados por município está prevista para breve, e deverá compor a base técnica do Plano Brasil Sem Fome, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. A expectativa é que o indicador funcione como um radar estratégico para o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), orientando decisões de alocação de recursos, definição de prioridades e avaliação de impacto das políticas públicas.

Com o lançamento do CadInsan, o governo federal reafirma seu compromisso com a erradicação da fome e introduz uma ferramenta de alta sofisticação técnica e sensibilidade social. Trata-se não apenas de um avanço estatístico, mas de um passo essencial para que nenhum território — e nenhuma família — fique para trás na luta contra a fome.

Relatório CadInsan 2025

O CadInsan é um indicador desenvolvido pela Secretaria Extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome (SECF/MDS) para prever o risco de insegurança alimentar grave entre as famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Seu propósito central é monitorar a magnitude e a incidência desse risco em nível municipal, fornecendo informações tempestivas para subsidiar a tomada de decisões no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).

Os dados oficiais sobre segurança alimentar no Brasil são apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia). Este método, amplamente consolidado e alinhado à realidade socioeconômica do país, mede a percepção das famílias sobre a situação de segurança alimentar em seus domicílios. A Ebia foi aplicada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), nos anos de 2004, 2009 e 2013, e na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), em 2017-2018. As aferições mais recentes ocorreram em 2023 e 2024 — este último ano com resultados ainda não divulgados —, fruto de uma parceria entre o IBGE e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), no âmbito do Plano Brasil Sem Fome (BSF). A articulação entre as duas instituições viabilizou a inclusão regular da Ebia na Pnad Contínua (PnadC), que tem sido realizada no quarto trimestre de cada ano, consolidando-se como o principal indicador de resultado do BSF.

As pesquisas domiciliares amostrais, entretanto, têm nível de desagregação limitado, gerando resultados válidos apenas para Unidades da Federação ou, com alguns limites estatísticos, para Regiões Metropolitanas. Essa condição inviabiliza diagnósticos sobre a situação da insegurança alimentar e nutricional nos municípios brasileiros.

O CadInsan utiliza os dados do CadÚnico justamente para preencher essa lacuna de informação. Entretanto, como o formulário do CadÚnico não contém perguntas específicas sobre insegurança alimentar que permitam a identificação direta das famílias em risco de insegurança alimentar e nutricional, foi necessário desenvolver uma estratégia preditiva. Para tanto, utilizou-se um modelo de regressão logística multivariada para estimar a probabilidade da ocorrência de insegurança alimentar grave em um determinado domicílio, em função da presença ou da ausência de características observáveis (fatores preditivos). Essas características foram identificadas a partir da PnadC 2023.

Esquematicamente, o processo de construção do CadInsan obedeceu à seguinte lógica: primeiramente, o modelo identificou as famílias em situação de insegurança alimentar grave na PnadC 2023, utilizando a escala da Ebia. Em seguida, analisou as características dessas famílias para determinar as variáveis mais associadas à insegurança alimentar grave — os fatores preditivos. O passo seguinte foi aplicar o modelo à base de dados do CadÚnico, com o objetivo de classificar o risco das famílias cadastradas a partir dos fatores preditivos. Em outras palavras, utilizando variáveis equivalentes entre uma base e outra, o modelo identificou as características semelhantes entre as famílias das duas bases de dados e calculou as razões de chance de insegurança alimentar grave das famílias cadastradas no CadÚnico. Feito isso, foi definido um limiar para classificação das famílias em situação de risco ou não risco (probabilidade de estar em situação de fome acima de 80%).

É importante advertir que a base do CadÚnico, embora tenha cobertura bastante abrangente da população de baixa renda, não tem caráter censitário nem tampouco amostral: a entrada e a atualização dos dados do CadÚnico se processam por via administrativa e por demanda. Por essa razão, deve-se ter em conta que as estimativas do número de famílias em risco de insegurança alimentar grave, para Brasil, região, estados e municípios, obtidas por meio do indicador, são referentes ao universo de famílias inscritas no CadÚnico para cada uma dessas unidades territoriais e não necessariamente guardam equivalência com os respectivos percentuais de insegurança alimentar grave levantados pela PnadC para tais unidades.