Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição para a América Latina e o Caribe 2024

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Blog do IFZ | 28/01/2025

Governos e sociedades civis da América Latina e do Caribe têm agora em suas mãos um novo mapa para compreender o estado da segurança alimentar e nutricional na região. Lançado pela FAO e outras agências da ONU, o Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024 destaca avanços significativos, mas também revela desafios persistentes, especialmente em um contexto global de crescente vulnerabilidade climática.

Baixe aqui o relatório “Panorama regional de la seguridad alimentaria y la nutrición en América Latina y el Caribe 2024″, em Espanhol
Baixe aqui o relatório “Latin America and the Caribbean Regional Overview of Food Security and Nutrition 2024”, em Inglês

Redução da insegurança alimentar

O relatório traz um dado animador: a quantidade de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar na região diminuiu significativamente entre 2022 e 2023. Em números, isso significa uma queda de 207,3 milhões para 187,6 milhões de pessoas – um progresso de 19,7 milhões de pessoas. Comparado a 2021, a redução foi ainda maior, alcançando 37,3 milhões de pessoas. Esses avanços estão ligados a melhores indicadores econômicos em diversos países sul-americanos, redução de pobreza e desigualdade (mensurada pelo índice de Gini) e aumento no emprego e no salário mínimo.

Contrastes regionais

No entanto, há disparidades marcantes. Enquanto a fome permaneceu estável na América Central (5,8%) e caiu em partes da América do Sul, o Caribe apresentou o maior índice da região, com 17,2% da população em situação de fome. Esses dados expõem a vulnerabilidade estrutural de sistemas agroalimentares locais e a dependência de importações em algumas áreas.

A vulnerabilidade climática como fator central

O relatório enfatiza que 74% dos países da região estão altamente expostos a eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e enchentes. Além disso, mais da metade (52%) enfrenta uma alta probabilidade de subalimentação devido ao impacto desses eventos na produção agrícola e na cadeia de importação de alimentos.

“Embora possamos comemorar os avanços, é impossível dissociar a luta contra a fome da necessidade de sistemas agroalimentares mais resilientes”, afirmou Mario Lubetkin, subdiretor-geral da FAO para a América Latina e Caribe, durante a apresentação do relatório.

Eventos climáticos extremos não apenas reduzem a disponibilidade de alimentos, como também aumentam os custos – tornando alimentos saudáveis menos acessíveis. Paradoxalmente, a região, que é uma das maiores produtoras de alimentos do mundo, enfrenta desafios tanto de desnutrição quanto de obesidade e excesso de peso, muitas vezes vinculados ao consumo de alimentos ultraprocessados, que são mais baratos e amplamente acessíveis.

Impactos em populações vulneráveis

O impacto da insegurança alimentar é sentido de forma desproporcional por mulheres, crianças e populações rurais. O documento alerta para o estancamento na redução do atraso no crescimento infantil desde a pandemia de COVID-19, bem como para o aumento do sobrepeso e obesidade infantil. Mulheres e comunidades indígenas também aparecem como grupos mais vulneráveis, enfrentando maiores dificuldades de acesso a dietas saudáveis e seguras.

Propostas e caminhos para o futuro

Para mitigar esses desafios, o relatório recomenda:

  1. Fortalecimento da cooperação regional: Implementar o Plano para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) 2030.
  2. Ações climáticas: Desenvolver sistemas agroalimentares resilientes que possam enfrentar a variabilidade climática.
  3. Fomento à sustentabilidade: Promover a produção e o consumo de alimentos locais e saudáveis, reduzindo a dependência de importações e incentivando a transição para dietas menos dependentes de ultraprocessados.
  4. Taxação de ultraprocessados: Políticas fiscais para desestimular o consumo de alimentos que contribuem para doenças crônicas.

O Panorama também reforça a importância de alianças com a sociedade civil, setor privado e academia para implementar medidas que ajudem a reduzir os impactos dos riscos climáticos e avancem no cumprimento do ODS 2 (Fome Zero).

Uma região em busca de soluções duradouras

A edição 2024 do Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição deixa claro que, apesar dos avanços, a região ainda enfrenta desafios complexos e interconectados. Com a fome e a malnutrição ainda acima dos níveis pré-pandemia e a intensificação dos eventos climáticos extremos, é essencial que os países reforcem suas estratégias para garantir um futuro mais justo, saudável e sustentável para todos.

Sobre o relatório

O que é o Panorama

O Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição é uma publicação que apresenta uma atualização sobre a situação da segurança alimentar e da nutrição na América Latina e no Caribe.

O relatório é fruto de um trabalho conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas(WFP, na sigla em inglês).

Fome e insegurança alimentar diminuem pelo segundo ano consecutivo

O Panorama 2024 informa que a América Latina e o Caribe registraram uma redução na prevalência de fome e insegurança alimentar, sendo a única região no mundo com essa tendência. A prevalência de subalimentação caiu de 6,6% em 2022 para 6,2% em 2023, mantendo a queda observada entre 2021 e 2022. Isso significa que 2,9 milhões de pessoas deixaram de sofrer com a fome na região em comparação ao ano anterior.

Da mesma forma, a prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave diminuiu de 31,4% em 2022 para 28,2% em 2023, o que representa 19,7 milhões de pessoas a menos sofrendo com insegurança alimentar. A melhoria nos números foi impulsionada pela sub-região da América do Sul. No entanto, os números do Caribe continuam preocupantes.

Custo e acesso a dietas saudáveis

A região ainda apresenta o custo mais elevado para uma dieta saudável em comparação a outras partes do mundo, chegando a 4,56 dólares PPC por pessoa ao dia, enquanto a média global é de 3,96 dólares PPC. Como consequência, 182,9 milhões de pessoas na região não conseguem acessar esse tipo de dieta.

Em 2022, 27,7% da população regional não teve acesso a uma dieta saudável. No Caribe, 50% da população foi impactada pelo alto custo; em Mesoamérica, a taxa foi de 26,3%, e na América do Sul, 26%.