Blog do IFZ | 04/12/2025
Alimentos Ultraprocessados e Crianças: Revisão do Estado da Arte
A alimentação infantil está passando por uma transformação acelerada. Em todo o mundo, refeições tradicionais — baseadas em alimentos integrais e minimamente processados — vêm sendo substituídas por dietas dominadas pelos alimentos ultraprocessados (UPFs).
Esses produtos são formulados para maximizar lucros, e não para nutrir. Combinam açúcares, gorduras, sal e aditivos desenvolvidos para estimular vias de recompensa no cérebro e incentivar o consumo excessivo. Sua longa vida útil, baixos custos de produção e marketing agressivo fazem com que superem, no mercado, alimentos mais saudáveis e nutritivos.
Este relatório “Ultra-processed Foods and Children: State-of-the-art Review” apresenta uma síntese atualizada sobre alimentos ultraprocessados e infância, baseada na Lancet Series 2025 on Ultra-Processed Foods and Human Health. O objetivo é consolidar evidências que mostram como o aumento do consumo de UPFs compromete a nutrição, a saúde e o bem-estar das crianças.
Crianças cada vez mais expostas aos ultraprocessados
Os dados mostram que crianças e adolescentes estão sendo expostos aos UPFs cada vez mais cedo. Em muitos países de alta renda, mais da metade das calorias diárias consumidas por crianças provém desses produtos. Nos países de baixa e média renda, o consumo também cresce rapidamente, mesmo em contextos onde a subnutrição ainda é um problema significativo.
Efeitos do consumo de UPFs sobre a saúde infantil
As evidências científicas são consistentes: o consumo de ultraprocessados na infância está associado à baixa qualidade alimentar, ao sobrepeso, à obesidade e à cárie dentária. Estudos recentes também relacionam o consumo desses produtos a quadros de desnutrição, deficiências de micronutrientes, problemas de saúde mental, alterações metabólicas e maior risco de doenças crônicas ao longo da vida.
Custos econômicos e expansão corporativa
As consequências econômicas de dietas inadequadas são expressivas. Doenças relacionadas à alimentação impõem custos às famílias e pressionam os sistemas de saúde, além de gerar perdas de produtividade. Enquanto isso, a indústria dos UPFs obtém lucros elevados — que são reinvestidos na expansão de produtos, em estratégias de marketing e em ações de lobby para manter seu domínio no sistema alimentar.
Marketing dirigido às crianças
O marketing de ultraprocessados é sofisticado e altamente direcionado. Ele alcança crianças em escolas, ruas, ambientes esportivos e, sobretudo, em plataformas digitais. Essas estratégias normalizam o consumo diário de UPFs e exploram a limitada capacidade das crianças de reconhecer intenções persuasivas.
Tais práticas moldam sistemas alimentares e violam direitos fundamentais das crianças: à saúde, à alimentação adequada, à informação e à proteção contra exploração comercial. Proteger a infância de ambientes alimentares nocivos é um imperativo de saúde pública — e também uma obrigação ética e legal dos governos.
Políticas que funcionam
Há medidas comprovadamente eficazes para reduzir a compra e o consumo de ultraprocessados, como:
- rotulagem frontal clara e padronizada;
- restrições ao marketing dirigido a crianças;
- padrões nutricionais para a alimentação escolar;
- impostos sobre bebidas adoçadas.
Além disso, é fundamental implementar integralmente o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno e as resoluções subsequentes da Assembleia Mundial da Saúde, garantindo proteção e promoção da amamentação e da alimentação complementar adequada na primeira infância.
Essas ações precisam ser acompanhadas de políticas que fortaleçam a produção, a distribuição e o consumo de alimentos nutritivos, seguros, acessíveis e sustentáveis.
Um chamado à ação
Esta revisão evidencia a urgência de agir. Ela convoca governos, agências das Nações Unidas, instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil a enfrentar a expansão dos ultraprocessados por meio de políticas que protejam o ambiente alimentar das crianças e coloquem seus direitos acima dos interesses comerciais.
Baixe aqui o relatório “Ultra-processed Foods and Children: State-of-the-art Review“
