Novos dados revelam que metade da população, ou cerca de 1,1 milhão de pessoas, está enfrentando uma insegurança alimentar catastrófica
Blog do IFZ | 21/03/2024
FAO ROMA | A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) está alarmada com a rápida deterioração da crise de fome na Faixa de Gaza, onde a fome generalizada é prevista para ocorrer a qualquer momento, entre hoje e maio de 2024, nas províncias do norte, de acordo com um novo relatório publicado hoje pela iniciativa global Integrated Food Security Phase Classification (IPC). O restante da Faixa de Gaza também corre o risco de fome generalizada no futuro breve, na pior das hipóteses, caso as hostilidades não cessem e a assistência humanitária em larga escala não chegue aos mais necessitados.
Os novos dados divulgados hoje indicam que toda a população da Faixa de Gaza está enfrentando altos níveis de insegurança alimentar aguda, classificada nas Fases 3 (Crise), 4 (Emergência) ou 5 (Catástrofe) do IPC. Isso inclui metade da população, ou seja, cerca de 1,11 milhão de pessoas, que enfrenta insegurança alimentar catastrófica (IPC Fase 5). Em comparação com a análise anterior do IPC emitida em dezembro de 2023, a insegurança alimentar aguda na Faixa de Gaza se aprofundou e se ampliou, com 79% e 92% mais pessoas passando por níveis catastróficos de fome no período atual (meados de fevereiro a meados de março) e no período projetado (meados de março a julho), respectivamente.
“Essa análise atualizada do IPC confirma o que todos nós temíamos: uma deterioração rápida e profunda da situação da segurança alimentar em Gaza. Metade da população está enfrentando níveis catastróficos de insegurança alimentar”, disse Beth Bechdol, diretora-geral adjunta da FAO. “Isso atinge o nível mais alto já registrado, diferente de tudo o que já vimos antes. Em dezembro, o relatório anterior do IPC indicou que a fome era provável. Se não forem tomadas medidas para cessar as hostilidades e fornecer mais acesso humanitário, a fome é iminente. Ela já pode estar ocorrendo. É necessário acesso imediato para facilitar a entrega de assistência urgente e crítica em escala.”
De acordo com os dados mais recentes do IPC, praticamente todas as famílias estão pulando refeições todos os dias e os adultos estão reduzindo suas refeições para que as crianças possam comer. Nas províncias do norte, em quase dois terços dos lares, as pessoas passaram dias e noites inteiros sem comer pelo menos 10 vezes nos últimos 30 dias. Dados recentes mostram que, nas províncias do norte, uma em cada três crianças com menos de dois anos de idade está gravemente desnutrida.
A FAO tem solicitado repetidamente medidas urgentes para salvar a população de Gaza. Em novembro, o diretor-geral QU Dongyu pediu um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza para aliviar o sofrimento dos civis e facilitar a entrega de assistência urgente. Em março, Qu reiterou as preocupações alarmantes da FAO em uma declaração feita durante um evento organizado pelo governo italiano: “A paz é um pré-requisito para a segurança alimentar e o direito à alimentação é um direito humano básico”.
A escalada das hostilidades interrompeu o fornecimento de água, alimentos e combustível, causando o colapso de todos os setores relacionados a alimentos, incluindo a produção de vegetais, a produção de gado, a pesca e a aquicultura.
Cerca de 60% a 70% dos animais que produzem carne e laticínios em Gaza foram mortos ou prematuramente abatidos para atender às terríveis necessidades alimentares decorrentes do conflito.
A FAO está profundamente preocupada com as perdas significativas de gado, que é indispensável para a subsistência e a sobrevivência das famílias em Gaza. Fornecer ração animal não é apenas uma forma de sustentar os meios de subsistência rurais ou um ativo econômico para as famílias envolvidas: manter os animais de uma família vivos e produtivos dá a eles uma fonte disponível de proteína, nutrição e leite – especialmente essencial para as crianças.
“Como FAO, é vital que nos concentremos em tudo o que diz respeito a manter o gado vivo, o que significa garantir o acesso ao leite, especialmente para crianças desnutridas ou em risco de desnutrição. Além disso, as pessoas precisam ter acesso a alimentos e vegetais nutritivos”, disse o diretor da FAO para Emergências e Resiliência, Rein Paulsen.
A FAO tem se mobilizado para fornecer suprimentos agrícolas essenciais para Gaza assim que as condições permitirem. A prioridade inicial da Organização tem sido transportar ração animal, especificamente 1.500 toneladas de cevada, através de uma ou duas das passagens de fronteira abertas restantes onde a distribuição de alimentos está ocorrendo. As 1.500 toneladas de cevada que a FAO espera entregar devem ser suficientes para fornecer leite a todas as crianças com menos de 10 anos de idade em Gaza, fornecendo cerca de 20% da necessidade diária mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde em termos de ingestão calórica.
Além disso, a FAO está mobilizando outros suprimentos agrícolas vitais, como tanques de água, kits veterinários e combustível para Gaza, assim que o acesso for disponibilizado, para proteger o gado e sustentar os meios de subsistência.
Tradução: Blog do IFZ
