Publicado originalmente na The Lancet, estudo recente faz previsões preocupantes sobre a epidemia de obesidade ao redor do mundo, alertando para um crescimento exponencial dos casos até 2050. Especialistas chamam atenção para os impactos na saúde pública e a necessidade de medidas urgentes.
Blog do IFZ | 05/03/2025
Baixe aqui o artigo “Forecasting the global obesity epidemic through 2050“
Nos últimos 30 anos, a prevalência do sobrepeso e da obesidade tem aumentado de maneira constante ao redor do mundo, e as projeções até 2050 revelam um cenário ainda mais crítico. Publicado pela renomada revista The Lancet, o estudo “Forecasting the global obesity epidemic through 2050” estima que o número de pessoas obesas praticamente dobrará em algumas regiões, tornando a obesidade uma das maiores crises de saúde pública do século XXI.
Os números da epidemia
A análise, parte do Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study (GBD), utilizou dados de mais de 180 países para traçar um panorama do crescimento da obesidade entre crianças, adolescentes e adultos entre 1990 e 2021, projetando suas tendências até 2050.
Em 2021, os dados apontavam para 93,1 milhões de crianças e jovens adolescentes (5 a 14 anos) e 80,6 milhões de adolescentes mais velhos (15 a 24 anos) vivendo com obesidade. No grupo adulto (≥25 anos), os números eram ainda mais alarmantes: 342 milhões de homens e 496 milhões de mulheres obesas.
Se as tendências atuais persistirem, a previsão para 2050 é drástica:
- 186 milhões de crianças e jovens adolescentes obesos;
- 175 milhões de adolescentes obesos;
- 838 milhões de homens obesos;
- 1,11 bilhão de mulheres obesas.
Os dados sugerem que, em algumas populações, a obesidade ultrapassará a prevalência do sobrepeso, reforçando a gravidade do problema.
Disparidades regionais e impacto global
Embora a tendência seja global, o estudo identifica diferenças significativas entre regiões. Em 2050, a maior prevalência de obesidade deve estar concentrada em países da Oceania, Norte da África e Oriente Médio. No entanto, as regiões que apresentarão os maiores aumentos percentuais de casos entre 2021 e 2050 são Ásia Oriental, Sul da Ásia e África Subsaariana Central.
O estudo também destaca que grupos socioeconômicos mais desfavorecidos tendem a apresentar uma maior prevalência da doença, tornando-se um desafio adicional para as políticas públicas de saúde.
Comorbidades e desafios para a saúde pública
O crescimento da obesidade está diretamente ligado ao aumento de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Esses problemas de saúde não só reduzem a qualidade e a expectativa de vida da população, mas também impõem um peso significativo aos sistemas de saúde pública, que precisarão lidar com um aumento da demanda por tratamentos e internações hospitalares.
O que pode ser feito?
O estudo enfatiza que soluções individuais, como tratamentos clínicos e medicamentos, são limitadas a pequenos segmentos da população com acesso a esses serviços. Dessa forma, a solução precisa ser estruturada em políticas públicas efetivas que incentivem mudanças no estilo de vida e nas condições socioeconômicas que favorecem o ganho de peso excessivo.
Medidas que têm sido discutidas incluem:
- Regulação da indústria alimentícia: tributação de bebidas açucaradas, restrição de publicidade de produtos ultraprocessados e promoção de dietas mais saudáveis;
- Incentivo à atividade física: criação de espaços urbanos mais acessíveis para práticas esportivas e transporte ativo;
- Educação alimentar nas escolas: inserir a temática da alimentação equilibrada no currículo escolar desde a infância;
- Apoio a grupos vulneráveis: iniciativas para garantir acesso a alimentos saudáveis e acessíveis a populações de baixa renda.
Os autores alertam que, apesar da complexidade do problema, a reversão da tendência é possível se medidas adequadas forem implementadas rapidamente e de maneira coordenada.
Um futuro incerto, mas não irreversível
Embora a previsão para 2050 seja preocupante, ela também funciona como um alerta para que governos e sociedades ajam antes que a crise se agrave ainda mais. A luta contra a obesidade requer uma abordagem multidisciplinar que envolva profissionais de saúde, formuladores de políticas, a indústria e a população em geral.
Se nada for feito, o mundo enfrentará uma epidemia que afetará bilhões de pessoas e sobrecarregará sistemas de saúde, agravando ainda mais as desigualdades sociais. Mas se as medidas certas forem adotadas agora, ainda há esperança para um futuro mais saudável.
Baixe aqui o artigo “Forecasting the global obesity epidemic through 2050“