O pistache é delicioso e nutritivo

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Por Beatriz Riverón | 10/10/2024

Informação geral

Além de ser uma noz deliciosa, o pistache, devido às suas propriedades nutricionais saudáveis, pode ser considerado um importante alimento funcional.
De acordo com os resultados de vários estudos, foi demonstrado que os pistaches contêm vários grupos de fitoquímicos valiosos, com excelentes atividades biológicas.
O pistache (Pistacia vera L., família Anacardiaceae) é um importante fruto seco para uso culinário, originário das regiões da Ásia Ocidental, mas hoje é cultivado em diversos lugares do mundo, sendo o Irã o principal produtor.
As plantas são dióicas, com pés masculinos e femininos separados. As flores são apétalas e reúnem-se em inflorescências chamadas panículas (ou racemos). O fruto é uma drupa, composta por uma casca dura e esbranquiçada, que contém em seu interior a semente, que é a porção comestível.
Os pistaches costumam ser consumidos inteiros, torrados e salgados (como o amendoim) ou frescos. O sorvete de pistache, de cor verde, também é famoso.

Propriedades nutracêuticas do pistache

Sua riqueza em beta-caroteno e vitamina E parece estar diretamente relacionada ao relaxamento dos vasos sanguíneos. O selênio presente é outra substância de destaque na composição do pistache, pois favorece a espermatogênese.

Os pistaches são fonte de gorduras insaturadas, que ajudam a manter níveis saudáveis de colesterol no sangue. Eles reduzem os níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade) devido ao seu conteúdo de gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas. Dessa forma, reduz-se o risco de doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais. Além disso, as gorduras poli-insaturadas contêm ácidos graxos essenciais que o organismo necessita para o funcionamento do cérebro, ajudando a retardar o declínio cognitivo relacionado à idade.

Eles também contêm proteínas, carboidratos, vitaminas do complexo B, como B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), vitamina A e os minerais cálcio, magnésio, potássio e fósforo.

Os pistaches são menos calóricos que outros frutos secos, como as nozes.

Contêm compostos com propriedades antioxidantes. Sua cor roxa e verde se deve aos nutrientes luteína (relacionada ao beta-caroteno e à vitamina A) e antocianinas, substâncias fortemente antioxidantes, além de diversos grupos de fitoquímicos valiosos, como proantocianidinas, flavonóis, isoflavonas, flavanonas, estilbenos e ácidos fenólicos.

São uma excelente fonte de fibras, importantes para muitos aspectos da saúde, como o bom funcionamento do trato intestinal e a manutenção de um peso corporal saudável, pois proporcionam saciedade.

Eles ajudam com a insônia. O pistache contém melatonina, hormônio que regula o ciclo do sono.

São ativos contra a bactéria Helicobacter pylori, que coloniza o revestimento do estômago humano. Muitas úlceras pépticas, alguns tipos de gastrite e câncer de estômago resultam dessa infecção. A crescente multirresistência do Helicobacter pylori aos antibióticos convencionais se correlaciona com sua capacidade de formação de biofilme, tornando necessário buscar novas estratégias para melhorar a taxa de erradicação. A pesquisa de compostos naturais visa superar essa resistência, restaurando a eficácia dos medicamentos convencionais. A atividade antimicrobiana sinérgica da oleorresina de pistache com a levofloxacina (um antibiótico fluoroquinolona de terceira geração usado em infecções bacterianas) foi observada contra cepas resistentes, com um efeito anti-biofilme significativo.

Também foi determinada sua capacidade antimicrobiana e antivirulenta contra estreptococos orais (Streptococcus mutans), devido à inibição da atividade hemolítica e redução significativa da formação de biofilme. Esses achados sugerem seu potencial uso na higiene bucal e prevenção de cáries dentárias.

Os resultados sugerem que a casca madura do pistache pode ser considerada uma fonte promissora de agentes antioxidantes e clareadores de pele. Seus efeitos antioxidantes e inibitórios na biossíntese de melanina foram determinados por ensaios in vitro e in vivo. A análise cromatográfica revelou que a cianidina-3-O-galactosídeo é o principal composto. O extrato de casca de pistache inibe eficazmente a atividade mono e difenolase da tirosinase (*).

O pistache pode ser fonte de probióticos. O interesse na capacidade probiótica das leveduras aumentou nos últimos anos, assim como seu uso como conservante de alimentos ou rações. A capacidade do pistache no biocontrole de microrganismos problemáticos (degradação ou toxigênicos) tem sido avaliada com resultados positivos.

O potencial biotecnológico de leveduras presentes em nozes, como o pistache, foi estudado em aplicações para a saúde. Técnicas moleculares permitiram a identificação de diversas espécies de leveduras com potencial probiótico. Verificou-se que a maioria das cepas resiste às condições gastrointestinais, apresenta biocontrole e atividade antioxidante. As espécies mais relevantes encontradas foram Diutina rugosa, Hanseniaspora guilliermondii e Aureobasidium proteae.

O pistache tem propriedades curativas. A casca de pistache tem sido tradicionalmente utilizada no tratamento de úlcera péptica, hemorróidas, feridas orais e cutâneas. O potencial de cicatrização de feridas foi avaliado por meio da migração e proliferação de fibroblastos. Além disso, foi estudada a expressão gênica de alguns marcadores inflamatórios envolvidos no processo de cicatrização. O composto ativo demonstrou ser o ácido 3-epimasticadienólico. Essa substância aumenta significativamente a proliferação e migração de fibroblastos, resultando em uma redução de quase 50% da área da ferida.

Também apresenta forte efeito inibitório na expressão gênica de IL-6 (interleucina-6, importante mediador da resposta inflamatória) e de TNF-α (fator de necrose tumoral).

Protegem o sistema nervoso central. Os agentes neuroprotetores defendem o sistema nervoso central contra lesões neuronais agudas ou crônicas. Mesmo com os avanços alcançados nas últimas décadas, a maioria dos medicamentos prescritos para o tratamento de doenças neurodegenerativas consegue apenas reduzir seus sintomas e retardar sua progressão. De acordo com pesquisas sobre produtos naturais, existem plantas medicinais e fitoquímicos potencialmente eficazes na modulação das funções neuronais e na proteção contra a neurodegeneração, como Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, isquemia cerebral, depressão, ansiedade, distúrbios comportamentais, distúrbios da função motora, alterações de memória, toxicidade neural, isquemia cerebral e convulsões. Seus efeitos sobre biomarcadores antioxidantes e inflamatórios, agregação de β-amilóide e acetilcolinesterase, bem como investigações sobre algumas vias celulares, foram avaliados.

Produzem efeitos antidiabéticos. O efeito do consumo de pistache nos marcadores do metabolismo da glicose foi avaliado em pré-diabéticos e diabéticos tipo 2. Estudos relataram diminuição da glicemia em jejum e da insulinemia (presença de insulina no sangue). Os polifenóis e carotenoides presentes no pistache podem modular miRNAs específicos (RNAs mitocondriais), aumentando a sensibilidade à insulina por meio de vias de sinalização. Essa modulação pode ser usada como ferramenta para prevenção e tratamento de complicações relacionadas ao diabetes.

O óleo essencial de pistache possui propriedades anti-leishmania. A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida pela picada de insetos da subfamília dos flebotomíneos. Existem três tipos principais: cutâneo, mucocutâneo e visceral. O óleo essencial de Pistacia vera apresentou considerável eficácia in vitro e in vivo contra Leishmania tropical e major, em comparação ao medicamento de referência, o antimoniato de meglumina (Glucantime®). Os principais componentes responsáveis por esses efeitos foram o limoneno, o α-pineno e o α-tujeno (pertencentes à classe dos terpenos). Essas descobertas também forneceram evidências científicas de que plantas naturais poderiam ser usadas na medicina tradicional para a prevenção e tratamento da leishmaniose cutânea.

(*) A enzima tirosinase desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do câncer de pele, sendo utilizada como alvo molecular terapêutico. A tirosinase é uma enzima biológica responsável pela melanogênese, o processo de pigmentação da pele e proteção contra os raios UV solares. Contudo, alterações na atividade cinética dessa enzima podem causar distúrbios de pigmentação, como o melasma. A tirosinase também está envolvida na síntese de neurotransmissores importantes no sistema nervoso. Essa enzima é um marcador importante na modulação do câncer, sendo utilizada para diferenciar melanoma dos tumores não melanocíticos, bem como outros tipos de câncer, como o carcinoma basocelular.

Tabela nutricional do pistache

Pistache Tabela Nutricional

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Beatriz Riverón

Beatriz Riverón é doutora em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Microrganismos, pelo ICB/USP.
Foi colaboradora do Instituto Butantan e professora adjunta da Universidade Mackenzie. Atualmente, está aposentada, escreve para revistas eletrônicas especializadas e é colaboradora regular do Blog do IFZ.