Maria Cristina Teixeira Braga Messias, Marisa Alice Singulano, Raquel Lessa Alves, Amanda Leão Cardoso e Francieli Pianzola Pereira de Aguiar | 29/11/2024
A agricultura familiar baseada em princípios agroecológicos tem emergido como uma solução viável para atender aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em áreas fortemente impactadas pela mineração, como o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais. Um estudo recente focado no município de Mariana revelou como essa prática pode promover a sustentabilidade e a diversificação econômica em uma região marcada por desastres ambientais e dependência mineradora.
Este artigo aborda o potencial da agricultura familiar no cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Com base em dados do Censo Agropecuário para o município de Mariana, na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, foi desenvolvido um modelo analítico para avaliar o alcance de metas de sustentabilidade por meio de indicadores relacionados às características da produção e dos agricultores familiares. O estudo fundamenta-se nos conceitos de economia circular e sustentabilidade, buscando contribuir para o debate sobre a necessidade de superar o modelo de desenvolvimento extrativista e predatório representado pela mineração. Os resultados destacam o potencial da agricultura familiar de base agroecológica para alcançar metas de sustentabilidade e identificam desafios que precisam ser superados, por meio de políticas públicas e organização social, para promover um novo modelo de desenvolvimento em regiões mineradoras.
O cenário atual no Quadrilátero Ferrífero
O Quadrilátero Ferrífero é uma das regiões mais importantes para a mineração no Brasil, com uma história que remonta ao período colonial. Atualmente, a mineração representa mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) em vários municípios da região, incluindo Mariana. No entanto, os impactos ambientais e sociais são significativos, com episódios como o rompimento de barragens em 2015 e 2019, que resultaram em perdas humanas, degradação ambiental e crises econômicas.
Embora a mineração predomine, a agricultura familiar tem resistido como uma atividade histórica na região. Porém, devido à prioridade dada à mineração, ela foi frequentemente relegada a um papel secundário na economia local.
Agricultura Familiar e Sustentabilidade
A pesquisa analisou dados do Censo Agropecuário para medir o impacto da agricultura familiar em metas como o combate à fome (ODS 2), a proteção de recursos hídricos (ODS 6) e a promoção do trabalho digno (ODS 8). Os resultados mostraram que a prática de princípios agroecológicos oferece benefícios significativos, incluindo:
- Recuperação de áreas degradadas.
- Uso eficiente de recursos naturais.
- Geração de renda e oportunidades de emprego, especialmente para jovens e mulheres.
Apesar dos benefícios, desafios como acesso limitado à educação, desigualdade de gênero e baixos investimentos ainda precisam ser enfrentados para maximizar o impacto positivo da agricultura familiar.
Uma nova perspectiva de desenvolvimento
O estudo utilizou o modelo de “economia circular” ou “economia donut”, proposto pela economista Kate Raworth, para avaliar a sustentabilidade local. Esse modelo prioriza o bem-estar humano dentro dos limites ecológicos do planeta, oferecendo uma alternativa ao enfoque tradicional no PIB. Em Mariana, foram identificados avanços alinhados a indicadores como alimentação, saúde, habitação e igualdade de gênero, todos presentes na agricultura familiar de base agroecológica.
Esse modelo sugere que é possível substituir a mineração predatória por uma economia regenerativa e distributiva, com foco em equidade e sustentabilidade.
Conclusão
A agricultura familiar, mais do que uma alternativa econômica, é uma oportunidade para redesenhar o desenvolvimento regional, integrando aspectos sociais, econômicos e ambientais. Para que esse potencial seja plenamente realizado, é essencial o engajamento de políticas públicas, incentivos financeiros e uma maior valorização da agricultura familiar como uma ferramenta para transformação social.
O Quadrilátero Ferrífero deve ser tomado com um exemplo de transição para economias mais justas e sustentáveis, desde que haja um compromisso coletivo em priorizar soluções que promovam o bem-estar das comunidades e respeitem os limites do planeta.
Maria Cristina Teixeira Braga Messias ORCiD: https://orcid.org/0000-0003-0300-9038
Marisa Alice Singulano ORCiD: https://orcid.org/0000-0002-9188-1661
Raquel Lessa Alves ORCiD: https://orcid.org/0000-0002-7770-719X
Amanda Leão Cardoso ORCiD: https://orcid.org/0000-0002-8146-6851
Francieli Pianzola Pereira de Aguiar ORCiD: https://orcid.org/0000-0001-7395-9384
Publicado no Scielo Brasil
https://www.scielo.br/j/asoc/a/XrBHNxkPrkNnRHWMBTfWcqk/?lang=pt